Fusão Petz Cobasi ameaça pequenos comércios do setor

247 - O mercado pet no Brasil, que em 2024 alcançou um faturamento de R$75,4 bilhões – 9,6% a mais em relação ao ano anterior (R$68,7bi) -, enfrenta uma mudança potencialmente disruptiva com a possível fusão entre Petz e Cobasi. Enquanto as empresas defendem que sua união não afetará a concorrência, pequenos e médios pet shops temem os impactos da consolidação de um novo gigante.

A união entre as duas maiores redes representará um faturamento conjunto de R$ 6,9 bilhões e 483 lojas em todo o país. Isso contrasta fortemente com os demais integrantes do mercado – pequenos e médios, além de clínicas e hospitais veterinários que, juntos, representam 66,5% do faturamento do setor, e são responsáveis, respectivamente, por uma fatia dessa receita total de 48,5% (R$36,5bi) e 18% (R$13,4 bi). 

Além de Petz e Cobasi, o próximo player no ranking de empresas é a Petlove, que foi oficialmente habilitada como terceira interessada na análise da fusão pelo Conselho istrativo de Defesa Econômica (Cade), e registra um faturamento de R$1,8bi. 

Para empresários locais, a união de Petz e Cobasi pode representar um golpe duro, eliminando a concorrência e a diversificação do mercado. "O principal problema, que talvez o Cade não analise de forma objetiva para além da concentração, é que o mercado pet é muito pulverizado. Oitenta por cento é formado por pequenas e médias empresas, a maioria delas optante do Simples, cujo limite de faturamento é R$3,6 milhões - faturamento 200 vezes menor que o dessas duas gigantes unidas”, declara o empresário Guilherme Davis, proprietário de uma rede de 14 petshops no Distrito Federal.

Para ele, o caminho ideal de análise do órgão federal deveria focar no poder de barganha que essas duas gigantes do setor terão em relação aos fornecedores. “A verdade é que pequenos e médios estabelecimentos como os meus já estão sofrendo com a falta de produtos, e as indústrias sendo pressionadas. Isso só vai piorar”, adverte. 

A preocupação de Guilherme é, segundo ele, compartilhada por muitos outros pequenos empresários que já sentem os efeitos da expansão das megastores no setor. “Isso sem falar no impacto negativo dessa fusão no fechamento dos pequenos e médios, com demissões e encerramento de postos de trabalho. Minha rede tem 120 colaboradores, e, se somos maioria no setor, outros muitos empregos mais deixarão de existir”.

Os dados corroboram essa percepção. Levantamento da consultoria Ferres Economia, com base na Receita Federal, revela que a abertura de megastores impacta diretamente na mortalidade de pequenos negócios. Com a fusão, a pressão por preços mais baixos e a expansão de uma rede ainda maior podem agravar essa tendência. Para os pequenos empresários, o grande problema é o poder de mercado que os grandes players podem exercer. 

“Qual vai ser a competitividade dos pequenos e médios nesse cenário, inclusive, se essas gigantes vão praticar o preço que elas quiserem”, indaga Guilherme. Sem conseguir concorrer em preço, os pequenos e médios estabelecimentos sairão do mercado, deixando Petz e Cobasi livres para imporem os valores que quiserem.

Além dos pequenos comércios, distribuidores que atendem esses estabelecimentos também devem sentir os efeitos da fusão, uma vez que as grandes redes possuem seus próprios canais de suprimentos, reduzindo a necessidade de intermediários.

Com o avanço da fusão Petz e Cobasi, resta aos pequenos e médios empresários do setor pet lutar para manter sua clientela fiel, apostando em atendimento personalizado e serviços diferenciados. As questões que permanecem são, segundo os comerciantes ouvidos, até que ponto esses esforços serão suficientes para competir com um novo gigante do setor e, tirando o e-commerce, como ficará o ranking do setor com os principais players e seus respectivos faturamentos, já que a distância entre eles será imensa, afetando a possibilidade de escolha do consumidor final.