“O planeta inteiro está perdendo com essa guerra comercial”, diz Paulo Gala
Economista alerta para os impactos globais do ‘tarifaço’ lançado por Donald Trump, com mercados em queda e temor de recessão
247 - Em análise publicada nas redes sociais, o economista e professor da FGV/SP Paulo Gala traçou um panorama alarmante sobre os efeitos da escalada da guerra comercial lançada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O comentário foi feito após o anúncio, nesta terça-feira (4), de que o governo chinês aplicará tarifas de 34% sobre produtos norte-americanos a partir de 10 de abril — uma resposta direta às tarifas de 30% anunciadas anteriormente por Trump. Segundo Gala, o cenário atual configura um “modo de guerra comercial”, com perdas generalizadas para a economia mundial.
“Estamos, portanto, em modo de guerra comercial”, escreveu. “O planeta inteiro está perdendo com essa guerra comercial — e o Brasil, como parte desse todo, também sofre”.
Reação imediata dos mercados - As bolsas globais já haviam recuado de forma significativa com o anúncio das tarifas por parte dos EUA. Agora, com a retaliação chinesa, os mercados continuam derretendo. De acordo com Paulo Gala, os principais índices acionários despencaram entre 3% e 5% no pregão anterior, e a Nasdaq apontava para nova queda de 3% a 4% na manhã desta terça.
Um dos principais símbolos da reação do mercado foi o desempenho das chamadas “Magnificent Seven” — as sete gigantes de tecnologia dos Estados Unidos. Juntas, essas empresas perderam cerca de US$ 1 trilhão em valor de mercado, configurando a maior perda diária da história para esse grupo.
“Isso ocorreu porque muitas dessas empresas dependem de componentes eletrônicos vindos da Ásia. Basta olhar para seu smartphone (Samsung, Apple etc.) para perceber que boa parte é produzida na China”, observou Gala.
Queda do petróleo e fuga para ativos seguros - O impacto também atingiu o mercado de energia. O petróleo recuou 6% no dia anterior e, antes da abertura dos mercados nesta manhã, já apontava nova queda de outros 6%.
A insegurança generalizada fez com que investidores buscassem refúgio em ativos considerados mais seguros. Um dos reflexos foi a queda nos rendimentos dos títulos do Tesouro americano de 10 anos, que recuaram para 3,93%, desfazendo a alta acumulada desde a reeleição de Trump, quando haviam se aproximado de 5%.
Efeitos no Brasil e na América Latina - Apesar de ter sido menos atingido diretamente pelas tarifas — o Brasil sofreu sobretaxa de 10%, contra 20% da Europa e 30% da Ásia —, o país também está inserido na turbulência global.
Segundo Gala, o dólar chegou a cair 2% na véspera, impulsionado pela valorização do real, mas voltou a subir com a notícia da retaliação chinesa. O ETF EWZ, que representa o desempenho de ações brasileiras no exterior, registrava queda de 3% pela manhã, com empresas como Petrobras, Vale, CSN, Gerdau e grandes bancos entre os afetados.
“O Brasil, no relativo, se saiu melhor (...). Mesmo assim, o planeta inteiro está perdendo com essa guerra comercial”, avaliou o economista.
Perspectivas econômicas e política monetária - A tensão entre as duas maiores economias do mundo também está afetando projeções econômicas. Instituições financeiras norte-americanas já apontam uma probabilidade superior a 60% de recessão nos EUA.
Gala destacou ainda que, diante desse quadro, cresce a expectativa de cortes de juros tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. “Com a perspectiva de desaceleração global, já há analistas prevendo corte da Selic em dezembro deste ano”, afirmou.
A política monetária brasileira, porém, dependerá fortemente do comportamento do câmbio. “Se o dólar cair para R$ 5,50 ou menos, a pressão por juros altos será muito menor. Se subir, o impacto na inflação será maior”, explicou.
Indicadores divergentes - Em meio à turbulência, alguns dados da economia americana vieram mais positivos do que o esperado. O relatório de empregos (payroll) indicou a criação de 228 mil vagas em março, acima da projeção de 140 mil. No entanto, a taxa de desemprego subiu levemente para 4,2%.
Já no Brasil, o IGP-DI de março apresentou deflação de 0,50%, revertendo a alta de 1,00% em fevereiro. A valorização do real foi um dos principais fatores, com destaque para a queda de 0,88% nos preços no atacado (IPA). Nos últimos 12 meses, o índice acumula alta de 8,57%.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: