'A extrema direita sequestrou o debate sobre segurança e corrupção', diz Carlos Minc
Ex-ministro critica perda de protagonismo da esquerda no debate sobre segurança e corrupção e defende novas estratégias para o governo Lula
247 – No Podcast do Conde, o ex-ministro do Meio Ambiente e deputado estadual do Rio de Janeiro, Carlos Minc, discutiu temas centrais da política brasileira, a ascensão da extrema direita no mundo e os desafios ambientais do país. A conversa abordou desde sua experiência na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro até os dilemas sobre a exploração de petróleo na margem equatorial.
Minc, conhecido pelo estilo irreverente e pela capacidade de dialogar com setores opostos, lembrou estratégias que adotou para aprovar leis importantes mesmo em um ambiente de minoria política. "Eu consigo aprovar muitas leis, inclusive contra votos bolsonaristas, como a lei do cannabis medicinal e a obrigatoriedade de câmeras nos uniformes para diminuir a matança da juventude negra e periférica", destacou. Segundo ele, uma de suas principais ferramentas para avançar pautas progressistas é o bom humor, algo que usou para desarmar adversários políticos.
Outro ponto abordado foi a aprovação da lei do cannabis medicinal, que enfrentou forte oposição do governador Cláudio Castro. Minc revelou a estratégia que usou para convencer parlamentares conservadores: "Eu chamava os deputados mais reaças para audiências públicas com mães de crianças que sofriam convulsões. No dia da votação, muitos deles mudaram de opinião ao ouvir esses depoimentos e votaram contra o veto do governador".
O desafio da comunicação e a popularidade de Lula
Em relação às pesquisas de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Minc ponderou sobre as diferenças entre os governos petistas. "No segundo governo Lula, ele tinha maioria no Congresso, não existia oposição bolsonarista nem redes sociais no formato atual. Hoje, a conjuntura é outra. As redes conseguem transformar pequenos erros em desastres", explicou.
O ex-ministro destacou também que o PT perdeu algumas de suas bandeiras históricas, como o combate à corrupção e a segurança pública, temas que foram absorvidos pela direita. "No ado, era a esquerda que ia às ruas contra a corrupção. Hoje, esse discurso ficou à direita, mesmo com todo o desmonte da Lava Jato e os escândalos da gestão Bolsonaro", ressaltou.
Para ele, o governo Lula precisa recuperar essa narrativa e criar novas marcas para a população perceber seus avanços. "O Bolsa Família e o ProUni foram absorvidos como direitos. Não adianta mais fazer propaganda desses programas, porque a sociedade já os considera garantidos", afirmou.
Margem equatorial e o futuro energético do Brasil
Outro tema central foi a decisão do Ibama de recomendar a não exploração de petróleo na margem equatorial. Minc defendeu a autonomia técnica do órgão e criticou a pressão para desqualificá-lo. "Bolsonaro dizia que o Ibama era uma 'máquina de multas'. Hoje, temos um governo que respeita a ciência, mas ainda há pressão para ar por cima do Ibama, o que não pode acontecer", disse.
Sobre a política energética do Brasil, ele ressaltou a importância de investimentos reais na transição para fontes renováveis. "A Petrobras se diz uma empresa da transição energética, mas 92% do investimento ainda é em petróleo e gás. Se quisermos liderar globalmente a sustentabilidade, precisamos mudar isso agora", alertou.
Ele sugeriu que qualquer permissão para exploração de petróleo seja acompanhada de condições ambientais rígidas e investimentos obrigatórios em energia limpa. "Se querem exploração, que seja condicionada a um investimento proporcional imediato em eólica e solar", propôs.
Conservadorismo em ascensão e desafios para a esquerda
Minc também falou sobre o avanço da extrema direita no Brasil e no mundo, citando exemplos como Trump nos Estados Unidos e os partidos de ultradireita na Alemanha e França. "A extrema direita tem sabido explorar o discurso da segurança e da religião, dois temas que a esquerda abandonou e precisa resgatar", disse. Para ele, é essencial não cair no jogo do acirramento excessivo: "Precisamos marcar nossas posições sem transformar tudo em guerra, porque isso só fortalece o outro lado".
Ao final, Minc reforçou que acredita na capacidade de Lula de reverter o cenário político. "O Lula é um animal político e sempre soube dar a volta por cima. Mas a conjuntura está mais difícil e exige um ajuste de estratégia", concluiu. Assista:
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: