“O problema do preço dos alimentos é de oferta, não de demanda”, diz Belluzzo
Para o economista, aumento da taxa de juros não resolve a inflação causada por choques de oferta, como os que atingem alimentos e combustíveis
247 - Em entrevista concedida ao Boa Noite 247, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo avaliou os recentes movimentos da economia internacional e seus reflexos no Brasil, com destaque para o comportamento dos preços dos alimentos. Segundo Belluzzo, os choques que vêm pressionando os alimentos são essencialmente de oferta e não devem ser combatidos com o aumento da taxa de juros.
“A gente tem um problema agora nos alimentos que vem de um problema de oferta, e aí você sobe a taxa de juros para combater esse choque, como foi com os combustíveis lá atrás”, explicou. Para Belluzzo, essa abordagem é inadequada porque ignora a origem real das pressões inflacionárias: “Essa formatação, essa forma que as relações internacionais tomaram, nos deixa numa posição muito vulnerável”.
O economista criticou a estrutura atual da política monetária brasileira, centrada no regime de metas de inflação. Segundo ele, essa política é restrita demais para lidar com choques de natureza externa ou estrutural. “O regime de metas é muito para cuidar dessas coisas. Aliás, como de resto, outros métodos também são”, afirmou.
Belluzzo também comentou a recente valorização do dólar, que ultraou a marca de R$ 5,90. “A desvalorização do real tem um impacto muito grande na inflação. E, para combatê-la, o que se usa hoje é taxa de juros, para diminuir o hiato entre a taxa de juros americana e a brasileira”, explicou. No entanto, ele ponderou que esse mecanismo acaba alimentando um ciclo vicioso de encarecimento, especialmente para países cujas moedas não são conversíveis.
“Depois de 1971, quando houve a desvinculação do dólar com o ouro, as taxas de câmbio se tornaram flutuantes, e o movimento de capitais financeiros ou a determinar tudo”, afirmou. Ele acrescentou: “Se você chega no aeroporto de Frankfurt com uma nota de R$ 100, eles mandam chamar a polícia, porque não é conversível. Isso dá uma desvantagem muito grande”.
Sobre as tensões comerciais entre Estados Unidos e China, Belluzzo alertou que a elevação das tarifas sobre produtos chineses pode provocar efeitos contraditórios. “A tentativa de se fazer uma correção do déficit comercial acaba aprofundando o problema”, disse. “Você cria uma convulsão sistêmica, e aí precisa de outras soluções”.
O economista também observou que o governo chinês busca contornar os impactos da guerra comercial com os EUA por meio de políticas de incentivo ao consumo interno. “Eles estão antecipando uma queda nas exportações e já têm uma política para incentivar o consumo. Isso vai instigar o avanço tecnológico e das empresas que estão sob controle público e privado”, afirmou.
Ao final, Belluzzo criticou a forma linear como se costuma interpretar fenômenos econômicos complexos. “A gente precisa abandonar um pouco o hábito de pensar de forma linear e perceber que as decisões provocam efeitos contraditórios. É o que a gente está observando”. Assista:
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