“A cannabis pode salvar vidas e impulsionar a sustentabilidade no Brasil", diz empreendedora
Mudança na legislação poderia ampliar o ao uso medicinal da planta e promover práticas mais sustentáveis na indústria, defende Maria Eugênia Riscala
Beatriz Bevilaqua, 247 - O mercado da cannabis medicinal no Brasil apresentou um crescimento expressivo em 2024, movimentando R$853 milhões - um aumento de 22% em relação aos R$699 milhões registrados em 2023. Neste episódio, no “Empreender Brasil”, da TV 247, entrevistamos Maria Eugênia Riscala, fundadora e CEO da Kaya Mind, a primeira empresa de inteligência de mercado voltada para o setor de cannabis no Brasil e na América Latina.
O consumo medicinal de compostos da cannabis, como o CBD (canabidiol) e o THC (tetra-hidrocanabinol), tem ganhado espaço em estudos e tratamentos de diversas condições de saúde. O CBD, conhecido por seus efeitos terapêuticos, é amplamente testado para aliviar ansiedade, depressão e dor crônica. No entanto, o THC também desempenha um papel importante em muitos casos.
"Minha avó, que tem Parkinson, precisa de um óleo balanceado com CBD e THC. Isso porque, em questões musculares, o THC ajuda o CBD a funcionar melhor", explica Maria Eugênia. Especialistas destacam que, em condições como saúde mental, o equilíbrio entre esses compostos é essencial para resultados eficazes.
O avanço no uso medicinal da cannabis mostra que o diálogo sobre suas aplicações precisa ser aprofundado, no entanto o setor enfrenta barreiras que vão além da regulamentação tributária e da falta de dados públicos sobre o mercado. A dificuldade começa já na escolha do nome da empresa. O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), responsável pelo registro de marcas, não permite o uso da palavra "cannabis" ou qualquer referência à planta nos registros.
"Quando você abre uma empresa, seu advogado recomenda que cadastre o nome no INPI. Mas não pode, nenhuma referência à planta. Então, você já começa com uma limitação no nome da sua empresa. Não pode escolher qualquer nome, não pode criar qualquer logo. Fica mais difícil", explica Maria Eugênia Riscala.
Outro desafio enfrentado pelos empreendedores é a abertura e manutenção de contas bancárias. "E se eu te falar que ninguém consegue abrir conta no banco? A maioria desse mercado precisa usar PayPal, Remote, ou até criptomoedas, porque já perdeu conta bancária com saldo dentro. E, quando isso acontece, demora meses para conseguir a devolução do dinheiro", afirmou Maria Eugênia, destacando as dificuldades de operar em um mercado ainda marginalizado no sistema financeiro tradicional.
Outro desafio é a escassez de dados públicos que auxiliem na estruturação do negócio. Por exemplo, quem deseja criar uma marca com uso de cannabis enfrenta dificuldades ao buscar informações na Receita Federal, como dados específicos pelo CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas). Esses dados poderiam indicar percentuais de tributos e benchmarks de mercado, mas muitas vezes simplesmente não existem.
"É muito interessante falar de cannabis medicinal, mas você já imaginou abrir uma loja de cultivo sem sequer existir um CNAE específico para essa atividade"> if (googletag && googletag.apiReady) { googletag.cmd.push(() => { googletag.display(id); }); }
Apesar de todo contexto desafiador, a empreendedora é otimista quanto ao futuro. "Ter a chance de mexer na regulamentação da cannabis no Brasil é algo que pode impactar profundamente muitas áreas. Isso vai reduzir o número de pessoas presas, vai aumentar o número de pessoas que podem se tratar com cannabis e também vai contribuir para um mundo mais sustentável. A cannabis é uma alternativa ao plástico, linho e algodão”, explicou.
Para a empreendedora, a relação com a planta vai muito além do aspecto profissional. Ela descreve como a experiência tem impactado diversos aspectos de sua vida. "Sou muito grata pela ideia que tivemos, no momento em que tivemos. Poder contribuir para uma sociedade melhor é o meu propósito de vida", afirma", conclui.
A startup Kaya Mind prevê que, até 2025, os medicamentos à base de canabidiol movimentarão R$ 1 bilhão no Brasil. Assista a entrevista na íntegra: