Justiça sob pressão: “Adriana morreu três vezes”, diz Kakay sobre erro judicial em Brasília
Jurista defende revisão do julgamento de Adriana Vilela e denuncia uso político da Justiça e da mídia em caso marcado por confissões ignoradas
247 - Em entrevista ao Boa Noite 247, o criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, fez um contundente alerta sobre o que classifica como “o maior erro judiciário da história de Brasília”. A fala se refere à condenação de Adriana Vilela, acusada de mandar matar os pais e a empregada da família em 2009, no que ficou conhecido como O crime da 113 Sul — tema de documentário recente da Globoplay.
“Adriana morreu três vezes”, resumiu Kakay. “Primeiro ao perder os pais de forma brutal. Depois, quando foi falsamente acusada. E, por fim, ao ser condenada num julgamento escandaloso, completamente dissociado das provas do processo.”
Crime bárbaro, julgamento distorcido
O assassinato do advogado José Guilherme Vilela, de sua esposa Maria Vilela e da empregada do casal com mais de 70 facadas abalou Brasília. Os autores confessos, Leonardo e Paulinho, alegaram motivação pessoal, mas a investigação acabou mirando em Adriana, filha do casal, como suposta mandante. Para Kakay, a acusação não se sustenta.
“Fizemos uma prova negativa, o que é raríssimo no processo penal”, explicou. “Mostramos com uma linha do tempo irrefutável que Adriana não estava na cena do crime. Nem polícia nem Ministério Público conseguiram refutar isso.”
A investigação teve elementos absurdos desde o início. “A primeira delegada alegou ter recebido uma revelação de uma vidente. Chegou a dizer que viu a vítima piscar para ela num jornal, apontando a filha como culpada. Foi afastada e presa por forjar provas”, denunciou o advogado.
Condenação sem provas, omissão institucional
Segundo Kakay, o caso revela o uso político da estrutura judiciária. “O Ministério Público transformou o processo num trampolim para promoção pessoal. A polícia civil, que tem quadros competentes, foi usada de forma seletiva. E a mídia, sobretudo naquela época, destruiu a imagem da Adriana.”
O jurista afirma que até uma testemunha-chave foi coagida para tentar alterar seu depoimento. “Essa senhora deu um relato consistente, localizou Adriana em outro endereço no horário do crime, com comprovação por celulares, horários de TV e recibos. A polícia tentou quebrá-la com sete horas de interrogatório, o que é criminoso”, destacou.
Mairlon: 14 anos preso sem envolvimento
Outro personagem do caso também foi destacado por Kakay. Trata-se de Mairlon, condenado mesmo sem qualquer participação no crime. “Eu não sou advogado dele, mas estudei o processo e pedi sua absolvição no júri. Ele foi incluído na história por conveniência, porque precisavam de um terceiro nome para sustentar a nova versão dos réus.”
O Innocence Project Brasil, liderado por Dora Cavalcanti, assumiu recentemente a defesa de Mairlon. “É um escândalo. Ele está há 14 anos preso por um crime que não cometeu. Ninguém vai devolver esses anos de liberdade roubada.”
Documentário provocou reavaliação pública
Kakay ite ter sido inicialmente contrário à produção do documentário. “Achava que expunha demais a Adriana. Mas reconheço que foi bem feito e provocou uma mudança na percepção pública. Muita gente que acreditava na culpa ou a duvidar.”
Para ele, o julgamento técnico ainda pode corrigir o que chama de “aberração jurídica”. O recurso da defesa está nas mãos do ministro Sebastião Reis, no Superior Tribunal de Justiça. “Mesmo o relator, que negou o recurso, escreveu em seu voto que não há provas de responsabilidade. Isso, por si só, já deveria bastar para absolvê-la”, concluiu. Assista:
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: