"Os juros do Banco Central concentram renda e inviabilizam o país", diz Paulo Nogueira Batista Júnior
Economista critica política monetária atual, defende tentativa de Haddad com IOF e aponta limites impostos pela meta de inflação herdada do governo Temer
247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o economista Paulo Nogueira Batista Júnior apontou que a atual política de juros elevados adotada pelo Banco Central não encontra justificativa técnica sólida e tem efeitos profundamente negativos sobre a economia brasileira. Segundo ele, o patamar elevado da taxa Selic contribui para a concentração de renda, penaliza o investimento produtivo e gera obstáculos ao ajuste fiscal, ampliando o peso da dívida pública.
“A maior fonte de gastos do governo brasileiro, do Tesouro Nacional, são os juros da dívida pública, que dependem em larga medida da taxa de juro do Banco Central”, afirmou. Para o economista, essa taxa não apenas transfere renda para quem já possui capital financeiro como também estimula a fuga de recursos ao exterior. “Coloca dinheiro na mão de quem já tem e de quem pode a qualquer momento sair do país”, completou.
Paulo Nogueira defendeu a iniciativa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de alterar a cobrança do IOF sobre remessas ao exterior. A medida, que visava desestimular a evasão de capitais, foi parcialmente revogada após forte reação de setores empresariais e do Congresso Nacional. “Foi muito boa a tentativa, o problema foi a falta de sustentação política”, avaliou. Ele criticou o recuo rápido do governo diante da pressão: “Não pode improvisar um aumento e recuar em poucas horas”.
Na análise de Batista Jr., a fixação da meta de inflação em 3% — a mais baixa desde o início do regime de metas — é um dos fatores que limita a possibilidade de redução dos juros. Ele lembrou que a meta foi definida ainda durante o governo de Michel Temer, sob justificativas frágeis: “A razão era que Colômbia e Chile tinham 3%. Isso é argumento científico?”, ironizou. Para ele, o governo Lula perdeu uma oportunidade estratégica ao não revisar a meta logo no início de sua gestão. “Se tivesse feito isso em 2023, estaríamos hoje num mundo diferente, com mais liberdade de ação para o Banco Central.”
Apesar das críticas à condução atual da política monetária, Paulo Nogueira vê com reservas a postura do atual presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. Embora reconheça a complexidade do cargo, espera que o novo comando rompa com a linha anterior: “Para que mudou o presidente do Banco Central, então?”, questionou. Ele destacou, contudo, que Galípolo pode abrir novas frentes ao buscar cooperação com a China para ampliar a presença de recursos estrangeiros no Brasil. “Se conseguir trazer investimentos chineses para a compra de títulos brasileiros, isso pode reduzir o poder de barganha da Faria Lima sobre o Tesouro”, disse.
O economista também rejeitou a tese de que a atual taxa de inflação justifique a manutenção da Selic em níveis tão altos. “A inflação está um pouco acima da meta, mas isso não configura crise inflacionária. O Banco Central pode escrever uma carta explicando e seguir com os esforços de controle. O que não dá é para continuar com essa política que paralisa o crescimento”, argumentou.
Paulo Nogueira concluiu sua avaliação defendendo que o governo federal não pode se deixar intimidar por pressões do mercado financeiro e por narrativas alarmistas. Para ele, é necessário retomar o controle sobre os instrumentos de política econômica e garantir condições para que o país cresça com estabilidade e justiça social. Assista:
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: