"A Petrobras perdeu o controle dos preços, e isso tem consequências", diz economista
Servidor da estatal e doutor em História pela Universidade de Cambridge, Pedro Faria analisa o desmonte da empresa e suas consequências para o Brasil
247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o economista Pedro Faria, doutor em História pela Universidade de Cambridge e servidor da Petrobras, fez uma ampla análise sobre a trajetória da estatal nos últimos anos. Segundo ele, a empresa foi profundamente afetada pelo processo de privatizações e desinvestimentos conduzido durante os governos Michel Temer e Jair Bolsonaro, o que resultou na perda do controle sobre setores estratégicos do mercado de combustíveis.
"A Petrobras perdeu o controle dos preços, e isso tem consequências", alertou Faria. Ele explicou que, ao vender ativos como a BR Distribuidora, refinarias e gasodutos, a empresa reduziu drasticamente sua capacidade de influenciar os preços finais dos combustíveis. "A Petrobras hoje vende o produto na porta da refinaria, mas, dali para frente, quem define o preço são as distribuidoras privadas", afirmou.
Sindicalismo forte e os desafios da Petrobras
Faria destacou a importância da organização sindical dos petroleiros, argumentando que o fortalecimento dos sindicatos da categoria garantiu condições salariais melhores e segurança para os trabalhadores. "Os camaradas que trabalham em plataforma dão duro e têm um sindicato forte, que briga por direito. Quando vemos uma categoria bem organizada, a nossa reação não deveria ser de revolta, mas de inspiração. Outras categorias deveriam se perguntar: 'E o meu sindicato? Como ele está organizado"> if (googletag && googletag.apiReady) { googletag.cmd.push(() => { googletag.display(id); }); }
Ele lembrou ainda os riscos envolvidos no trabalho em plataformas de petróleo, onde os profissionais enfrentam condições extremas. "São turnos de 12 horas durante 20 dias em um ambiente que pode explodir, pegar fogo, afundar, dar choque ou queimar com ácido. Não é brincadeira", ressaltou.
O impacto das privatizações e o desmonte da Petrobras
A entrevista também abordou a venda de refinarias e a saída da Petrobras de diversos mercados regionais. "A Petrobras abandonou estados como São Paulo, Bahia, Rio Grande do Norte, Maranhão e Ceará. Agora, quando o governo tenta expandir projetos nesses locais, encontra dificuldades porque a estrutura da empresa foi desmontada", afirmou.
Faria criticou a venda da BR Distribuidora e da malha de gás da estatal. "Isso não é terrorismo ou invenção. O ex-ministro de Minas e Energia do governo Bolsonaro tinha como objetivo explícito privatizar a Petrobras", disse. Segundo ele, a consequência desse desmonte é visível nos preços dos combustíveis. "Na Região Norte, uma única empresa privada controla quase todo o mercado de combustíveis. Não à toa, são os lugares onde o preço é mais caro."
A difícil retomada e o papel do governo Lula
O economista reconheceu que a reconstrução da Petrobras não é uma tarefa simples. "Criar do zero não é fácil. Algumas pessoas perguntam por que a Petrobras não recompra as empresas que foram vendidas, mas para isso, o comprador tem que querer vender. Além disso, o governo teria que encontrar um meio legal para reestatizar esses ativos, o que é muito difícil", explicou.
Sobre a refinaria da Bahia, que foi vendida durante o governo Bolsonaro, Faria mencionou que a Petrobras está negociando sua recompra. "A estatal tem que avaliar o preço e ver se vale a pena. Não dá para queimar dinheiro. Hoje, a estratégia da Petrobras tem sido investir na ampliação de refinarias já existentes, como a de Pernambuco e do Rio de Janeiro."
Ele destacou que, desde 2023, a Petrobras vem batendo recordes sucessivos na produção de combustíveis, operando suas refinarias com capacidade máxima para reduzir a necessidade de importação. "A empresa voltou a investir em refino e está tentando recuperar parte da sua influência no mercado. No entanto, as dificuldades permanecem, porque a Petrobras não tem mais a estrutura que possuía antes."
A entrevista de Pedro Faria deixou claro que o processo de privatização da Petrobras causou impactos profundos e ainda hoje compromete a capacidade da empresa de regular os preços dos combustíveis. Enquanto o governo Lula tenta reverter parte desse cenário, o economista alerta que a reconstrução da estatal será um processo longo e complexo. "As pessoas precisam entender que votar tem consequências. O que aconteceu com a Petrobras não foi um acaso, foi uma decisão política que afetou a vida de milhões de brasileiros", concluiu. Assista: