Biden critica atuação de Trump na guerra da Ucrânia: “versão moderna do apaziguamento”
Em sua primeira entrevista desde que deixou a presidência, Biden fez duras críticas ao atual presidente americano
247 - Em sua primeira entrevista desde que deixou a Casa Branca, Joe Biden rompeu o silêncio e fez duras críticas ao atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em conversa com a BBC, Biden classificou a pressão de Trump sobre a Ucrânia para que ceda território à Rússia como "uma versão moderna do apaziguamento", em referência à política adotada pelo ex-primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain, que tentou evitar a guerra com Adolf Hitler em 1938 cedendo parte da Tchecoslováquia à Alemanha nazista.
Para Biden, o presidente russo Vladimir Putin continua determinado a reconstruir esferas de influência perdidas após o fim da União Soviética. Em Delaware, onde concedeu a entrevista, ele afirmou que Putin acredita que a Ucrânia é parte da Rússia e alertou: "Qualquer um que pense que ele vai parar é simplesmente tolo."
Biden manifestou preocupação com o impacto global da política externa de Trump e o possível enfraquecimento da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Segundo o ex-presidente, caso a aliança perca força, isso "mudaria a história moderna do mundo". Ele defende que a Otan permanece essencial para garantir a paz e a democracia no pós-guerra, e que enfraquecer esse pacto pode abrir espaço para o avanço de potências como a China e a Rússia.
Durante a entrevista, Biden também fez críticas à maneira como Trump tem tratado os aliados dos Estados Unidos, citando o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. Ele relembrou o encontro entre Trump e Zelensky ocorrido em fevereiro: "Achei que aquilo não foi digno da América, a forma como aconteceu." E questionou a retórica recente de Trump: "Talvez tenhamos que retomar o Panamá", "talvez precisemos adquirir a Groenlândia", "talvez o Canadá deva ser um [51º estado]". O que diabos está acontecendo aqui"> if (googletag && googletag.apiReady) { googletag.cmd.push(() => { googletag.display(id); }); }
"Que presidente fala assim? Não é isso que somos. Somos a favor da liberdade, da democracia, da oportunidade — não do confisco", disse Biden, lamentando o que considera um desvio da tradição diplomática americana.
Outro ponto abordado foi o papel dos EUA no apoio à Ucrânia desde o início da guerra. Críticos alegam que Biden teria dado apoio suficiente para resistir à invasão russa, mas não o bastante para vencê-la. Ele rebateu: "Demos a eles [Ucrânia] tudo o que precisavam para garantir sua independência", e completou: "Estávamos preparados para responder de forma mais agressiva se, de fato, Putin agisse novamente."
"O que Putin faria se as coisas ficassem realmente difíceis para ele? Ameaçaria o uso de armas nucleares táticas. Isto não é um jogo nem uma roleta", advertiu, explicando que sua cautela visava evitar uma escalada que pudesse levar a uma guerra nuclear.
Em tom reflexivo, Biden reconheceu que está mais tranquilo quanto ao futuro da democracia americana, pois acredita que parte do Partido Republicano está se distanciando de Trump: "Porque acho que o Partido Republicano está acordando para o que Trump representa." Ainda assim, reforçou que os tempos exigem vigilância: "Democracia — cada geração tem que lutar por ela."
Questionado sobre sua desistência da corrida presidencial, Biden afirmou. "Não acho que teria feito diferença. Saímos num momento em que tínhamos uma boa candidata, com a campanha totalmente financiada." Ele classificou a decisão como difícil, mas necessária: "Foi uma decisão difícil", disse, em tom contido, sem expressar arrependimento.
Ao final da entrevista, Biden reafirmou sua convicção no papel dos EUA como força de estabilidade global. "Somos a única nação em posição de ter a capacidade de unir as pessoas, de liderar o mundo. Caso contrário, teremos a China e a antiga União Soviética, a Rússia, se destacando."