Brasil busca protagonismo no BRICS e reforça papel do grupo como alternativa ao multilateralismo ocidental
Reunião de chanceleres no Rio de Janeiro destacou o papel do Brasil na mediação de conflitos globais
247 - A mais recente reunião de chanceleres do BRICS, realizada no Rio de Janeiro nos dias 28 e 29 de abril, consolidou o papel do grupo como uma alternativa ao modelo tradicional de governança global. O encontro, que contou com representantes dos 11 países-membros e de nove nações parceiras, foi marcado por um forte apelo ao multilateralismo, à reforma das instituições internacionais e por críticas às sanções econômicas e medidas protecionistas adotadas por potências ocidentais. As informações são da Sputnik Brasil.
Durante o encontro, o Brasil — que ocupa neste ano a presidência rotativa do BRICS — divulgou uma declaração oficial em que expressa preocupação com o aumento do protecionismo comercial e o enfraquecimento das instituições globais. O documento evita mencionar diretamente os Estados Unidos, mas critica práticas como a imposição de tarifas e sanções unilaterais, que “enfraquecem o multilateralismo”.
Para a mestre e doutoranda em ciência política pela Universidade de Brasília (UnB), Isabela Rocha, a reunião evidenciou a relevância da atuação brasileira para o fortalecimento institucional do BRICS. “Observamos que a pauta central é esta: criar um fôlego institucional para fazer com que o BRICS seja mais do que um aglomerado de países para, de fato, ser uma instituição mediadora”, afirmou a analista à Sputnik Brasil.
Rocha também destacou que, diante do enfraquecimento da ONU, o BRICS surge como uma alternativa viável para a mediação de conflitos. “É importante lembrar que a principal missão do Brasil na presidência do BRICS é justamente criar um fôlego institucional para que o grupo possa atuar de maneira mais sólida no cenário internacional”, apontou. Segundo ela, “o BRICS pode realmente surgir como uma alternativa para que possamos fazer essas mediações de maneira efetiva”.
O chanceler russo, Sergei Lavrov, também participou da reunião e elogiou o papel do Brasil como potencial mediador em crises globais, como as guerras na Ucrânia e em Gaza. A posição de Lavrov foi interpretada como um reconhecimento da tradição diplomática brasileira, marcada pelo compromisso com soluções pacíficas e negociação. “Não foram poucas as vezes que o nosso corpo diplomático foi convocado para fazer a mediação de conflitos para que, de fato, chegassem a resoluções pacíficas. É um trabalho que começou com Rio Branco”, lembrou Rocha.
Na mesma linha, o professor de relações internacionais Luiz Felipe Osório ressaltou que o Brasil possui uma postura mais equilibrada e independente do que potências ocidentais como Estados Unidos e União Europeia. Ele avaliou que a ordem internacional atual é marcada por uma lógica imperialista que perpetua desigualdades: “O multilateralismo do pós-guerra, ainda que alicerçado nas instituições, é violento e brutal e não impediu os grandes massacres e as grandes injustiças dos últimos tempos […]. O responsável pela miséria dos povos do mundo […] é o imperialismo”.
Para Osório, o BRICS pode ocupar um espaço central na construção de uma nova ordem global. “Por isso, o BRICS vem ganhando uma importância inédita, pois pode se apresentar como uma alternativa confiável para a retomada da cooperação internacional”, afirmou. Ele reconhece, no entanto, que o grupo ainda caminha com cautela. “O encontro revela que o grupo, criado quase que por acaso, vem se fortalecendo e se consolidando, principalmente após sua expansão. De toda forma, é ainda muito tímido em questões centrais”, analisou.
A expansão do BRICS, com a entrada de novos membros como Egito, Arábia Saudita, Irã e Etiópia, também foi ponto central do encontro. Para a professora Isabela Gama, da Universidade de Abu Dhabi, a diversidade do bloco pode se tornar uma vantagem estratégica, apesar das dificuldades de coordenação. “O BRICS, enquanto grupo, ainda não funciona de forma muito coordenada em muitos assuntos. Todos os membros possuem suas agendas no cenário internacional, que nem sempre vão estar de acordo com outros membros do grupo inteiro”, disse. No entanto, ela acredita que o avanço da expansão pode ajudar a alinhar interesses.
O Brasil, que também liderou a presidência do G20 no ano ado, reafirmou seu compromisso com a reforma do Conselho de Segurança da ONU e com o fortalecimento da representatividade do Sul Global nas instâncias multilaterais. Ao destacar esses pontos, o governo brasileiro busca posicionar o país não apenas como articulador regional, mas como voz relevante na arena global.
A próxima cúpula de líderes do BRICS está prevista para julho, também no Brasil, e deverá aprofundar os debates sobre as reformas institucionais e os mecanismos de cooperação entre os países-membros. Até lá, o Itamaraty segue trabalhando para consolidar o grupo como uma força coordenada frente aos desafios geopolíticos do século XXI.
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