Como o Brasil poderá ser impactado com as tarifas de Trump em 2025
Em abril de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de uma tarifa universal de 10% sobre todas as importações.
Adicionalmente, as tarifas de Trump ainda mais elevadas foram direcionadas a países com grandes superávits comerciais frente aos EUA, como China (145%), União Europeia (20%, mas pausada temporariamente em 10 de abril, agora enfrentando apenas a tarifa de 10%), Japão e Taiwan (impactados pela tarifa universal de 10% após a pausa de 90 dias nas tarifas recíprocas em 10 de abril).
O Brasil, por sua vez, foi incluído apenas na tarifa básica de 10%, escapando das sobretaxas mais severas. Isso não significa que os efeitos sobre a economia brasileira sejam nulos, mas coloca o país numa posição privilegiada em relação a outros mercados emergentes — particularmente os asiáticos. O momento exige atenção redobrada de investidores e analistas, inclusive daqueles com exposição no mercado de ações, pois os reflexos da guerra comercial tendem a se espalhar por diversos ativos.
A avaliação da equipe macroeconômica do BTG Pactual considera o Brasil um “vencedor relativo” nesse novo capítulo da guerra comercial. O termo, entretanto, exige contexto: trata-se de uma vantagem comparativa em meio a um cenário que, por natureza, é hostil ao comércio internacional e afeta cadeias produtivas, expectativas de crescimento e decisões de investimentos em toda a região.
Exportações brasileiras sentirão o impacto, mesmo em ritmo desigual
Com as novas tarifas de Trump, todos os produtos exportados pelo Brasil aos Estados Unidos am a ter um acréscimo de 10%, exceto nos casos em que já se aplicam tarifas específicas, como ocorre com o aço e o alumínio, que permanecem sujeitos à tarifa de 25%. Isso afeta diretamente setores como o de produtos semiacabados de ferro e aço — cuja dependência do mercado americano é alta, com mais de 70% das exportações destinadas aos EUA — além dos segmentos de aeronaves, materiais de construção, e madeira.
A Embraer, por exemplo, pode enfrentar dificuldades adicionais, especialmente na linha de jatos executivos Praetor, fabricada no Brasil e exportada com forte peso para o mercado norte-americano.
O impacto, no entanto, varia de acordo com a elasticidade dos preços e a possibilidade de ree dos custos ao consumidor final nos EUA. Em alguns setores, a escassez doméstica no mercado americano poderá permitir o reajuste de preços sem perda de competitividade. Para investidores atentos, esse movimento pode gerar distorções relevantes no desempenho de setores listados no mercado de ações, inclusive com ajustes de expectativas sobre margens e lucros.
Em outros, a pressão por margens será maior. No entanto, em 10 de abril, Trump pausou as tarifas recíprocas (acima de 10%) por 90 dias para todos os países, exceto a China, o que pode temporariamente reduzir a vantagem competitiva do Brasil em relação a outros mercados, como a União Europeia.
Janelas de oportunidade surgem em meio à reconfiguração comercial global
Apesar dos desafios impostos pelas tarifas de Trump, o Brasil também poderá ser beneficiado pelo novo desenho dos fluxos comerciais. A tarifa de 145% sobre a China pode abrir espaço para que exportadores brasileiros conquistem fatias de mercado anteriormente ocupadas por seus concorrentes diretos. No entanto, a pausa de 90 dias nas tarifas recíprocas para outros países (exceto China), anunciada em 10 de abril, reduz temporariamente a vantagem do Brasil em relação à União Europeia, que agora enfrenta apenas a tarifa de 10%.
O setor de carnes, por exemplo, já se movimenta para aumentar a presença nos Estados Unidos, aproveitando a menor competitividade da carne suína e bovina europeia e asiática. O mesmo se aplica a grãos, como soja e milho, além de produtos como café e etanol. Esse redesenho abre brechas também para investimentos estratégicos, com potencial de expansão em áreas onde o Brasil tem vocação e competitividade internacional.
Ainda que os EUA não sejam destino principal para as exportações brasileiras de commodities agrícolas e minerais, o impacto indireto é positivo: com os americanos sob pressão comercial, o Brasil pode avançar em mercados hoje disputados, especialmente se houver retaliações por parte de parceiros afetados pelas tarifas de Trump. Isso ampliaria as oportunidades para produtores nacionais em setores onde o Brasil já é competitivo, como os de alimentos, celulose, minério de ferro e petróleo — e, por consequência, pode influenciar o apetite de investidores institucionais no mercado de ações brasileiro.
