Liberdade de imprensa entra em colapso em metade dos países, aponta índice RSF
Relatório da organização Repórteres Sem Fronteiras aponta o Brasil como exceção: desde a saída de Bolsonaro, o país ganhou 47 posições no ranking
247 - Pela primeira vez desde a criação do Índice Mundial de Liberdade de Imprensa, a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) constatou que o exercício do jornalismo se tornou precário em mais da metade dos países avaliados. O relatório, divulgado nesta sexta-feira (2), revela que, entre os 180 países e territórios analisados, 90 enfrentam um ambiente “difícil” ou “muito grave” para a atividade jornalística, enquanto apenas 42 oferecem condições “boas” ou “relativamente boas”, informa a Folha de S. Paulo.
O levantamento da RSF também mostra um cenário de deterioração global: mais de 60% dos países caíram no ranking em comparação com a edição anterior. A organização aponta que a crise da liberdade de imprensa está diretamente ligada a fatores como a fragilidade econômica dos meios de comunicação, a concentração da propriedade midiática e a instrumentalização política da publicidade estatal.
Apesar do cenário negativo, o Brasil registrou uma notável melhora: subiu 47 posições desde 2022 e ocupa agora o 63º lugar. O avanço é atribuído ao fim do governo de Jair Bolsonaro (PL), cuja gestão foi marcada por ataques sistemáticos à imprensa. “O Brasil vive um ambiente menos hostil à imprensa desde a saída de Bolsonaro e tem um bom desempenho no contexto global", afirmou Artur Romeu, diretor do escritório da RSF para a América Latina.
Ainda assim, Romeu alertou para os desafios persistentes no país. “Mas o país continua com problemas sérios em relação à segurança dos jornalistas, com ameaças e assassinatos, e à credibilidade da imprensa, com campanhas de ódio contra profissionais, que, por vezes, chegam a se autocensurar por medo de represálias".
Ainda na América Latina, o Peru perdeu 53 posições em dois anos e ocupa agora o 130º lugar, em razão de assédio judicial, campanhas de desinformação e pressão sobre a mídia independente. El Salvador (135º), sob o governo de Nayib Bukele, segue em queda livre, com 61 posições a menos desde 2020.
O México (124º) continua sendo o país mais perigoso da região para jornalistas, enquanto a Nicarágua (172º) figura como o pior país do continente para a liberdade de imprensa, superando Cuba (165º). A Venezuela ocupa a 160º posição.
Já na Argentina, o presidente Javier Milei é acusado de estigmatizar jornalistas, desmontar a mídia pública e manipular a publicidade estatal. O país caiu 47 posições desde 2022 e ocupa agora o 87º lugar.
Desigualdade regional e repressão sistemática - Segundo o relatório, o ambiente mais hostil para jornalistas se encontra em 42 países classificados como de situação “muito grave”. A Palestina (163º), onde cerca de 200 jornalistas foram mortos desde o início do genocídio perpetrado por Israel, exemplifica esse cenário. Também figuram nesta categoria nações como Uganda (143º), Etiópia (145º), Ruanda (146º), Coreia do Norte (179º) e Eritreia (180º).
No Oriente Médio, apenas o Qatar (79º) escapou das piores classificações. Em todos os demais países da região, a imprensa sofre com a repressão de regimes autoritários e instabilidade econômica. A RSF denuncia que “a imprensa local está encurralada entre a repressão de regimes autoritários e a persistente insegurança econômica”.
Nos Estados Unidos (57º), o relatório aponta um retrocesso na liberdade de imprensa durante o segundo mandato do presidente Donald Trump.
Colapso econômico e desertos de notícias - Um dos pontos mais alarmantes do relatório é a constatação de que, em cerca de um terço dos países analisados, veículos de comunicação estão fechando regularmente por falta de recursos. A RSF destaca que nos Estados Unidos, apesar de sua influência global, extensas áreas estão se tornando “desertos de notícias” por causa da falência de jornais locais.
A metodologia do índice baseia-se em um questionário aplicado a jornalistas, acadêmicos, representantes da sociedade civil e empresários de mídia. São avaliados cinco critérios: contexto político, arcabouço legal, situação econômica, ambiente sociocultural e segurança.
O relatório deste ano escancara o agravamento das ameaças à liberdade de imprensa no mundo — seja pela violência direta, pela repressão institucional ou pela precariedade econômica.
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