China nega negociações tarifárias com os EUA e critica postura unilateral de Trump
Declarações de Pequim desmentem acenos de Washington e intensificam pressão sobre governo dos EUA, que enfrenta oposição interna e ações judiciais
247 - Em meio a especulações sobre um possível alívio nas tarifas impostas pelos Estados Unidos contra a China, o governo chinês foi categórico ao negar qualquer tipo de negociação em curso com Washington. A informação foi divulgada nesta quinta-feira (24) durante entrevista coletiva do Ministério das Relações Exteriores da China e repercutida originalmente pelo jornal Global Times.
"O que foi noticiado não é verdade. Até onde eu sei, China e EUA não estão tendo nenhuma consulta ou negociação sobre tarifas, muito menos chegando a um acordo", declarou o porta-voz Guo Jiakun. Segundo ele, “essa guerra tarifária foi lançada pelos EUA”, e a posição chinesa continua sendo de disposição ao diálogo, desde que este se baseie em “igualdade, respeito e benefício mútuo”.
O endurecimento do discurso de Pequim vem após sinais contraditórios emitidos pela Casa Branca. Enquanto o presidente dos EUA, Donald Trump, indicou recentemente que as tarifas poderiam cair "substancialmente", sua secretária de imprensa, Karoline Leavitt, afirmou que não há planos para uma redução unilateral das tarifas contra a China. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, reforçou a posição: “Não há planos para o governo Trump agir primeiro na redução de tarifas”, segundo a CNBC e a Reuters.
Essa oscilação na comunicação do governo Trump tem gerado instabilidade nos mercados. De acordo com a Bloomberg, os futuros dos EUA recuaram e o dólar perdeu força diante do aumento da demanda por ativos considerados mais seguros, como o ouro, o franco suíço e o iene japonês.
Internamente, a pressão contra a política tarifária também cresceu. Três dos principais executivos do varejo americano — Doug McMillon (Walmart), Brian Cornell (Target) e Ted Decker (Home Depot) — estiveram na Casa Branca para alertar o presidente sobre os impactos negativos das tarifas. Eles argumentaram que os preços ao consumidor devem subir, as cadeias de suprimento correm risco e que há chance de desabastecimento de produtos nas lojas dos EUA.
Segundo fontes ouvidas pela CNN, os líderes empresariais descreveram um cenário sombrio para os próximos meses caso as tarifas se mantenham. A Forbes destacou estimativas da Federação Nacional do Varejo dos EUA que apontam para uma perda de até US$ 78 bilhões por ano em poder de compra dos consumidores, em apenas seis categorias de produtos.
O cenário adverso também tem gerado desdobramentos legais. Uma coalizão formada por 12 estados americanos entrou com uma ação no Tribunal de Comércio Internacional dos EUA, em Nova York, para suspender as tarifas implementadas por Trump. Os procuradores-gerais dos estados — entre eles Nova York, Illinois e Oregon — alegam que a política tarifária é ilegal, pois viola a Constituição ao ultraar os poderes do Congresso.
"Cada vez mais processos judiciais não são nenhuma surpresa", afirmou He Weiwen, pesquisador do Centro para China e Globalização, ao Global Times. Segundo ele, “as tarifas não têm base legal e violam as regras da OMC”. O governo Trump também é alvo de processos similares por parte do Estado da Califórnia, empresas e comunidades indígenas.
Para o especialista chinês Gao Lingyun, da Academia Chinesa de Ciências Sociais, os EUA estão enfrentando as consequências econômicas das próprias políticas. “O impacto das tarifas pode ter superado o que o novo governo previa”, disse ele. Gao destacou que não há indícios de que Washington tenha recuado de sua postura protecionista, mas que os contratempos internos dificultam o avanço dessa estratégia.
Em tom de advertência, o vice-presidente da Sociedade Chinesa para Estudos da OMC, Huo Jianguo, resumiu a avaliação de Pequim: “Estamos sobriamente cientes de que o objetivo dos EUA de conter e reprimir a China não mudou e não mudará. Os EUA devem mostrar sinceridade e fazer bons gestos se realmente quiserem retornar à mesa de negociações”.
A disputa tarifária entre as duas maiores economias do mundo, iniciada ainda no primeiro mandato de Trump, continua sendo um fator de tensão geopolítica global. A insistência em políticas unilaterais e protecionistas, ao lado de mensagens desencontradas vindas de Washington, não apenas ampliam os riscos para o comércio internacional, como também criam incertezas para os próprios cidadãos e empresas americanas. A China, por sua vez, mantém sua postura de resistência e exige que qualquer avanço venha com base em respeito e reciprocidade.
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