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      Tecnologia, arte e afeto: o edifício onde pessoas com deficiência constroem o futuro em Pequim

      Brasil 247 visitou iniciativa pioneira que oferece cuidado integral, formação profissional e soluções inovadoras para ampliar participação cidadã na China

      Jovens com deficiência realizam apresentação musical no Edifício Hui'ai, em Pequim (Foto: Guilherme Paladino/Brasil 247)
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      Por Guilherme Paladino, de Pequim - O Brasil 247 visitou, na manhã desta terça-feira (27), o Centro Modelo de Serviços para Pessoas com Deficiência de Pequim — também conhecido como Edifício Hui’ai — a principal estrutura da capital chinesa dedicada à inclusão social. Localizado em um edifício de 24 andares e com mais de 33 mil metros quadrados de área construída, o centro é uma iniciativa da Federação de Pessoas com Deficiência de Pequim e começou a operar em dezembro de 2021, tendo servido como unidade de recepção pública durante os Jogos Paralímpicos de Inverno de 2022. Mas não se trata apenas de um legado esportivo: o Hui’ai é hoje uma referência nacional em ibilidade, inovação e cuidado com pessoas com deficiência de todas as idades e condições.

      Com uma população expressiva de pessoas com deficiência no país - número estimado entre 80 e 90 milhões -, a China vem intensificando esforços para oferecer atenção especializada e integrar essas pessoas aos espaços de convivência comum e ao mercado de trabalho. Ao final de 2024, mais de 9,14 milhões de pessoas com deficiência estavam empregadas em todo o país, um aumento de 512.000 em relação ao ano anterior. Além disso, dados oficiais mostraram que mais de 8,66 milhões de pessoas com deficiência receberam serviços básicos de reabilitação no ano ado, e cerca de meio milhão de crianças com deficiência foram beneficiadas com assistência à reabilitação. O Edifício Hui'ai, neste contexto, é uma entre as 13.297 instituições de reabilitação voltadas a este grupo social - mas desponta como destaque entre todas elas.

      Uma base, três centros e um modelo

      O projeto segue uma estrutura definida como "uma base, três centros e um modelo": uma base integrada de serviços para pessoas com deficiência; um centro modelo de serviços especializados; um centro de incubação de projetos de assistência; e um centro de formação de profissionais da área, além de funcionar como modelo nacional de ibilidade em instalações de serviço.

      Rampa de o aos pisos superiores no Edifício Hui'ai, em Pequim
      Rampa de o aos pisos superiores no Edifício Hui'ai, em Pequim (é possível notar na parede ao fundo algumas das obras de arte feitas pelos alunos)(Photo: Guilherme Paladino/Brasil 247)Guilherme Paladino/Brasil 247

      Oferecendo mais de dez tipos de serviços, o centro abrange desde a reabilitação infantil e adulta até o cuidado temporário, a capacitação profissional e oficinas de arte. Em apenas três anos, mais de 160 mil pessoas com deficiência foram atendidas pela instituição.

      O ambiente é planejado com base no conceito de “design universal para todos”, incluindo rampas em todos os desníveis, bordas arredondadas, banheiros e elevadores 100% íveis, pisos táteis e um sistema de navegação por voz operável por celular — garantindo ibilidade física e digital.

      Tecnologia, cultura e emprego: pilares da inclusão

      Um dos espaços que mais chamam atenção dos visitantes é a zona de exibição de tecnologias assistivas. Lá, é possível conhecer dispositivos de ponta voltados à autonomia das pessoas com deficiência, como:

