Lavrov diz que Rússia apresentará proposta de paz para Ucrânia
Lavrov critica legitimidade de Zelensky, denuncia militarização europeia e destaca papel dos EUA no conflito
247 - Durante uma conferência internacional em Moscou e uma coletiva de imprensa na última sexta-feira (23), o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, fez duras críticas à União Europeia e ao governo ucraniano, além de apresentar propostas da diplomacia russa rumo a um cessar-fogo. Segundo Lavrov, Moscou está prestes a concluir um rascunho de proposta de paz para a Ucrânia e espera entregá-lo ao lado ucraniano após a atual rodada de troca de prisioneiros de guerra. As informações são da agência RIA Novosti.
O diplomata russo afirmou que o país está "trabalhando ativamente" na elaboração de um memorando com os os para um acordo político duradouro e que o documento será apresentado "assim que a troca de prisioneiros de guerra for concluída", processo iniciado em Istambul e que prossegue durante o fim de semana. No entanto, Lavrov alertou que ainda não há uma nova data para retomada formal das negociações entre Moscou e Kiev.
Legitimidade de Zelensky sob questionamento
Um dos pontos centrais destacados por Lavrov foi a situação política interna da Ucrânia. O chanceler russo afirmou que a legitimidade do presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, será determinante para qualquer acordo futuro. “Se algum acordo for assinado por alguém cuja legitimidade não convence mais ninguém, os sucessores poderão questionar os termos firmados”, advertiu. Zelensky permanece no cargo mesmo após o fim de seu mandato, com a justificativa de que não seria possível realizar eleições sob a vigência da lei marcial.
Apesar das críticas, Lavrov afirmou que a Rússia “não está rejeitando o contato com Zelensky ou sua istração” e está disposta a dialogar “sobre os princípios da solução”.
Críticas à "junta" de Kiev e aos ataques à população russófona
O chefe da diplomacia russa descreveu o atual governo de Kiev como uma "junta" e acusou-o de perseguir a população de língua russa. Segundo Lavrov, permitir que milhões de pessoas na Ucrânia continuem sob domínio de um regime que proíbe sua língua nativa seria “um crime grave”.
Ele rejeitou a ideia de que a Ucrânia possa manter sua atual política interna após um possível cessar-fogo. “Se a junta de Zelensky espera que se chegue a um acordo para pôr fim às hostilidades e que o que resta da Ucrânia viva de acordo com as leis que adotaram, isso é uma ilusão”, disse. “Isso não pode ser permitido em hipótese alguma”, concluiu.
Washington e o papel de Trump nas negociações
Em uma declaração que surpreende em meio às tensões com o Ocidente, Lavrov elogiou os esforços do presidente dos EUA, Donald Trump, para mediar a paz na Ucrânia. Ele afirmou que Trump foi o primeiro líder ocidental a reconhecer que “atrair a Ucrânia para a OTAN foi um erro grave” e que responsabilizou diretamente o governo de seu antecessor, Joe Biden, pela escalada do conflito.
Ainda assim, Lavrov advertiu que a política externa dos Estados Unidos é marcada por imprevisibilidade, e que isso é levado em conta pela diplomacia russa ao planejar suas ações. Segundo ele, Moscou está aberta à cooperação em áreas como espaço, energia e tecnologia, desde que baseada na igualdade e no benefício mútuo.
Militarização da Europa e "responsabilidade" da UE no conflito
Lavrov também dirigiu severas críticas à União Europeia, que, segundo ele, está explorando a crise de segurança no continente para justificar sua crescente militarização. “As estruturas de segurança euro-atlânticas não têm sido suficientes para proporcionar segurança real à Europa”, afirmou.
O ministro defendeu a criação de uma nova arquitetura de segurança pan-eurasiana, que inclua todas as nações do continente e não apenas as alinhadas com a OTAN. Para ele, é a aliança atlântica, e não a Rússia, que abriga planos de subjugação de todo o continente até o extremo oriente.
Durante a coletiva, Lavrov acusou os líderes da UE de estarem diretamente envolvidos no prolongamento da guerra. “Certamente há responsabilidade da Europa no derramamento de sangue contínuo”, afirmou. Segundo ele, líderes como Emmanuel Macron (França), Keir Starmer (Reino Unido) e Friedrich Merz (Alemanha) fazem apelos por um "cessar-fogo incondicional" apenas como fachada, enquanto seguem enviando armas ao regime de Kiev.
“O que eles querem é sabotar as negociações retomadas em Istambul”, denunciou Lavrov. “Eles apostaram sua reputação em arrastar a Europa para uma guerra contra a Rússia, para facilitar a militarização da região. Estão planejando alocar enormes somas de dinheiro para esse objetivo”.
Vaticano fora das negociações
Por fim, o chanceler russo descartou a sugestão do Papa Leão XIV de sediar as negociações no Vaticano. “Seria deselegante que dois países cristãos ortodoxos mediassem seu conflito na capital da fé católica”, afirmou Lavrov, considerando a proposta “pouco realista”.
Com a proposta de paz russa em fase final de elaboração, a tensão entre as grandes potências e os rumos do conflito ucraniano continuam sendo tema central no tabuleiro geopolítico internacional. A disposição de Moscou para negociar contrasta com o ceticismo em relação aos interlocutores ocidentais, e mostra que, apesar da guerra, ainda há margem para manobras diplomáticas — desde que as condições impostas por ambos os lados encontrem terreno comum.
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