PF: Cruzeiro lavou R$ 3 milhões do PCC para a compra de jogador

247 - Policiais federais indicaram em uma investigação que representantes do Cruzeiro (MG) lavaram R$ 3 milhões da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), sediada no estado de São Paulo, mas com ramificações em mais de 20 estados brasileiros, incluindo Minas Gerais. De acordo com a PF, as irregularidades envolveram a compra do atacante Diogo Vitor pela equipe mineira em 2021.

Por ter contratado o jogador, o normal seria que o clube mineiro pagasse a William Barile Agati, empresário dono de imóveis de alto padrão em São Paulo, de uma fazenda de 12 mil hectares em Mato Grosso e detinha os direitos econômicos do atleta. Mas investigadores constataram o caminho inverso do dinheiro: entre 11 de fevereiro e 16 de março de 2021, a F1rst Agência de Viagens e Turismo, empresa de Agati, transferiu R$ 3 milhões para o Cruzeiro. Três dias após a última transferência, o clube começou a devolver parte do dinheiro, um total de R$ 1,58 milhão, para a conta pessoal do empresário e para a Burj Motors, outra empresa de Agati.

As informações divulgadas pela Revista Piauí apontaram que Agati tem “vínculos estreitos com a facção Primeiro Comando da Capital (PCC)”. Segundo o Ministério Público Federal, Agati também traficou cerca de duas toneladas de cocaína para o sul da Espanha entre 2019 e 2021, utilizando navios partindo do Porto de Paranaguá (PR) e um jato executivo Dassault. De acordo com um delator do PCC, essa aeronave transportava tanto jogadores de futebol quanto cocaína pura do Brasil para a Europa.

O empresário teria participado de um consórcio formado por criminosos brasileiros e europeus para resgatar da prisão em Moçambique Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, um dos maiores narcotraficantes brasileiros, por meio do suborno a altas autoridades do país africano. Ele também teria ordenado o assassinato de quatro membros de uma quadrilha que furtaram um carregamento de cocaína no litoral paranaense.

O jogador deixou o Cruzeiro sem ter disputado uma partida sequer. O negócio não foi vantajoso para o clube. Agati também teria saído prejudicado, pois entregou R$ 3 milhões ao time mineiro e só recebeu de volta metade do valor. O Ministério Público Federal entende que o objetivo de Agati não era obter lucro, mas lavar parte do dinheiro adquirido com o tráfico de cocaína.

Carreira

Dos 13 aos 19 anos, o atacante Diogo Vitor foi tratado como uma grande promessa no Santos Futebol Clube. Chegou a ser cogitado pela equipe B do Real Madrid e por clubes portugueses. Em 2016, foi promovido ao elenco principal do Santos e ou a ter sua carreira gerenciada por William Barile Agati.

Em 2018, durante o Campeonato Paulista, Diogo Vitor marcou o gol de empate no clássico contra o Corinthians, no estádio do Pacaembu. Pouco mais de duas semanas depois, foi flagrado em um exame antidoping por uso de cocaína. Como consequência, ficou impedido de atuar profissionalmente por um ano e meio, período em que teve o contrato suspenso pelo Santos e deixou de receber salário. Durante esse tempo, Agati ou a arcar com todas as despesas do jogador.

Em 2020, o Santos rescindiu o contrato de Diogo Vitor. Meses depois, ele assinou com a equipe sub-23 do Corinthians, mas foi dispensado em janeiro de 2021 sem nunca ter jogado pelo clube. Em seguida, ele ou a integrar o elenco do Cruzeiro.

Outro lado

Em nota, a assessoria do Cruzeiro informou que a atual gestão assumiu a SAF do clube em maio de 2024 e, portanto, não tem conhecimento sobre a transação financeira com William Agati. “Contudo, o Cruzeiro SAF está à disposição das autoridades, sem medir esforços, para colaborar com o que for necessário”.

O advogado Sérgio Santos Rodrigues, presidente do Cruzeiro em 2021, afirmou à Revista Piauí que Diogo Vitor foi cedido gratuitamente ao clube e que as transferências bancárias entre o Cruzeiro e o empresário se referem a um contrato de empréstimo feito por Agati ao time mineiro, sem relação com o jogador. “Não houve compra de e [do atacante], não. Foi pedido uma oportunidade [dada] para o Diogo tentar voltar a jogar”, disse Rodrigues.

Saiba mais

Entre seus títulos internacionais, o Cruzeiro tem 2  Libertadores (1976 e 1997), 2 Supercopas da Libertadores (1991 e 1992) e 1 Recopa Sul-Americana (1998), 1 Copa Master da Supercopa (1995), e 1 Copa Ouro (1995).

O time ganhou 4 Campeonatos Brasileiros: (1966, 2003, 2013 e 2014) e 6 Copas do Brasil (1993, 1996, 2000, 2003, 2017 e 2018). Conquistou 1 Campeonato Brasileiro - Série B (2022). O Cruzeiro também ganhou 2 vezes a Copa Sul-Minas (2001 e 2002) e 1 Copa Centro-Oeste (1999).