Ouro dispara puxado por demanda chinesa e crise entre EUA e China
Tensões comerciais, instabilidade política nos Estados Unidos e volume recorde de compras na China elevam o metal precioso a patamares inéditos
247 – O preço do ouro ultraou a marca histórica de US$ 3.400 por onça troy nesta segunda-feira (21), marcando o terceiro dia consecutivo de recordes nas negociações, especialmente impulsionado pela forte demanda durante o pregão asiático. A informação é do Nikkei Asia, que detalha como os investidores chineses estão migrando em massa para o metal precioso, visto como um ativo “sem Estado” e mais seguro diante da crescente incerteza geopolítica e econômica.
Os contratos futuros negociados em Nova York atingiram a cotação máxima de US$ 3.440 ao longo do dia. Após o feriado da Páscoa, os fundos abandonaram posições neutras e assumiram uma postura compradora, estimulando ainda mais o rali do ouro. Parte dessa movimentação é explicada pela instabilidade interna nos Estados Unidos: o presidente Donald Trump, reeleito para um segundo mandato em 2025, estaria considerando a demissão do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, por discordâncias sobre a condução das taxas de juros. A medida, vista como juridicamente controversa, abalou ainda mais a confiança do mercado no dólar.
Na Ásia, o impulso chinês tem sido central. “A forte pressão de compra da China está elevando o preço”, afirmou Bruce Ikemizu, diretor-chefe da Japan Bullion Market Association. A Bolsa de Ouro de Xangai registrou volume de negociação de 832 toneladas apenas no dia 21 de abril, superando o total de 780 toneladas negociadas durante todo o mês de março.
Outro fator que chama atenção é o comportamento atípico da demanda. “Até agora, a demanda real por ouro geralmente diminuía quando o preço estava em um nível recorde”, disse Tsutomu Kosuge, chefe da empresa de pesquisa Marketedge, sediada no Japão. No entanto, segundo ele, “não há vendedores claros agora”, o que permite que o preço continue subindo sem grandes correções.
A diferença de preço entre os mercados de Xangai e Londres — referência internacional — também se alargou. Em 10 de abril, o ouro à vista em Xangai era negociado com prêmio de US$ 51 por onça troy, contra uma média de US$ 2,50 no primeiro trimestre.
O pano de fundo dessa movimentação é a intensificação das disputas comerciais entre China e Estados Unidos. Após suspender parte das tarifas por 90 dias no início de abril, Trump reafirmou que aumentará os impostos sobre importações chinesas. Em resposta, Pequim retaliou com tarifas superiores a 100% sobre produtos americanos e, mais recentemente, proibiu suas companhias aéreas de comprarem aviões e peças de empresas dos EUA. “Isso é um sinal da intenção de excluir os Estados Unidos do mercado chinês”, avaliou Koichiro Kamei, diretor do Instituto de Estratégia de Mercado do Japão.
A deterioração nas relações entre as duas maiores economias do planeta, combinada com a instabilidade institucional nos EUA, tem afastado investidores dos tradicionais títulos do Tesouro americano, antes vistos como porto seguro. “O fato de as perspectivas serem sombrias para um acordo entre Estados Unidos e China em um futuro próximo também está aumentando a demanda por ouro, um ativo sem Estado”, completou Kamei.
Para os analistas, não há sinais de que essa trajetória vá se reverter tão cedo. “Não podemos esperar uma correção adequada neste momento”, afirmou Itsuo Toshima, analista de mercado. James Steel, estrategista do HSBC, acrescenta que, mesmo diante de possíveis quedas pontuais, os bancos centrais continuarão comprando ouro, o que sustentará os preços em alta.
A escalada do ouro, portanto, reflete um momento de transição global: à medida que os riscos políticos corroem a confiança nos ativos tradicionais, o metal precioso volta a ocupar o centro do sistema financeiro como símbolo de segurança em tempos incertos.
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