      • Mão robótica inteligente: integra interface cérebro-computador (BCI) com algoritmos de IA, detectando sinais neurais e musculares do usuário para acionar movimentos precisos e independentes dos dedos. A partir da leitura dos sinais neurais, a mão robótica pode imitar um sinal de "ha", estender todos os seus dedos ou cerrar seu punho.
      • Cachorro-guia robótico: um sistema quadrúpede biomimético capaz de detectar obstáculos, ler sinais de trânsito, ajustar trajetos conforme a densidade do fluxo de pessoas e oferecer e remoto por meio de conexão com voluntários.
      • Óculos tradutores: voltados para pessoas com deficiência auditiva, permitem tradução em tempo real de diálogos e conteúdo escrito, ampliando a autonomia e a integração social. Seu uso, inclusive, impressiona turistas que não sabem falar chinês, pois a tradução automática permite um diálogo mais facilitado com cidadãos locais.
      Cachorro-guia robótico sendo testado na zona de exibição de tecnologias assistivas do Edifício Hui'ai
      Cachorro-guia robótico sendo testado na zona de exibição de tecnologias assistivas do Edifício Hui'ai(Photo: Guilherme Paladino/Brasil 247 )Guilherme Paladino/Brasil 247

      Educação e inserção no mercado de trabalho

      Outro destaque no Centro é o organismo “Nosso Lugar” (Our Family China), que adota uma abordagem de desenvolvimento integral para oferecer serviços que acompanham pessoas com deficiência "do berço até a velhice". Tal espaço já contribuiu para a reabilitação de 4 mil crianças, com serviços especiais de educação inclusiva que impactaram mais de 200 crianças e com resultados diretos para a inserção de mais de 100 jovens com deficiência no mercado de trabalho. "Acompanhamos pessoas com deficiência já treinadas em seu processo de inserção no mercado, garantindo que superem a "última barreira" rumo à inclusão social", informou uma das educadoras no local.

      Em parceria com o governo, as crianças em reabilitação neste local recebem subsídios mensais de até 3.600 yuans.

      Em suas salas, profissionais e professores promovem oficinas de simulação de entrevistas de emprego, reforço escolar e apoio psicossocial. Crianças com autismo ou deficiência intelectual, por exemplo, são preparadas para uma transição segura à escola regular, com acompanhamento tanto na instituição quanto dentro das escolas parceiras. "Nosso objetivo é capacitar crianças e famílias a enfrentar os desafios de um ambiente coletivo. Além disso, nossos professores atuam em escolas regulares (desde creches até o ensino médio) para promover a inclusão de crianças com necessidades especiais", diz a descrição do local.

      Arte como reabilitação

      No 5º andar do edifício, está o projeto "Asas Douradas", fundado por Zhang Jun Ru, que marca a zona de reabilitação artística. Desde 2010, ela lidera este projeto de transformação por meio da arte, que já atendeu a mais de 1.400 crianças — das quais 500 conquistaram prêmios em nível nacional e internacional. São atendidos, principalmente, jovens com autismo, síndrome de Down e deficiência intelectual, e se oferecem cursos de pintura, canto, instrumentos e dança para ajudá-los a melhorar a atenção, a coordenação motora, a construir autoestima e a fortalecer o senso de conquista.

      Jovens com deficiência realizam apresentação musical no Edifício Hui'Ai
      Jovens com deficiência realizam apresentação musical no Edifício Hui'Ai(Photo: Guilherme Paladino/Brasil 247)Guilherme Paladino/Brasil 247

      As obras desenvolvidas pelos alunos da zona artística decoram praticamente todos os andares do edifício, sendo este um dos pontos mais marcantes de todo o Centro. Além de premiadas internacionalmente, as pinturas desenvolvidas ali também estampam produtos de grandes marcas e são comercializadas, revertendo renda para os artistas - até o momento, essa ação já gerou mais de 1,4 milhão de yuans em receita.

      Aluno realiza pintura ao lado de professora no Edifício Hui'ai
      Aluno realiza pintura ao lado de professora no Edifício Hui'ai(Photo: Guilherme Paladino/Pequim)Guilherme Paladino/Pequim

      Em 2023, os alunos Yue Liang (autista) e Liu Muqi (com síndrome de Down), ambos formados pelo projeto "Asas Douradas", foram protagonistas de um filme do cinema chinês
      Em 2023, os alunos Yue Liang (autista) e Liu Muqi (com síndrome de Down), ambos formados pelo projeto "Asas Douradas", foram protagonistas de um filme do cinema chinês(Photo: Guilherme Paladino/Brasil 247)Guilherme Paladino/Brasil 247

