Maior ameaça aos EUA não é a China, mas os “inimigos internos”, alerta CEO do JP Morgan Chase
Jamie Dimon critica a má gestão do governo, os gastos excessivos e a política tarifária de Trump
247 – Em meio a crescentes tensões comerciais e sinais de fragilidade na economia norte-americana, o CEO do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, voltou a se pronunciar com contundência sobre os rumos dos Estados Unidos. Durante um fórum econômico realizado na Califórnia, em 30 de maio, Dimon afirmou que a maior ameaça à nação não vem da China, mas de seus próprios problemas internos. As declarações foram reportadas pela rede CNN e publicadas originalmente pelo portal Guancha.
“Embora a China seja um potencial adversário, eles fazem muitas coisas muito bem”, afirmou Dimon. “O que realmente me preocupa somos nós mesmos. Será que conseguimos colocar a casa em ordem no que diz respeito às nossas ações, valores, capacidades e governança?”, questionou.
Críticas à gestão interna e alerta sobre recessão
Jamie Dimon descreveu a situação atual dos Estados Unidos como um caso de “gestão impressionantemente ruim”. Ele apontou falhas em áreas cruciais como licenciamento, regulação, imigração, tributação, educação e saúde. “Se esses problemas forem resolvidos, nossa economia poderia crescer 3% ao ano”, afirmou o executivo.
Segundo dados do Escritório de Orçamento do Congresso (CBO), o déficit do governo dos EUA em 2024 já atinge cerca de US$ 2 trilhões, o equivalente a 7% do PIB. Dimon advertiu: “Se o país entrar em recessão, 7% viram 10%”. A preocupação ganha força com o encolhimento de 0,2% no PIB do primeiro trimestre de 2025, segundo revisão recente do Departamento de Comércio — um contraste com os 2,4% de crescimento registrados no quarto trimestre de 2024.
Efeitos da política tarifária de Trump
Dimon também criticou a política de tarifas do ex-presidente Donald Trump, que, nos últimos meses, provocou incertezas no mercado global. “A China não tem medo, e eu não espero que eles se curvem aos Estados Unidos”, disse. Em sua visão, o ime comercial com Pequim ainda está longe de terminar e pode empurrar os EUA para uma recessão.
Em entrevista ao Financial Times em abril, Dimon já havia defendido uma reaproximação com Pequim. “Devemos nos engajar com a China a partir de amanhã”, declarou. Para ele, o objetivo do governo norte-americano não deve ser o “desacoplamento” entre as duas economias. “Devemos estar de olhos abertos sobre o que queremos alcançar. E também acho que devemos agir em conjunto com nossos aliados… Espero que consigamos negociar e ter relações econômicas muito fortes com Europa, Reino Unido, Japão, Coreia do Sul, Austrália e Filipinas.”
Risco de colapso no mercado de títulos
O CEO do JPMorgan também alertou para os perigos do excesso de gastos públicos e do afrouxamento quantitativo (quantitative easing). “Isso pode causar uma implosão do mercado de títulos”, advertiu, prevendo que “rachaduras” podem aparecer “em seis meses ou em seis anos”.
Durante o Investor Day do JPMorgan, realizado neste mês, Dimon lembrou que, embora a empresa tenha mantido retornos superiores a 17% ao ano na última década, o cenário financeiro global é extremamente volátil. “Quase todas as grandes empresas financeiras do mundo quase faliram. Este mundo é um lugar cruel”, declarou.
Tributação e desigualdade
Dimon também apoiou a tributação do chamado carried interest — mecanismo fiscal utilizado por gestores de fundos —, propondo que os recursos arrecadados sejam usados para dobrar o atual crédito tributário dos EUA. Segundo ele, a medida, que teria um custo estimado de US$ 60 bilhões, beneficiaria diretamente famílias, comunidades e moradias.
Tensões jurídicas e incerteza no comércio global
A crescente instabilidade econômica é agravada por decisões judiciais envolvendo a política tarifária de Trump. Três sentenças emitidas em menos de 24 horas aumentaram a incerteza nas relações sino-americanas. Investidores já demonstraram preocupação: em abril, uma onda de venda de títulos do Tesouro norte-americano elevou os rendimentos de 10 anos ao maior nível em décadas.
Em avaliação semelhante à de Dimon, o economista Dean Baker, do Center for Economic and Policy Research, afirmou que o ambiente de incerteza está retraindo investimentos e adiando o consumo de bens duráveis pelas famílias. “As tarifas definitivamente vão desacelerar o crescimento econômico, e será difícil reverter essa tendência fraca”, concluiu.
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