"Eu nunca entendi como alguém pode ser cristão e não ser socialista", diz Frei Betto
Religioso defende que valores cristãos autênticos estão em plena sintonia com os ideais do socialismo
247 - Durante participação no programa Boa Noite 247, Frei Betto afirmou que a coerência entre fé cristã e os princípios do socialismo é inegável. Para o religioso, figuras históricas como Pepé Mujica e Fidel Castro, mesmo se declarando ateus, viveram de forma mais alinhada aos valores evangélicos do que muitos que se dizem crentes. O tema foi abordado a partir da reflexão sobre a morte de Mujica e a influência do cristianismo primitivo na concepção de uma sociedade igualitária.
"Eu nunca entendi como alguém pode ser cristão e não ser socialista", afirmou. Frei Betto sustentou que os valores centrais do Evangelho, como partilha, justiça social e o amor ao próximo, são também os fundamentos do socialismo. Segundo ele, “todo cristão verdadeiro, coerente com o evangelho, é um comunista sem saber. E todo comunista coerente com os princípios do comunismo é um cristão sem crer”.
A entrevista destacou o legado do ex-presidente do Uruguai, que, embora ateu, viveu com radical desapego material e compromisso com o bem comum. “Eu não conheço ninguém que viveu mais intensamente, coerentemente os valores do Evangelho do que o Pepe Mujica”, disse. Para Frei Betto, Mujica representa um modelo de liderança ética rara nos tempos atuais. "Um homem que não tinha nenhum tipo de apego material, pelo contrário, absolutamente desprendido."
Frei Betto também lembrou de sua amizade com Fidel Castro e da entrevista que deu origem ao livro Fidel e a Religião, marco na abertura do debate religioso dentro do socialismo cubano. “Foi a primeira vez que um líder comunista no poder declarou que a religião pode ser sim um ópio do povo, mas pode ser também um fator de libertação.”
O dominicano defendeu uma visão dialética da política e da religião. “A política serve para libertar e serve para oprimir, depende de como é implementada. A religião também.” Para ele, Jesus “não veio acrescentar nada, veio ressaltar valores humanos e mostrar a transcendência desses valores”. Nesse sentido, reforçou que o compromisso com a justiça e a dignidade humana é a verdadeira medida da espiritualidade.
Comentando o distanciamento de setores religiosos com relação ao compromisso social, criticou as isenções fiscais das igrejas no Brasil. “As igrejas deviam ter vergonha na cara e falar: ‘nós temos que pagar impostos’. Ou então fazer um movimento interno de destinar esse valor a obras sociais importantes.”
Ao abordar o cristianismo das origens, Frei Betto citou o livro O Cristianismo Primitivo, de Friedrich Engels, como referência para entender o caráter comunitário da primeira geração de seguidores de Jesus. “Os cristãos partilhavam seus bens, entre eles tudo era comum, não havia necessitados. Isso é uma antecipação do que mais tarde chamamos de socialismo.”
A fala de Frei Betto também contrapôs o uso político da religião por líderes que promovem a exclusão social. “As pessoas que mais causam dano à humanidade enchem a boca falando de Deus. Deus acima de tudo, Brasil acima de todos, mas não têm nenhuma coerência com os princípios evangélicos.” Para ele, não é a fé declarada que salva, mas o amor praticado. “Jesus não condiciona a nossa salvação à fé, condiciona ao amor”, disse, citando o evangelho de Mateus.
Ao final, reforçou a necessidade de coerência entre crença e ação: “A mensagem de Jesus já valeu para a nossa existência aqui. Importa se a pessoa tem princípios éticos coerentes, de serviço ao próximo, de busca da justiça”. Assista:
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