window.dataLayer = window.dataLayer || []; window.dataLayer.push({ 'event': 'author_view', 'author': 'Luis Mauro Filho', 'page_url': '/sul-global/china-costura-novo-triangulo-de-poder-com-asean-e-paises-do-golfo-para-redesenhar-a-ordem-global' });
TV 247 logo
      HOME > Sul Global

      China costura novo triângulo de poder com ASEAN e países do Golfo para redesenhar a ordem global

      Cúpula histórica em Kuala Lumpur marca aliança entre China, sudeste asiático e mundo árabe, com foco econômico e crítica ao modelo ocidental

      O presidente chinês Xi Jinping e o ministro das Relações Exteriores Wang Yi participam de uma reunião com o presidente da Assembleia Nacional do Vietnã, Tran Thanh Man (não mostrado na foto), durante uma visita de Estado de dois dias, em Hanói, Vietnã, em 14 de abril de 2025 (Foto: REUTERS/Athit Perawongmetha)
      Luis Mauro Filho avatar
      Conteúdo postado por:

      247 - Uma articulação diplomática inédita, com potencial de redesenhar o equilíbrio geopolítico da Ásia e do Oriente Médio, ganhou forma na última semana de maio, com a realização da primeira cúpula trilateral entre China, Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e o Conselho de Cooperação do Golfo (GCC). A reportagem é do portal RT.

       A reunião ocorreu em Kuala Lumpur, capital da Malásia, país que ocupa atualmente a presidência rotativa da ASEAN e cujo primeiro-ministro, Anwar Ibrahim, tem sido um defensor ativo da integração regional e de novas parcerias globais.

      Embora a aproximação entre esses blocos já estivesse em curso há anos, a formalização de um mecanismo trilateral de cooperação representa uma novidade estratégica. O encontro acontece num momento em que a Ásia é cada vez mais disputada por grandes potências. Em abril, o presidente chinês Xi Jinping esteve em missão diplomática por Camboja, Malásia e Vietnã, reforçando o peso de Pequim no sudeste asiático. 

      Quase simultaneamente, um emissário do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump — que assumiu seu segundo mandato em 2025 — percorreu Camboja e Vietnã, buscando reverter o desgaste causado pelas tarifas norte-americanas e reafirmar o discurso de uma “região Indo-Pacífico livre e aberta”.

      Paralelamente, Trump visitou três países do Golfo, firmando novos acordos e atacando a política tradicional dos EUA de intervenção na região. O presidente da França, Emmanuel Macron, também se inseriu na disputa, visitando Indonésia, Singapura e Vietnã para demonstrar que a União Europeia ainda é um ator relevante e capaz de oferecer alternativas a Washington e Pequim.

      A escolha da Malásia como sede da cúpula não foi aleatória. Antes do evento, os países da ASEAN aprovaram em Kuala Lumpur o plano “ASEAN 2045”, uma visão estratégica de longo prazo que busca posicionar o sudeste asiático como um polo de crescimento global. A aproximação com China e GCC — que inclui Bahrein, Kuwait, Omã, Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos — faz parte desse esforço. Juntos, os três blocos representam cerca de um quarto da população mundial e contribuem com proporção semelhante ao PIB global.

      Comércio e energia formam a espinha dorsal da aliança. A China é hoje o principal parceiro comercial tanto da ASEAN quanto do GCC, sendo que mais de um terço do petróleo consumido por Pequim vem dos países do Golfo. O sudeste asiático, por sua vez, já superou a União Europeia como maior parceiro econômico da China. 

      A proposta chinesa de ampliar a atual Área de Livre Comércio China-ASEAN para incluir o GCC foi recebida com entusiasmo e pode acelerar a integração ao Acordo de Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP), maior zona de livre comércio do planeta.

      Durante o encontro, o premiê chinês Li Qiang defendeu o que chamou de “grande triângulo” de prosperidade e segurança globais, com base em valores asiáticos como abertura, cooperação e integração. Anwar Ibrahim, por sua vez, propôs um diálogo entre civilizações confucianas e islâmicas, alinhando-se à Iniciativa de Civilização Global promovida por Pequim.

      A aposta em “valores asiáticos” tem sido central na narrativa externa da China, em contraste com o modelo ocidental centrado em normas e intervenções. Em abril, Xi Jinping promoveu uma rara conferência de alto nível sobre as relações com a “vizinhança próxima”, reforçando a prioridade dada aos países ao redor da China no seu projeto de segurança e desenvolvimento.

      Mesmo assim, o novo eixo enfrenta desafios importantes. As tensões no Mar do Sul da China, envolvendo disputas territoriais com Brunei, Malásia, Filipinas e Vietnã, continuam sendo um ponto de atrito entre Pequim e seus vizinhos do sudeste asiático. Além disso, há receios de dependência econômica, armadilhas da dívida e influência política chinesa. Tais preocupações levaram líderes como o presidente filipino Ferdinand Marcos Jr. a se reaproximar dos EUA.

      No Oriente Médio, a disputa sino-americana também gera dilemas. Países historicamente alinhados com Washington, como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, tentam equilibrar interesses econômicos com a China e pressões estratégicas dos EUA — especialmente em áreas sensíveis como inteligência artificial e tecnologia 5G. O governo Trump se opõe à adoção desses sistemas chineses e já suspendeu acordos militares com Abu Dhabi em retaliação. A discussão sobre a realização de parte do comércio de petróleo em yuan também provocou reações negativas por parte do Ocidente.

      Apesar dos entraves, a nova aliança trilateral se destaca como uma resposta pragmática ao mundo multipolar em formação, onde a cooperação Sul-Sul ganha fôlego. A estratégia não implica, necessariamente, uma substituição do hegemon norte-americano por um chinês, mas sim a tentativa dos países do Golfo e do sudeste asiático de diversificarem suas parcerias e reduzirem vulnerabilidades.

      A ofensiva tarifária promovida por Trump em seu primeiro mandato serviu de alerta para vários desses países, demonstrando os riscos da dependência dos EUA. Ainda assim, os sinais atuais indicam que a pressão de Washington para que governos regionais cortem laços com Pequim tem perdido eficácia.

      Resta saber se a ASEAN será capaz de se equilibrar entre as potências, atuando como um polo autônomo no sistema global; se os países envolvidos evitarão a formação de blocos militares na Ásia-Pacífico; e se o formato trilateral resistirá às crescentes tensões geopolíticas. São perguntas em aberto — e as respostas virão com o tempo.

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].

      ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

      Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

      Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

      Cortes 247

      Relacionados

      Carregando anúncios...
      Carregando anúncios...