      A fundadora Zhang Jun Ru exibe, orgulhosamente, o registro do dia em que a primeira-dama da China, Peng Liyuan, ajudou a jovem Xiao Yu, de 16 anos, diagnosticada com autismo e aluna do Centro, a pintar uma tela intitulada Girassóis.
      A fundadora Zhang Jun Ru exibe, orgulhosamente, o registro do dia em que a primeira-dama da China, Peng Liyuan, ajudou a jovem Xiao Yu, de 16 anos, diagnosticada com autismo e aluna do Centro, a pintar uma tela intitulada Girassóis.(Photo: Guilherme Paladino/Brasil 247)Guilherme Paladino/Brasil 247


      Lesão Medular

      Um dos espaços do edifício Hui'ai abriga o programa “Lar da Esperança para Pessoas com Lesão Medular em Pequim”, que atende adultos com deficiência física, com uma característica principal de que pessoas com deficiência ajudam outras pessoas com deficiência. Os serviços incluem reconstrução da vida cotidiana, apoio psicológico e reintegração no mercado de trabalho.

      Desde 2015, com o apoio da Federação de Pessoas com Deficiência de Pequim, mais de 600 pessoas com deficiência participaram do programa. De acordo com seus dados, após apenas um mês de treinamento, 95% delas conseguiram recuperar sua autonomia no dia a dia.

      Além disso, o centro organiza oficinas de capacitação para trabalho remoto, cursos de estética para mulheres com deficiência e até um ateliê de avaliação de ibilidade. Mais de 700 pessoas foram beneficiadas diretamente por essas iniciativas e aumentaram sua renda, que varia desde algumas centenas de yuans até 3.500 yuans, podendo chegar a 8.000 yuans nos melhores casos.

      Voluntariado inclusivo e integração global

      Com 12 equipes compostas por 430 voluntários, o Hui’ai já atendeu mais de 16 mil pessoas com deficiência apenas por meio da ação voluntária. O projeto “Dança com Hui’ai” venceu a medalha de ouro na 7ª Competição Nacional de Voluntariado, e o centro hoje é reconhecido como uma base nacional de voluntariado inclusivo.

      A vocação internacional do centro também é destacada por seus organizadores. Com apoio da Federação Chinesa de Pessoas com Deficiência e do Ministério das Relações Exteriores, o Hui’ai já recebeu delegações de todo o mundo, incluindo os Estados Unidos, Zâmbia, Uzbequistão, observadores de Hong Kong e Macau, além de mais de 70 jornalistas de 58 países.

      Entre os eventos organizados, estão fóruns internacionais sobre deficiência no escopo da Iniciativa Cinturão e Rota (também conhecida como Nova Rota da Seda), uma exposição da UNICEF sobre inclusão e a celebração do centenário da organização internacional Rehabilitation International. O centro também representou a China no Festival Cultural da Ásia, em Genebra.

      A pintura "Cem Gatos" é de um artista autista do projeto "Asas Douradas" de Pequim e foi exposta no Festival de Cultura Asiática de 2024 em Genebra, na Suiça. Além de obra de arte, tal pintura também estampa produtos comerciais, como cachecóis
      A pintura "Cem Gatos" é de um artista autista do projeto "Asas Douradas" de Pequim e foi exposta no Festival de Cultura Asiática de 2024 em Genebra, na Suiça. Além de obra de arte, tal pintura também estampa produtos comerciais, como cachecóis(Photo: Guilherme Paladino/Brasil 247)Guilherme Paladino/Brasil 247

      Referência nacional

      Do design arquitetônico à sofisticação tecnológica, da educação à arte, da memória esportiva ao compromisso global, o Centro encarna uma visão progressista de desenvolvimento humano e, por isso, se tornou referência na China. “Há centros parecidos em outras cidades, mas o nosso é o maior e o mais geral”, afirma a subdiretora Wang Li Sha.

      Além de fornecer um espaço acolhedor, Li Sha também ponderou que a missão do Centro, acima de tudo, é "ajudar as pessoas com deficiência a integrar-se à cidade". Na visão do Centro, não se deve deixar tais pessoas a margem do desenvolvimento do país, mas sim, incorporá-las, com base na ciência, inovação e atenção humanizada.

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