Jovens da América Latina veem políticos como "influenciadores" de redes sociais, mostra estudo

247 - Os políticos estão assumindo um papel cada vez mais próximo ao de influenciadores digitais entre os jovens latino-americanos, especialmente aqueles que se destacam nas redes sociais. Essa percepção, segundo um estudo realizado pelo InternetLab e divulgado pela Folha de S. Paulo, pode moldar expectativas sobre como os políticos devem agir e responder às demandas da sociedade, influenciando a forma como os jovens encaram o tempo e as dinâmicas da política.  

A pesquisa, que envolveu mais de 350 jovens de 16 a 24 anos do Brasil, Argentina, Chile, Colômbia e México, foi realizada em três etapas ao longo de 2023 e 2024. Além dos questionários iniciais, foram realizados grupos focais e entrevistas com influenciadores e especialistas da indústria digital. O levantamento mapeou influenciadores políticos que utilizam estratégias típicas das redes sociais, como memes, lives e até danças no TikTok, para engajar seu público.  

Direita domina preferências no Brasil, Chile e Argentina - Enquanto nomes da direita, como Jair Bolsonaro (PL), Nikolas Ferreira (PL-MG) e Javier Milei, lideram entre os jovens no Brasil, Chile e Argentina, políticos progressistas, como Gabriel Boric (Chile) e Claudia Sheinbaum (México), são mais citados na Colômbia e no México. No caso brasileiro, Bolsonaro e Nikolas Ferreira aparecem como os únicos políticos citados espontaneamente entre os 85 influenciadores mais seguidos pelos jovens.  

Embora Lula (PT) seja mencionado em perguntas fechadas por 42% dos entrevistados, ele não aparece entre os citados espontaneamente, indicando que sua presença nas redes sociais pode ser percebida de forma distinta, sem o apelo de um "influenciador".  

Segundo Ester Borges, coordenadora do InternetLab, "políticos que acabam mais populares entre os jovens são aqueles que oferecem respostas aos anseios de um público que está pessimista em relação à política e à economia". 

O impacto da mídia social na percepção política - A pesquisa destaca que políticos como o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, são irados por sua capacidade de se conectar diretamente com a população por meio das redes sociais, dispensando os grandes meios de comunicação. Para muitos jovens, Bukele simboliza uma liderança "moderna, jovem e autêntica".  

Contudo, o Brasil enfrenta um cenário de "fadiga política", especialmente entre jovens desiludidos com a polarização. Quase 40% dos entrevistados no país afirmaram preferir evitar discussões políticas nas redes, enquanto outros 29% acreditam que esses debates ajudam a formar opiniões.  

O desafio da autenticidade e da imediatidade - O estudo também aponta para uma tensão entre a dinâmica das redes e a natureza da política. Para os jovens, a coerência comportamental dos influenciadores é essencial, sendo associada à autenticidade. Mudanças de posicionamento político podem ser vistas como manipulação, o que dificulta a compreensão de negociações que são parte intrínseca do cenário político.  

Comparar políticos a influenciadores pode trazer implicações, como a busca por uma política cada vez mais "imediatista", alerta Borges. Isso reflete uma possível desconexão entre o tempo acelerado das redes sociais e os processos mais complexos da política tradicional.    

O estudo conclui que, embora a "política moderna" representada por influenciadores atraia os jovens, ela também carrega desafios relacionados à compreensão das nuances e complexidades do jogo político. Ao buscar soluções rápidas e imediatas, a geração jovem pode reforçar expectativas desalinhadas com a realidade da política tradicional.