Reino Unido é acusado por Pequim de distorcer política de defesa chinesa em nova revisão estratégica
Embaixada da China em Londres critica relatório de 2025 por adotar “mentalidade de Guerra Fria” e alimentar confrontos com interesses dos EUA
247 - A mais recente Revisão Estratégica de Defesa do Reino Unido, publicada na segunda-feira (2), provocou forte reação do governo chinês.
Segundo reportagem do Global Times, a embaixada da China em Londres repudiou as referências feitas à política de defesa chinesa, classificando o relatório como “carregado de mentalidade de Guerra Fria e viés ideológico”.
O documento, de 140 páginas, acusa a China de ser um “desafio sofisticado e persistente”, além de lançar críticas consideradas infundadas sobre o desenvolvimento militar chinês, a questão de Taiwan e o Mar do Sul da China.
Produzida sob liderança do ex-ministro da Defesa do Partido Trabalhista, Lord Robertson, a Revisão Estratégica de Defesa 2025 (SDR, na sigla em inglês) alega que o Reino Unido enfrenta “ameaças múltiplas e diretas” pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria. O texto defende que o país precisa estar “preparado para lutar e vencer” em possíveis confrontos militares, com destaque para o que descreve como crescente risco representado pela China em áreas como espionagem e ciberataques.
A reação oficial chinesa veio por meio de nota publicada no site da embaixada: “É preciso destacar que os conteúdos relacionados à China nesse documento deturpam os fatos, distorcem deliberadamente a política de defesa chinesa e servem apenas como pretexto para a ampliação militar britânica”.
A embaixada reafirmou o compromisso de Pequim com uma “política externa independente de paz” e com uma “estratégia de defesa de natureza estritamente defensiva”. O porta-voz declarou ainda que “em questões internacionais, a China nunca foi a parte que cria problemas”, destacando o papel do país na promoção do diálogo e da resolução pacífica de disputas.
A ofensiva britânica ocorre em paralelo à tentativa do governo de Keir Starmer de justificar um ambicioso plano de investimentos militares por meio do que o jornal The Guardian definiu como “keynesianismo militar”. A proposta prevê a construção de seis fábricas de munição, a criação de mil empregos diretos e outros 800 indiretos, além do estímulo a setores industriais fora de Londres, como os estaleiros de Barrow, Devonport, Glasgow e Rosyth.
No entanto, a viabilidade econômica do plano tem sido alvo de críticas. Em análise ao Global Times, o pesquisador Li Guanjie, da Academia de Governança Global de Xangai, observou: “Embora o conceito de promover a estratégia de defesa do Reino Unido por meio do ‘keynesianismo militar’ pareça ambicioso, ele enfrenta sérias dificuldades de compreensão e de execução prática”.
Li acrescentou que, ao associar a expansão militar ao crescimento econômico, o governo britânico recorre a um modelo que mascara contradições: “Equipamentos militares são bens de consumo, então como podem realmente estimular a economia? Isso revela a contradição intrínseca desse tipo de política”.
A estratégia de inflar a ameaça chinesa, segundo os especialistas ouvidos pela imprensa chinesa, atende também aos interesses geopolíticos dos Estados Unidos. Gao Jian, diretor do Centro de Estudos Britânicos da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai, afirmou que “usar a China como argumento e fomentar o confronto não resolverá os problemas internos do Reino Unido”.
O próprio The Guardian questionou a base financeira do projeto, ao apontar a dificuldade de sustentar a meta de destinar 3% do Produto Interno Bruto (PIB) à defesa, como quer Starmer, especialmente ao colocar essas despesas como prioritárias em relação a outros serviços públicos. Já a BBC levantou dúvidas sobre a promessa de transformar o setor de defesa em “motor de crescimento” para a economia britânica.
Apesar das críticas internas e internacionais, o governo britânico segue apostando na retórica de fortalecimento militar como peça-chave de sua política externa. Para Pequim, contudo, esse caminho representa uma escalada de confrontação desnecessária: “Alguns políticos britânicos sabem claramente que um confronto extremo com a China não é benéfico para o próprio Reino Unido”, concluiu Gao Jian.
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