Empresas brasileiras reavaliam riscos e estratégias
Do ponto de vista empresarial, os efeitos são assimétricos. A Embraer é uma das companhias mais diretamente expostas, com cerca de 63% de suas exportações de aeronaves destinadas ao mercado americano. O novo cenário exigirá revisão de precificação e renegociação com clientes. A WEG, por sua vez, enfrenta impacto mais moderado. Parte relevante de sua produção é feita no México, que não foi incluído na tarifa universal, o que preserva competitividade em vários segmentos.
Já empresas como JBS e Minerva, com forte atuação no setor de carnes, podem se beneficiar de uma realocação global da demanda, especialmente em mercados que busquem alternativas às exportações americanas. Esses movimentos, ainda que desafiadores, podem se refletir positivamente em decisões de investimentos nos papéis dessas companhias, principalmente se os fundamentos permanecerem sólidos e houver reposicionamento estratégico.
Outros setores sentirão efeitos colaterais das tarifas de Trump. Empresas de papel e celulose, como Suzano e Klabin, podem enfrentar algum nível de pressão sobre receitas, principalmente se o real continuar valorizado. No setor de petróleo, companhias como Petrobras e PRIO não são impactadas diretamente pelas tarifas, mas a volatilidade no mercado internacional pode afetar a cotação do barril e, por consequência, suas estratégias de investimentos e distribuição de dividendos.
Riscos externos se intensificam, e o Brasil precisa manter vigilância estratégica
Analistas do BTG estimam que a inflação no núcleo dos EUA pode aumentar nos próximos 12 meses, devido ao impacto das tarifas, enquanto o crescimento do PIB pode desacelerar em 100 pontos-base ainda em 2025, segundo estimativas da Nationwide. O risco de uma recessão global, inclusive, aumentou nas estimativas de grandes bancos. Em 12 de abril, a China elevou suas tarifas retaliatórias para 125%, o que pode aumentar a demanda por commodities brasileiras nos EUA, mas também intensifica os riscos de recessão global.
Além disso, um relatório do BTG Pactual de 8 de abril destaca que o Bitcoin caiu 9% desde 5 de abril, perdendo US$ 150 bilhões em valor de mercado, refletindo a volatilidade financeira global causada pelas tarifas. Por outro lado, um relatório de 10 de abril aponta um cenário mais positivo para o setor varejista brasileiro, com crescimento projetado de 7% na receita líquida no 1º trimestre de 2025, Ebitda subindo 13%, e lucro líquido saltando de R$ 27 milhões para R$ 446 milhões — um resultado que pode atrair novos fluxos de investimentos e ampliar a valorização de empresas listadas no mercado de ações local.
A desvalorização das commodities pode aliviar pressões inflacionárias domésticas no Brasil. Com um Banco Central operando com firmeza e o real em R$ 5,78 hoje, após volatilidade, o Brasil mantém atratividade para investidores que buscam ativos descontados e alguma previsibilidade no curto prazo — o que inclui tanto investimentos em renda fixa quanto uma leitura estratégica do mercado de ações.
Tarifas de Trump: Um tabuleiro em movimento, com o Brasil posicionado para ganhar — desde que saiba jogar
As tarifas de Trump reacendem a guerra comercial e colocam em xeque o equilíbrio entre globalização e protecionismo. O Brasil, até aqui, escapa das punições mais severas e surge como possível beneficiário em setores-chave.
Mas esse ganho não é automático. Ele dependerá da habilidade do país em adaptar sua diplomacia comercial, fortalecer cadeias produtivas e manter credibilidade junto aos parceiros internacionais. O posicionamento no comércio global influencia diretamente o fluxo de capital, a performance de setores exportadores e o apetite por investimentos em um país ainda visto como emergente — mas com capacidade de reagir com inteligência.
Neste novo tabuleiro, o Brasil não lidera, mas também não foi encurralado. Está em movimento. Com juros altos, inflação persistente e o real em R$ 5,78 hoje, após volatilidade, a postura do investidor conta mais do que nunca — tanto no dia a dia quanto nas decisões de longo prazo no mercado de ações.
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