Zelensky alerta que 'apoio garantido dos EUA à Europa acabou' e pede exército europeu unificado
Declarações do presidente ucraniano foram feitas um dia após o vice-presidente dos EUA, JD Vance, minimizar a importância dos aliados europeus
247 - O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, alertou que os dias de apoio garantido dos Estados Unidos à Europa chegaram ao fim e pediu que o continente se una na criação de um exército e de uma política externa comuns.
Em discurso durante a Conferência de Segurança de Munique, neste sábado (15), Zelensky expressou preocupação com um telefonema recente entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o ex-presidente americano Donald Trump. Segundo ele, o diálogo levantou temores em Kiev de que a Ucrânia esteja sendo excluída das negociações, enquanto a Casa Branca minimiza as perspectivas de adesão do país à Otan.
“Alguns dias atrás, o presidente Trump me contou sobre sua conversa com Putin. Ele não mencionou nenhuma vez que a América precisa da Europa naquela mesa. Isso diz muito”, afirmou Zelensky, de acordo com a CNN. O ucraniano acrescentou que "os velhos tempos acabaram — quando a América apoiava a Europa apenas porque sempre apoiou”. Ele ainda itiu que “não estava feliz” com o fato de a primeira ligação de Trump ter sido com Putin.
O presidente da Ucrânia alertou que seria ainda “mais perigoso” se Trump se reunisse com Putin antes de encontrá-lo. O ex-presidente dos EUA não se comprometeu a se encontrar com Zelensky primeiro, segundo afirmou o líder ucraniano à CNN. No entanto, destacou que Trump entende a necessidade de “se reunir urgentemente” para discutir “planos concretos” para encerrar a guerra.
Zelensky fez suas declarações um dia depois de o vice-presidente dos EUA, JD Vance, minimizar a importância dos aliados europeus em um discurso na conferência, praticamente ignorando a questão ucraniana e um possível acordo com a Rússia.
Diante do cenário incerto, Zelensky reforçou a necessidade de a Europa se tornar militarmente independente. “Vamos ser honestos — agora não podemos descartar a possibilidade de que os EUA digam ‘não’ à Europa em questões que os ameaçam. Muitos líderes falaram sobre a Europa precisar de seu próprio exército — um Exército da Europa”, afirmou.
Ele também citou a participação de JD Vance na conferência, destacando que a declaração do vice-presidente americano deixou claro que "as décadas do antigo relacionamento entre Europa e EUA estão terminando" e que "a Europa precisa se ajustar a isso".
Mais adiante em seu discurso, o presidente ucraniano acusou Putin de tentar “dividir o mundo” por meio de conversas individuais com Trump. “Putin tentará fazer com que o presidente dos EUA esteja na Praça Vermelha em 9 de maio deste ano, não como um líder respeitado, mas como um e em sua própria performance. Não precisamos disso”, alertou.
Em um momento descontraído que provocou risos na plateia, Zelensky itiu ter dito a Trump que Putin o teme. “Eu disse a Trump que Putin tem medo dele, e ele me ouviu. E agora Putin sabe”, ironizou.
Ele também afirmou que o presidente russo parece ser a maior influência na Otan, ao impedir avanços na aliança. “Neste momento, o membro mais influente da Otan parece ser Putin — porque seus caprichos têm o poder de bloquear as decisões da aliança.” Zelensky enfatizou que a Ucrânia nunca aceitará acordos firmados sem sua participação e defendeu que o mesmo se aplique a toda a Europa.
“Nenhuma decisão sobre a Ucrânia deve ser tomada sem a Ucrânia. Nenhuma decisão sobre a Europa deve ser tomada sem a Europa. A Europa deve ter um assento à mesa quando decisões sobre o continente estão sendo tomadas”, reforçou.
Após o discurso de Zelensky, o primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, alertou que a Europa "precisa urgentemente de um plano de ação" sobre a Ucrânia, sob risco de outros atores globais decidirem o futuro do continente. “Este plano deve ser preparado agora. Não há tempo a perder”, escreveu Tusk em um post na rede social X.
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