Trump substitui site oficial da Covid por manifesto em defesa da teoria do "vazamento de laboratório"

247 – A istração de Donald Trump substituiu o site oficial Covid.gov – que antes fornecia informações sobre testes gratuitos, vacinas, tratamentos e efeitos prolongados da Covid-19 – por um manifesto político centrado na teoria do “vazamento de laboratório” como origem do coronavírus. A informação foi divulgada pelo jornal britânico The Guardian.

O novo conteúdo do site apresenta ataques contundentes ao Dr. Anthony Fauci, que coordenou a resposta nacional à pandemia sob os governos Trump e Biden, bem como à Organização Mundial da Saúde (OMS) e ao governo do estado de Nova York. “Esta istração prioriza a transparência acima de tudo”, afirmou um integrante sênior da Casa Branca, citado pela Fox News. “O povo americano merece saber a verdade sobre a pandemia de Covid e sempre encontraremos formas de levar essa mensagem às comunidades.”

Conflito político e científico

A origem do vírus SARS-CoV-2 segue sendo tema de intenso debate desde que a pandemia teve início em Wuhan, na China, no início de 2020. O debate gira em torno de duas possibilidades: uma falha acidental no Instituto de Virologia de Wuhan, que estudava coronavírus com financiamento parcial do governo dos Estados Unidos, via Instituto Nacional de Saúde (NIH), ou um evento natural de transbordamento (spillover) ocorrido em um mercado da cidade, onde se vendiam animais vivos.

Embora nenhuma conclusão definitiva tenha sido alcançada, cientistas afirmaram, em artigo publicado em agosto de 2024 na Journal of Virology, que “ainda que permaneçam abertos a todas as possibilidades, o peso das evidências favorece um evento de spillover”. Eventos semelhantes foram associados à pandemia de Sars-CoV-1, em 2003, e à gripe espanhola de 1918, possivelmente iniciada no meio-oeste americano por meio do contato entre humanos e porcos.

Ofensiva contra instituições científicas

O novo site da Casa Branca afirma que “os procedimentos do NIH para financiamento e supervisão de pesquisas potencialmente perigosas são deficientes, pouco confiáveis e representam uma ameaça grave à saúde pública e à segurança nacional”. Além disso, acusa o órgão de promover um ambiente propício à evasão de leis federais sobre registro e transparência documental.

A ofensiva também inclui ataques à tecnologia de RNA mensageiro, fundamental para o desenvolvimento acelerado das vacinas contra a Covid-19 ainda durante o primeiro governo Trump. Apesar de seu sucesso, essa tecnologia ou a ser alvo de ceticismo por figuras agora alçadas a cargos de destaque na atual istração.

Entre os nomes mais controversos está o novo secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., conhecido por suas posições antivacina, e o médico Jay Bhattacharya, crítico ferrenho das medidas sanitárias iniciais da pandemia e atual diretor do NIH.

Perseguição política e legado de Fauci

Preocupado com possíveis retaliações, o presidente Joe Biden concedeu um indulto preventivo a Anthony Fauci, temendo que ele fosse alvo de perseguição sob o novo governo. O gesto evidencia o grau de polarização em torno da pandemia e a crescente politização da ciência nos Estados Unidos.

A substituição de um site voltado ao serviço público por uma plataforma de viés ideológico reforça a guinada da Casa Branca rumo à revisão das narrativas oficiais sobre a pandemia, com possíveis impactos negativos na confiança da população e na atuação das instituições científicas. Em vez de priorizar a informação e a saúde pública, o governo Trump parece decidido a transformar a pandemia em arma política.