Yanis Varoufakis explica por que Trump irá fracassar em sua guerra comercial
Ex-ministro da Grécia afirma que tarifas de Trump tendem a valorizar o dólar e agravar o déficit comercial dos EUA
247 – O economista Yanis Varoufakis, ex-ministro das Finanças da Grécia, fez uma crítica contundente à estratégia do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em sua nova ofensiva comercial contra a China. Em vídeo publicado nas redes sociais, Varoufakis afirmou que a tentativa de Trump de impor tarifas elevadas está fadada ao fracasso.
“Alguns argumentam, e eu acho que têm um ponto, que talvez o que Donald Trump está tentando fazer é ameaçar o mundo, especialmente a China e a União Europeia, com tarifas muito altas, para chegar a um acordo em que aceitem a valorização do yuan, do euro e de outras moedas concorrentes”, avaliou. Porém, segundo ele, a possibilidade de a China aceitar uma nova versão dos Acordos de Plaza — como o Japão fez em 1985 — é “zero”.
“A China não é o Japão. O Japão era um país ocupado pelos Estados Unidos. A Constituição japonesa foi escrita pelos americanos. Há dezenas de milhares de soldados americanos ocupando Okinawa até hoje. A China, repito, não é o Japão”, afirmou Varoufakis.
O paradoxo do dólar forte
Para o ex-ministro grego, o primeiro grande erro de Trump é não perceber que as tarifas que impõe ao comércio exterior tendem a valorizar o dólar, justamente o oposto do que ele busca com sua política econômica. Isso ocorre porque, segundo Varoufakis, sempre que há incerteza global — sobretudo vinda dos próprios EUA — há uma corrida de capitais para ativos denominados em dólar, fortalecendo a moeda norte-americana.
“Se as tarifas de Trump criarem incerteza global, o resultado provável será um aumento no valor do dólar”, afirmou. “Mesmo que as importações diminuam inicialmente, o afluxo de capital vai contrabalançar os efeitos das tarifas, tornando-as inúteis para reduzir o déficit comercial dos EUA.”
Causa estrutural do déficit e o “privilégio exorbitante”
Varoufakis também destacou que os cortes de impostos promovidos por Trump, especialmente para corporações e setores mais ricos, tendem a atrair ainda mais capital estrangeiro, ampliando o déficit entre poupança e investimento nos Estados Unidos. “Esse é o verdadeiro motor do déficit comercial americano”, explicou.
Além disso, o economista lembrou que o dólar se beneficia do chamado “privilégio exorbitante”: mesmo quando os Estados Unidos causam crises, sua moeda se fortalece. “Se Trump estivesse realmente comprometido em reduzir o déficit comercial dos EUA, ele precisaria abrir mão desse privilégio, o que é impossível, já que isso destruiria o poder financeiro de Wall Street”, afirmou.
O futuro: BRICS como alternativa ao dólar?
No encerramento de sua análise, Varoufakis sugere que a grande questão para os próximos anos será a decisão da China sobre seu papel no sistema financeiro internacional. Ele aponta a possibilidade de Pequim transformar a área dos BRICS em uma nova versão de Bretton Woods, com o yuan no centro e taxas de câmbio fixas entre as moedas dos países-membros.
“A decisão ainda não foi tomada. Mas se for, e se a China reciclar seus superávits dentro da área dos BRICS, essa será a ameaça mais letal ao privilégio exorbitante do dólar”, concluiu.
Para Varoufakis, a guerra comercial promovida por Trump em 2025 está condenada a falhar tanto por razões estruturais da economia global quanto pela nova correlação de forças entre os Estados Unidos e a China. Assista:
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