Roberto Tardelli: "A polícia deixou de inspirar respeito para inspirar terror"
Advogado critica ações policiais no Brasil, aponta descontrole das corporações e responsabiliza o Judiciário por omissões
247 - O advogado criminalista e procurador de justiça aposentado Roberto Tardelli, integrante do Grupo Prerrogativas, abordou, em entrevista ao Boa Noite 247, questões relacionadas à segurança pública no Brasil, criticando práticas policiais e a estrutura do Judiciário. O contexto da discussão foi o decreto anunciado pelo governo federal para regular o uso da força policial.
Tardelli destacou que a relação da sociedade com as forças policiais se deteriorou significativamente: "A polícia hoje deixou de ser uma fonte de respeito e ou a ser um órgão de terror. Nós temos medo da polícia não pelo que possamos estar fazendo de errado, mas pelo simples fato de sermos abordados por ela, sem saber as consequências dessa abordagem."
Comentando sobre o decreto presidencial que restringe o uso de armas por policiais a situações em que há comprovação de ameaça armada, Tardelli afirmou: "Esse decreto tenta balizar o óbvio. Parece algo que uma criança compreenderia, mas enfrenta resistência de corporações que estão fora de controle."
O advogado também criticou a formação das forças de segurança, mencionando a exclusão de disciplinas como direitos humanos do currículo da Polícia Rodoviária Federal durante o governo Bolsonaro. "Nós, como sociedade civil, precisamos tomar para nós a responsabilidade de acompanhar a formação dessas forças. Não sabemos quem elabora os currículos, quem ministra as aulas e qual controle é exercido sobre isso. Sem mudança na formação, não haverá avanço."
Sobre os números da letalidade policial, Tardelli apresentou dados alarmantes: "A polícia brasileira mata três vezes mais do que todas as polícias do G15 juntas. O estado de São Paulo, por exemplo, contabilizou mais de 500 mortes apenas até julho deste ano."
Ele também responsabilizou o Judiciário e o Ministério Público por contribuírem com o quadro atual: "O Poder Judiciário aceita ações policiais sem discussão. Apenas 3% das alegações de tortura são consideradas. A maioria das denúncias é simplesmente ignorada ou desacreditada."
O advogado defendeu mudanças estruturais na segurança pública, incluindo a desmilitarização da polícia. "Não faz sentido uma polícia militar em tempos de paz, nem uma justiça militar numa sociedade civil. Precisamos de uma política nacional de segurança pública e de um governo federal que tenha força para enfrentar as resistências estaduais e corporativas."
Tardelli concluiu expressando ceticismo em relação ao avanço das mudanças necessárias: "O controle sobre as forças de segurança foi perdido há muito tempo. O Judiciário precisa ser parte dessa conversa. Sem alterações profundas, continuaremos nesse ciclo de violência." Assista:
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