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      "O Brasil pode contar sua própria história com qualidade": Denise Del Vecchio reflete sobre Oscar e o futuro do cinema nacional

      Atriz analisa reconhecimento internacional, denuncia desigualdades na indústria cinematográfica e cobra mais investimento em políticas culturais no Brasil

      (Foto: Reuters | Reprodução)
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      247 - A atriz, dramaturga e diretora Denise Del Vecchio participou do programa Boa Noite 247, onde comentou a histórica vitória do filme brasileiro "Ainda Estou Aqui" no Oscar de Melhor Filme Internacional e refletiu sobre a indicação de Fernanda Torres a Melhor Atriz Coadjuvante. Em uma conversa aprofundada, Del Vecchio celebrou o reconhecimento internacional, mas destacou as contradições da indústria cinematográfica, criticou o etarismo e cobrou mais incentivos à produção cultural no Brasil.

      "Foi uma explosão de alegria ver essa mobilização nacional. Os blocos de carnaval, os rituais de boas energias, tudo isso é reflexo da necessidade que temos de nos autovalorizarmos", afirmou Del Vecchio. No entanto, a atriz ponderou que esse reconhecimento partiu do exterior, e não de um fortalecimento interno da indústria cultural brasileira. "Infelizmente, essa valorização veio através de um reconhecimento estrangeiro, mas não importa. O que importa é que mostramos que temos capacidade técnica e artística para contar a nossa própria história."

      A atriz também elogiou Fernanda Torres pelo desempenho na campanha do Oscar, destacando sua postura durante a premiação. "Fernanda foi absolutamente genial. Ela não escorregou em nenhum momento, sempre ressaltando a história de Eunice Paiva e a importância da resistência e do afeto no filme", afirmou.

      O etarismo no Oscar e os padrões da indústria cinematográfica

      Denise Del Vecchio criticou os padrões de escolha da Academia de Hollywood, questionando a decisão que deixou Fernanda Torres e Demi Moore sem a estatueta, favorecendo a jovem atriz Mikaela Madson. "Não vi o filme dela, mas prêmio é uma questão delicada porque trabalha com a subjetividade de quem vota e também com os interesses da indústria", observou. "A Mikaela é jovem, deve render muito financeiramente para o cinema norte-americano. Uma premiação sempre tem injustiças."

      Ela destacou o problema estrutural do etarismo na indústria cinematográfica, que privilegia atrizes mais jovens enquanto limita as oportunidades para mulheres maduras. "Os homens podem envelhecer e continuam recebendo papéis relevantes. As mulheres, não. No Brasil, uma atriz da minha idade só entra em cena para fazer uma velhinha morrendo ou uma avó boazinha servindo chá", criticou. "Na Europa, isso é menos forte. O cinema inglês, por exemplo, tem mulheres mais velhas atuando de forma natural, sem a pressão por cirurgias e procedimentos estéticos. Nos EUA e no Brasil, é diferente."

      Dados levantados pela Sky News indicam que, em quase um século de premiações do Oscar, apenas 30 mulheres acima dos 40 anos foram premiadas com a estatueta de Melhor Atriz, enquanto 63 homens com mais de 40 anos receberam o prêmio de Melhor Ator. Para Del Vecchio, isso reforça como a indústria do entretenimento continua reproduzindo padrões ultraados de juventude e beleza como critérios determinantes.

      O impacto do cinema e a falta de incentivo

      A vitória do filme brasileiro no Oscar também levantou questionamentos sobre as políticas culturais no Brasil. Del Vecchio cobrou maior investimento no setor audiovisual e um debate mais amplo sobre cultura. "A política cultural não pode ser só dinheiro. Tem que haver um programa estruturado para todo o Brasil. Espero que esse momento de entusiasmo nos mobilize para exigir políticas culturais mais efetivas."

      Ela também criticou a falta de incentivo à memória histórica e o descaso com temas ligados à ditadura militar. "Produzimos muito pouco sobre a ditadura. Tivemos uma geração que abordou o tema, mas hoje isso é quase esquecido. Os argentinos exploraram muito mais esse ado do que nós. Agora, vemos que há público interessado em conhecer a história da resistência no Brasil."

      Denise Del Vecchio ainda mencionou a polêmica sobre os militares acusados de crimes na ditadura que seguem recebendo pensões do Estado. "Isso me envergonha. Como ninguém tomou uma atitude? Esse filme tem que ser uma alavanca para cobrar justiça. Ainda não sabemos onde está o corpo de Rubens Paiva, e os torturadores seguem sendo sustentados com dinheiro público."

      A atriz se mostrou esperançosa com o julgamento próximo do Supremo Tribunal Federal, que pode reabrir processos contra militares acusados de desaparecimentos forçados. "Se o STF decidir que crimes de desaparecimento continuam em curso, poderemos ver uma revisão histórica. Será um o essencial para a justiça."

      Para Del Vecchio, o sucesso do filme deve servir como um estímulo para que artistas e produtores culturais pressionem o governo por mais incentivos e reconhecimento. "O cinema pode ser uma ferramenta poderosa de transformação social e de preservação da nossa história. Espero que estejamos prontos para aproveitar essa oportunidade." Assista: 

       

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