Celso Amorim defende “paz possível” entre Rússia e Ucrânia e alerta para limites do apoio europeu
Assessor vê acordo territorial como inevitável, prevê veto russo à entrada da Ucrânia na Otan e diz que “idealismo sem realismo” pode eternizar o conflito
247 - O assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, afirmou que o governo brasileiro considera essencial buscar a “paz possível” para encerrar a guerra na Ucrânia, ainda que isso envolva concessões territoriais e limites ao apoio internacional a Kiev. As declarações foram dadas pouco antes de Amorim embarcar de Moscou para Pequim com a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As informações são da CNN.
“Não adianta você pensar só na paz ideal se ela não ocorrer nunca. Essa é uma paz possível que leva em conta naturalmente os interesses. E depois evoluções que podem prever um plebiscito daqui a dez anos, cinco”, disse Amorim, sinalizando que uma solução definitiva sobre os territórios em disputa, como a Crimeia, poderá vir apenas no longo prazo.
Ao comentar a posição brasileira, Amorim reconheceu que ela se aproxima da linha geral defendida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas destacou que isso não significa afinidade ideológica entre os dois governos. “É porque é a paz possível”, justificou.
Para o diplomata, um acordo de paz inevitavelmente exigirá algum tipo de concessão territorial nas regiões atualmente sob controle russo. “A paz só será alcançada com uma barganha pelos territórios”, avaliou, citando como exemplo a Crimeia, anexada por Moscou em 2014 sem o reconhecimento da comunidade internacional.
Outro ponto considerado crucial por Amorim é a posição do Kremlin quanto à possível adesão da Ucrânia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Segundo ele, o presidente Vladimir Putin deverá impor um veto à entrada de Kiev na aliança militar ocidental como condição para encerrar o conflito.
Amorim também chamou atenção para o papel da União Europeia, alertando que o apoio incondicional a Volodymyr Zelensky pode não se sustentar diante das dificuldades internas enfrentadas pelo bloco. “Eu acho que a grande responsabilidade são dos europeus. Os europeus dão a impressão de que vão dar um apoio sem limites. E eu não creio que isso ocorrerá. Eu não tô dizendo nem que é certo, nem que é errado, mas eu não creio que isso ocorrerá”, disse, mencionando desafios como a crise migratória e os custos sociais.
As falas do assessor especial ocorreram dias depois do encontro entre Lula e Putin, realizado em Moscou, onde o presidente brasileiro reiterou a disposição do Brasil em contribuir com os esforços diplomáticos para pôr fim à guerra. Durante a reunião, foram discutidas propostas conjuntas com a China voltadas à mediação do conflito.
Amorim reafirmou a posição do Brasil de atuar como facilitador de diálogo e alertou para os riscos de uma insistência em soluções ideais e inatingíveis. Para ele, é preciso realismo diplomático: “Essa é uma paz possível”, repetiu.
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