Investimentos em infraestrutura crescem e projetam melhor ano da década
Apesar dos juros elevados, setor se mantém aquecido com leilões e concessões, mas desafios estruturais e déficit de mão de obra preocupam
247 – Mesmo com a taxa básica de juros em um patamar elevado – a Selic deve atingir 15% –, os investimentos em infraestrutura continuam avançando no Brasil e devem se manter aquecidos em 2025. Segundo estimativas da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), o investimento no setor atingiu 2,22% do PIB em 2024, totalizando R$ 259,3 bilhões. Se confirmado, o valor supera o recorde recente de R$ 239,7 bilhões registrados em 2014. A consultoria Inter B, por sua vez, calcula que os aportes tenham chegado a 1,87% do PIB no último ano, o maior patamar desde 2016, como aponta reportagem do Valor.
"O investimento como proporção do PIB vem crescendo desde 2021, mesmo em um cenário de expansão da economia acima de 3% ao ano. Esse não é um movimento desprezível", destaca Roberto Guimarães, diretor de Planejamento e Economia da Abdib. Para 2025, a entidade projeta um avanço de 11,14%, elevando os investimentos para R$ 288,2 bilhões.
A onda recente de investimentos é reflexo do grande número de leilões de infraestrutura realizados nos últimos anos, cujos contratos estão em fase de obras apenas agora. “O investimento elevado de hoje é fruto da quantidade significativa de concessões em diversos setores. Isso tem mantido o ritmo de expansão, independentemente do cenário macroeconômico”, analisa Ewerton de Souza Henriques, sócio da SH Consultoria.
Ambiente regulatório mais sólido, mas desafios persistem
Apesar dos avanços, o setor ainda enfrenta desafios estruturais. Segundo a Abdib, o investimento necessário para cobrir a depreciação do capital e garantir a manutenção e expansão da infraestrutura nacional deveria ser 2,27% do PIB, o que significa um déficit de R$ 266 bilhões em 2024. O setor de transportes e logística concentra a maior parte dessa defasagem, com uma lacuna de R$ 201,4 bilhões.
Para Eric Brasil, diretor da LCA Consultoria, a resiliência do investidor de infraestrutura aumentou nos últimos anos, impulsionada por um ambiente regulatório mais sólido e contratos com mecanismos mais robustos de compartilhamento de riscos. “Hoje, há mais segurança jurídica e os investidores estão menos sensíveis a crises de curto prazo. As concessões foram aprimoradas e as agências reguladoras aram a atuar com maior transparência”, afirma.
No entanto, a falta de concorrência nos leilões pode ser um risco. “Quando há poucas propostas, a falta de comparação pode resultar em projetos menos sustentáveis no longo prazo, com orçamentos que podem não se sustentar diante das oscilações de preços de insumos”, alerta Henriques.
Impacto da Lava Jato e a transformação do setor
O atual ciclo de investimentos se diferencia do boom da década ada, quando grandes empreiteiras dominavam as obras públicas. Com a Operação Lava Jato e o esvaziamento das construtoras nacionais, o setor ou por uma reestruturação. “Desde 2016, o Brasil teve que encontrar novas fontes de financiamento, o que levou a um fortalecimento do investimento privado e a entrada de novos atores”, explica André Kimura, diretor da consultoria Kearney no Brasil.
Em 2014, o setor privado respondia por 60% dos investimentos em infraestrutura. Em 2024, essa fatia subiu para 76%, de acordo com a Abdib. O novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) também tem impulsionado projetos em diversos segmentos, incluindo concessões municipais e estaduais.
Ainda assim, o Brasil enfrenta um déficit significativo de mão de obra qualificada no setor de engenharia e construção. Durante quase uma década de estagnação, muitos profissionais migraram para outras áreas ou buscaram oportunidades no exterior. “Estamos começando a reverter essa tendência, mas a contratação de engenheiros tem ocorrido com prêmios salariais elevados, pois a formação de novos profissionais foi insuficiente”, pontua Fabio Yoshitome, também da Kearney.
Perspectivas para 2025: desafios e oportunidades
Apesar do cenário macroeconômico desafiador, com juros elevados e instabilidade nos preços dos insumos, as expectativas para 2025 seguem otimistas. O volume de leilões programados para o próximo ano pode até superar o de 2024, desde que não haja deterioração significativa do ambiente econômico.
Para Nelson Barbosa, diretor de planejamento e relações institucionais do BNDES, os juros altos podem afetar as ofertas dos investidores, mas não inviabilizam os projetos. “O mercado se ajusta por meio dos lances. Além disso, há um grande potencial de ganho de produtividade nessas concessões, o que compensa o custo mais elevado do capital”, avalia.
Ainda assim, os desafios persistem. O Tribunal de Contas da União (TCU) aponta que 43% das obras ligadas ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) ultraaram o prazo previsto em três vezes. Além disso, 30% tiveram aumento de custo de até 25%, e 18% registraram estouros superiores a esse percentual.
A falta de planejamento de longo prazo segue sendo um entrave. “O Brasil ainda não tem uma cultura de planejamento robusta. Muitas empresas tentam economizar na fase inicial dos projetos, o que resulta em cronogramas pouco realistas e falhas na identificação de gargalos”, observa Yoshitome.
A despeito dos desafios, o setor de infraestrutura segue como um dos motores da economia brasileira. Com um ambiente regulatório mais seguro e novos modelos de concessão, o país tem potencial para superar as barreiras e consolidar um novo ciclo de crescimento sustentável no setor.
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