Quem quer Pochmann fora do IBGE? Presidente do instituto rebate ataques e destaca avanços na pesquisa estatística brasileira
À TV 247, presidente do IBGE também disse que o Brasil tem como principais desafios aumentar a taxa de investimento e gerar empregos de qualidade
247 - O presidente do IBGE, Marcio Pochmann, concedeu uma entrevista à jornalista Hildegard Angel, da TV 247, no programa Conversas com Hilde, abordando os desafios e transformações que o instituto tem enfrentado sob sua gestão. Ele refutou críticas e destacou os avanços na modernização das pesquisas, além de ressaltar a importância da democracia na condução do trabalho estatístico no Brasil.
Pochmann iniciou sua análise contextualizando a história do IBGE, que, segundo ele, se consolidou ao longo de períodos não democráticos no Brasil. "O sistema estatístico brasileiro se formou em 1871, em um contexto de escravidão e de um país majoritariamente analfabeto. ou por grandes transformações nos anos 1930, já sob o Estado Novo, e sofreu forte repressão e mudanças no período militar, entre 1967 e 1973", explicou.
Ele salientou que, atualmente, a instituição atravessa um novo momento de transformação, agora dentro da democracia, o que permite maior debate e participação social, inclusive servidores da instituição expressarem insatisfações.
"Envolver as pessoas e garantir que elas se posicionem faz parte do processo democrático. O debate é importante", disse.
Democracia e resistência à mudança - Desde que assumiu o IBGE em 2023, Pochmann tem enfrentado resistência interna e externa. Ele destacou que, antes de sua chegada, a instituição ava por um período de "anomia", com sucessivas trocas na presidência – foram seis presidentes em sete anos – e um ambiente de certa acomodação.
Pochmann ressaltou que, antes de sua chegada, muitas pesquisas fundamentais estavam engavetadas por falta de recursos ou prioridade dos governos anteriores. "O Censo e a POF deveriam ocorrer a cada cinco anos, mas a última edição foi em 2017, e não havia orçamento para realizá-los em 2022", revelou.
Segundo ele, foi necessário convencer o governo do presidente Lula sobre a importância dessas pesquisas, o que resultou na liberação de verbas para a realização dos levantamentos.
A crítica velada a setores que resistem às mudanças no IBGE é acompanhada de uma defesa da modernização do instituto. Entre os principais avanços sob sua gestão, ele citou a retomada de pesquisas essenciais que haviam sido interrompidas, como o Censo Agropecuário, a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) e a Pesquisa de Inovação Tecnológica nas Empresas (Pintec).
A nova face do Brasil - Além disso, em 2026, quando a instituição completa noventa anos, três novas pesquisas serão lançadas para dar um "panorama" sobre o estado geral da sociedade brasileira, disse Pochmann.
"As pesquisas apresentarão a nova realidade brasileira, a de orçamento familiar, que será usada para atualizar a pesquisa de inflação. Faremos também a pesquisa de inovação, que vai às empresas para saber o grau de inovação e ter uma radiografia do meio urbano. Também teremos o censo agropecuário, florestal e aquífero, para mostrar a radiografia do campo brasileiro e a questão das florestas e dos recursos naturais", afirmou.
A Pesquisa de Orçamentos Familiares, que está em andamento desde novembro de 2023, pretende traçar um retrato detalhado dos hábitos de consumo e do padrão de vida da população brasileira. "Queremos entender como o Brasil vive hoje: o que consome, como emprega seu tempo, quais são as insuficiências alimentares da população. Isso será essencial, inclusive, para atualizar os índices de inflação", afirmou.
Já a Pesquisa de Inovação Tecnológica nas Empresas busca mapear o grau de inovação no setor produtivo brasileiro, enquanto o Censo Agropecuário, que envolverá mais de 37 mil recenseadores visitando 5,5 milhões de estabelecimentos rurais, oferecerá uma radiografia do campo brasileiro. "Além da produção e do faturamento, queremos entender o impacto das novas tecnologias no campo", disse Pochmann.
A nova geografia econômica do Brasil - Outro ponto levantado por Pochmann foi a mudança no eixo dinâmico do Brasil. "Há um deslocamento econômico das regiões litorâneas para o interior do país. O governo tem investido na integração sul-americana e na expansão da infraestrutura ferroviária e rodoviária para viabilizar esse processo", pontuou. Segundo ele, enquanto 70% da população brasileira ainda vive próxima ao litoral, as regiões mais dinâmicas economicamente estão no interior.
Esse fenômeno, segundo o presidente do IBGE, impõe desafios para o planejamento urbano e econômico. Ele questionou se o Brasil deveria seguir o exemplo da China, que investiu na interiorização do desenvolvimento por meio da construção de novas cidades. "Tem futuro quem planeja. Quem não planeja, tem destino", refletiu.
O principal desafio do governo Lula e do Brasil estruturalmente - Pochmann também argumentou na entrevista que um dos principais desafios enfrentados pelo Brasil atualmente é aumentar a taxa de investimento, ampliando empregos de qualidade e com bons salários.
Ele classificou a economia brasileira atual como "de baixo salário", o que, apesar de uma série de indicadores positivos de emprego e avanço na renda. Segundo ele, o nível é comparativamente baixo.
"Um dos principais desafios do Brasil hoje é aumentar a taxa de investimento. Apesar de a atividade econômica crescer e o desemprego estar em baixa, a taxa de investimento precisa ser ampliada, porque ela protagoniza empregos de melhor qualidade", disse.
A desinformação como ferramenta de poder - Pochmann também alertou para o que chamou de "negacionismo estatístico" – a tentativa de desacreditar as pesquisas e os dados oficiais. "Já tivemos tentativas de desqualificar as estatísticas sobre queimadas na Amazônia, sobre vacinação, e agora há um esforço para desacreditar os dados econômicos e sociais", afirmou. P
ara ele, a manipulação da desinformação se tornou uma ferramenta de poder, dificultando a compreensão da realidade.
Apesar das resistências, o presidente do IBGE afirmou que segue comprometido em transformar o instituto para garantir que ele responda às necessidades da sociedade. "O IBGE precisa se modernizar, integrar bancos de dados e estar atualizado tecnologicamente. Esse é o grande desafio que estamos enfrentando", concluiu.
Assista ao "Conversas com Hildegard Angel":
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