Macron alerta para “90 dias de incerteza” após “trégua frágil” de Trump
Mercados em queda e guerra comercial com a China elevam temores de recessão; líderes mundiais reagem com cautela à suspensão parcial das tarifas pelos EUA
247 - Uma semana marcada por forte instabilidade nos mercados financeiros globais, provocada pelas tarifas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, foi agravada por declarações do presidente francês, Emmanuel Macron, que classificou a trégua de 90 dias nas tarifas como “frágil” e insuficiente para acalmar os investidores. As informações são do jornal britânico The Guardian.
Em postagem feita na manhã desta sexta-feira (11) na rede social X (antigo Twitter), Macron afirmou: “Esta suspensão parcial envia um sinal e deixa a porta aberta para negociações. Mas esta pausa é frágil”. E completou: “Esta pausa de 90 dias significa 90 dias de incerteza para todos os nossos negócios, em ambos os lados do Atlântico e além”.
A instabilidade nos mercados se refletiu de forma contundente nas bolsas asiáticas. O índice Nikkei, do Japão, registrou queda de quase 5%, enquanto o mercado de ações de Hong Kong caminhava para o seu pior desempenho semanal desde 2008. Além disso, os preços do petróleo caíam pela segunda semana consecutiva.
A medida de suspensão parcial das tarifas, anunciada por Trump na quarta-feira, teve efeito limitado. O presidente decidiu adiar a aplicação de tarifas sobre dezenas de países por 90 dias, mas manteve o endurecimento das relações com a China, segunda maior economia do mundo. A continuidade da guerra comercial aumentou os temores de uma possível recessão global e alimentou preocupações com novas retaliações por parte de Pequim.
Em meio às incertezas, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, tentou transmitir otimismo. Durante uma reunião de gabinete na quinta-feira, ele declarou que mais de 75 países demonstraram interesse em iniciar negociações comerciais. O próprio Trump também se disse esperançoso quanto a um possível entendimento com os chineses.
O porta-voz do Ministério do Comércio chinês, He Yongqian, afirmou que o país está aberto ao diálogo, mas que ele deve ser baseado no respeito mútuo. Segundo ele, caso os EUA insistam em ameaças e chantagens, Pequim levará as negociações “até o fim”. Em resposta simbólica às ações de Washington, o governo chinês restringiu as importações de filmes de Hollywood — uma das principais exportações culturais dos EUA.
Mesmo com a suspensão parcial das tarifas, os impactos continuam sendo sentidos. O índice S&P 500 caiu 3,5% na quinta-feira, acumulando uma perda de cerca de 15% em relação ao seu pico em fevereiro. Alguns analistas apontam que, diante da indefinição quanto à política comercial dos EUA, o mercado ainda deve registrar quedas adicionais.
Outro fator que contribui para o pessimismo é a exclusão do Canadá e do México da trégua tarifária. Os dois países ainda estão sujeitos a tarifas de 25% sobre diversos produtos, especialmente aqueles relacionados ao combate ao fentanil, a menos que atendam às exigências do acordo comercial EUA-México-Canadá (USMCA).
Com as tensões persistindo entre EUA, China e outros parceiros comerciais estratégicos, o banco Goldman Sachs estimou em 45% a probabilidade de uma recessão. A decisão da União Europeia de suspender temporariamente suas contratarifas ofereceu um alívio pontual, mas o cenário geral segue tenso.
Em um momento de extrema volatilidade, o comentário de Macron parece resumir o sentimento que domina o cenário econômico global: “90 dias de incerteza”. Uma pausa, sim — mas ainda longe de uma solução duradoura.
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