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      Indústria dos EUA alerta para escalada ampla de preços após 'tarifaço' de Trump

      Guerra comercial lançada por Donald Trump deverá encarecer roupas e calçados nos EUA e penalizar famílias mais pobres

      (Foto: Reuters/Mark Makela)
      Guilherme Levorato avatar
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      247 - As tarifas alfandegárias impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre as importações de roupas e calçados estão prestes a pesar no bolso das famílias americanas. A medida, parte da política econômica nacionalista de Trump, deve impactar diretamente os consumidores, com aumentos significativos nos preços de itens essenciais como tênis, jeans e camisetas — especialmente durante a temporada de compras escolares no outono, relata reportagem da Associated Press repercutida pelo Estado de S. Paulo.

      De acordo com a American Apparel & Footwear Association (AAFA), cerca de 97% das roupas e calçados vendidos no mercado americano são produzidos fora do país, principalmente em países asiáticos como China, Vietnã, Camboja, Bangladesh e Indonésia. Esses centros de produção são os principais alvos da nova rodada de tarifas, que chegam a 54% para produtos chineses, 46% para o Vietnã, 49% para o Camboja, 37% para Bangladesh e 32% para a Indonésia.

      Steve Lamar, presidente e CEO da AAFA, alertou: “se for permitido que essas tarifas persistam, elas acabarão chegando ao consumidor.”

      Aumento de preços pode atingir consumidores mais vulneráveis - Um dos impactos mais imediatos será sentido no setor calçadista, onde 99% dos produtos vendidos nos EUA são importados. Segundo a Footwear Distributors and Retailers of America (FDRA), uma bota de trabalho feita na China, hoje vendida por US$ 77, poderá saltar para US$ 115. Um par de tênis de corrida produzido no Vietnã, atualmente cotado a US$ 155, poderá custar até US$ 220.

      Matt Priest, presidente da FDRA, destacou que a medida atingirá sobretudo as famílias de baixa renda. Ele exemplificou: “Um par de tênis infantil fabricado na China que custa US$ 26 hoje provavelmente terá um preço de US$ 41 na temporada de compras de volta às aulas.”

      Reorganização produtiva enfrenta limites e custos altos - Diante do aumento das tarifas, empresas do setor de vestuário e calçados, como Nike, Gap Inc., Lululemon, Levi’s e Steve Madden, aceleraram a migração de suas fábricas da China para outros países asiáticos nos últimos anos. Ainda assim, a nova política de Trump compromete até mesmo esses esforços, ao atingir também mercados alternativos como Vietnã e Camboja.

      Relatório anual da Lululemon revelou que, em 2024, 40% de sua produção era feita no Vietnã, 17% no Camboja, 11% no Sri Lanka, 11% na Indonésia e 7% em Bangladesh — todos agora afetados pelas tarifas.

      A Steve Madden informou em novembro que reduziria em até 45% suas importações da China neste ano, diante da expectativa de uma tarifa de 60% sobre todos os produtos chineses. A empresa já vinha investindo em alternativas no Camboja, Vietnã, México e Brasil.

      No entanto, especialistas apontam que reconstruir uma cadeia produtiva doméstica seria inviável no curto prazo. O número de empregados na indústria têxtil americana caiu de 139 mil em 2015 para apenas 85 mil em janeiro de 2025, segundo dados do Bureau of Labor Statistics. Além disso, os EUA não possuem estrutura para produzir localmente os mais de 70 componentes necessários para um sapato típico, como cabedais têxteis e cadarços de algodão.

      “Esses materiais simplesmente não existem aqui, e muitos deles nunca existiram nos EUA”, afirmou a FDRA em comunicado ao representante comercial do governo.

      Inflação no vestuário pode surpreender após décadas de estabilidade - Durante as últimas três décadas, os preços de roupas permaneceram praticamente estáveis para os consumidores americanos. De acordo com o Bureau of Labor Statistics, em 2024 os custos eram semelhantes aos de 1994, graças a acordos de livre comércio, produção terceirizada em países de baixa renda e concorrência intensa entre marcas e varejistas.

      Mas esse cenário de estabilidade pode estar chegando ao fim. Matt Priest observou que o retorno de Donald Trump à presidência acentuou a retração no consumo: “eles estão nervosos. Obviamente, eles estão jogando um jogo longo em relação à inflação há vários anos. E eles simplesmente não têm resistência para absorver preços mais altos, principalmente quando são infligidos pelo governo dos EUA".

      Impacto desigual entre empresas e consumidores - Um relatório do banco britânico Barclays indica que algumas empresas conseguirão enfrentar melhor a nova realidade tarifária. Varejistas com poder de barganha elevado, marcas consolidadas e menor dependência da Ásia — como Burlington, Ross Stores, TJX Companies, Ralph Lauren e Dick’s Sporting Goods — devem sofrer menos.

      Já companhias como Gap Inc., Urban Outfitters e American Eagle Outfitters, mais expostas ao mercado asiático e com menor capacidade de ree de preços, tendem a ser as mais prejudicadas.

      Curiosamente, a mudança também foi bem recebida por segmentos que criticam a chamada "moda descartável". A plataforma de revenda ThredUp elogiou a decisão de Trump de eliminar uma isenção fiscal que permitia a entrada diária de milhões de produtos de baixo custo — a maioria oriunda da China — sem pagamento de impostos. “Essa mudança de política aumentará o custo de roupas descartáveis e de produção barata importadas da China, impactando diretamente o modelo de negócios que alimenta a superprodução e a degradação ambiental”, disse a empresa.

      Apesar das divergências, analistas convergem em uma preocupação central: o impacto das tarifas será sentido diretamente pelos consumidores. E, como concluiu a economista Mary E. Lovely, do Peterson Institute for International Economics: “a nova ‘Era de Ouro’ envolverá tricotar nossas próprias calcinhas, bem como encaixar nossos celulares?”.

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