Malcolm X: cem anos de um líder que redefiniu o orgulho negro nos EUA
No centenário de nascimento e seis décadas após seu assassinato, legado ganha novo reconhecimento por sua complexidade e impacto na luta por justiça racial
247 - O ano de 2025 marca duas datas emblemáticas na história de um dos líderes mais influentes do século XX: os cem anos do nascimento e os sessenta do assassinato de Malcolm X. O ativista, que por muito tempo foi contraposto ao reverendo Martin Luther King Jr. como símbolo do radicalismo na luta antirracista, é hoje reconhecido como uma figura multifacetada, cuja trajetória reflete profundas transformações pessoais, políticas e espirituais. As informações são da Associação Brasileira de Imprensa.
Nascido em 19 de maio de 1925, em Omaha, Nebraska, Malcolm Little teve sua infância marcada pela violência racial e pelo legado de resistência herdado dos pais, que seguiam as ideias de Marcus Garvey. O líder jamaicano, criador da Universal Negro Improvement Association and African Communities League em 1914, pregava o retorno dos negros à África e a construção de uma identidade racial unificada e autônoma. A influência de Garvey, que foi preso e deportado dos Estados Unidos em 1927, seria uma das bases ideológicas que moldaram a juventude de Malcolm.
Em 1926, a família Little se mudou para Michigan, fugindo de ameaças da Ku Klux Klan. Poucos anos depois, o pai de Malcolm morreu em circunstâncias suspeitas, atribuídas à organização racista Black Legion. A perda precoce do pai e a internação da mãe em 1938, após um colapso nervoso, deixaram Malcolm e seus seis irmãos sob a tutela do Estado. Apesar de seu desempenho escolar promissor, ele abandonou os estudos ao ser desencorajado por um professor branco que afirmou que “advocacia não era carreira para um negro”.
A adolescência e a juventude de Malcolm foram marcadas por uma vida nômade e, eventualmente, por atividades criminosas, o que o levou à prisão em 1946. Durante os seis anos em que ficou encarcerado, sua vida ou por uma reviravolta: influenciado por ideias de autossuficiência racial e por preceitos do Islã, converteu-se à Nation of Islam (NOI), movimento religioso afro-americano que associava os brancos ao mal e enaltecia a superioridade natural dos negros. A partir de então, adotou o nome Malcolm X, em referência ao “X” que simbolizava o nome africano perdido por seus anteados escravizados.
A eloquência e a inteligência de Malcolm rapidamente o transformaram no principal porta-voz da organização, liderada por Elijah Muhammad. Ele ou a publicar o jornal Muhammad Speaks e a discursar em diversas cidades dos EUA, ganhando projeção nacional e internacional. Sua retórica contundente, que defendia os direitos dos negros “by any means necessary” — ou seja, por quaisquer meios necessários — contrastava fortemente com a abordagem pacifista e integracionista de Martin Luther King Jr., o que alimentava comparações reducionistas entre ambos.
Mas o ano de 1964 representaria uma virada definitiva na trajetória de Malcolm. Durante sua peregrinação a Meca, uma obrigação religiosa para muçulmanos, ele se deparou com uma realidade que o transformou: a convivência harmoniosa entre pessoas de diferentes etnias no contexto religioso o fez repensar suas crenças. Convertido ao Islamismo Sunita, Malcolm rejeitou o discurso separatista da Nation of Islam e adotou o nome el-Hajj Malik el-Shabazz. A partir de então, ou a defender a luta contra o racismo como uma causa humanitária global, aproximando-se de outros líderes dos direitos civis.
O rompimento com Elijah Muhammad, que Malcolm ou a criticar abertamente por sua conduta pessoal, marcou o início de uma fase de grande tensão. O ex-porta-voz da Nation fundou duas organizações: a Muslim Mosque, Inc. e a Pan-African Organization of Afro-American Unity, com as quais buscava articular a luta dos negros americanos com a causa anticolonialista africana. Em março de 1964, Malcolm e King estiveram juntos pela única vez, em uma sessão no Senado sobre a futura Lei dos Direitos Civis.
Nos meses seguintes, Malcolm X ou a denunciar ameaças de morte que vinha sofrendo, sobretudo de membros da antiga organização. Em 21 de fevereiro de 1965, durante uma palestra em Nova Iorque, foi assassinado com 21 tiros diante da esposa, Betty Shabazz — então grávida de gêmeas — e de suas quatro filhas. Três integrantes da Nation of Islam foram condenados pelo crime. Embora dois tenham sido libertados nos anos 1980 e o terceiro apenas em 2010, o caso continua cercado de controvérsias e teorias conspiratórias.
A morte de Malcolm X, aos 39 anos, o consagrou como mártir da causa negra. Seus ensinamentos influenciaram profundamente o movimento Black Power e ajudaram a popularizar os termos “Black” e “Afro-American”, substituindo expressões como “colored” e “Negro”. Sua coragem em revisar suas próprias crenças e romper com estruturas que o elevaram, em nome da coerência e da verdade, se tornaram uma das marcas mais poderosas de seu legado.
Embora ainda não haja um feriado nacional em sua homenagem, o Dia de Malcolm X é celebrado em cidades dos estados da Pensilvânia, Califórnia e Michigan em 19 de maio. Em 2025, com o centenário de seu nascimento e seis décadas de seu assassinato, multiplicam-se os eventos, publicações e produções que buscam revisitar sua trajetória sob uma ótica mais justa e complexa, à altura da influência que ele continua a exercer.
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