CNI: juros elevados prejudicaram a indústria no 1º trimestre
A entidade comentou sobre o IOF e também mencionou a pesquisa do IBGE sobre a economia brasileira
247 - Os juros elevados e o aumento das importações comprometeram o crescimento da indústria no 1 º trimestre de 2025, afirma a Confederação Nacional da Indústria (CNI). De acordo com o IBGE, a indústria foi o único dos três principais setores da economia a encolher em relação ao 4º trimestre do ano ado. O segmento recuou 0,1%, enquanto a agropecuária cresceu 12,2% e os serviços subiram 0,3%. O PIB do país teve alta de 1,4%.
Para o presidente da CNI, Ricardo Alban, embora expressivo, o crescimento da economia é composto por características desfavoráveis. “Setores como a indústria de transformação e a construção, fundamentalmente ligados ao aumento da capacidade produtiva do país, recuaram, como consequência dos juros altos e da intensa entrada de bens importados”, explica. Atualmente, a taxa básica de juros está em 14,75%.
O dirigente afirmou também que perspectivas de aumento do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) e a MP do Setor Elétrico vão piorar as condições para a indústria. "Só o IOF vai representar um peso de R$ 19 bilhões para as empresas em 2025 e R$ 39 bilhões no ano que vem. A pressão da isenção da conta de luz, como prevê a MP do Setor Elétrico, também vai recair sobre nós. O cenário piora condições já muito difíceis para a indústria, a principal prejudicada pelo Custo Brasil. Não é possível crescer num ambiente assim", afirma Alban.
O aumento do IOF encarece o crédito para empreendimentos produtivos, aumentando a carga tributária sobre empréstimos para empresas em mais de 110% ao ano. Ao mesmo tempo, expõe assimetrias como nos instrumentos de empréstimos, entre crédito e debêntures. A tributação no câmbio impacta a importação de insumos e bens de capital necessários para o investimento privado e a modernização do parque produtivo nacional.
Importações absorveram demanda por bens industriais
Segundo a CNI, há um descasamento entre consumo interno e a produção nacional. Enquanto o consumo das famílias subiu 1% e a demanda por bens industriais subiu 1,2%, a produção industrial nacional aumentou apenas 0,1% no 1º trimestre. “Boa parte da demanda, portanto, está sendo atendida por importados”, pontua. Nos três primeiros meses de 2025, as importações de bens aumentaram 5,9% frente aos três últimos meses de 2024, e 14% em relação ao primeiro trimestre de 2024.
A retomada do crescimento industrial a, necessariamente, pela redução da taxa básica de juros, que minou a competitividade do setor no início do ano e pode prejudicar o crescimento contínuo do país.
“Nesse ambiente, é fundamental criar condições para que a Selic começa cair o quanto antes. A indústria já perdeu o forte ritmo de crescimento observado no ano ado. Sem redução de juros, a indústria vai demorar a ganhar força de novo. A indústria tem sido fundamental para o crescimento vigoroso da economia. Com o cenário atual, fica cada vez mais difícil sustentar esse desempenho”, avalia Alban.
Política monetária restritiva prejudicou a indústria
A política monetária restritiva, que ganhou força a partir de setembro do ano ado, prejudicou intensamente a indústria de transformação, que recuou 1%, e a indústria da construção, que retraiu 0,8%, no 1º trimestre. Os setores industriais que impediram um resultado pior foram a indústria de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos, que teve alta de 1,5%; e a extrativa, cujo crescimento foi de 2,1%.
O setor de serviços, por sua vez, cresceu, puxado pelos serviços de informação e comunicação, especialmente aqueles ligados à internet e ao desenvolvimento de sistemas.
Agro, consumo das famílias e investimentos lideraram crescimento do país
Entre as atividades econômicas, a agropecuária respondeu quase que exclusivamente pelo crescimento. Após um 2024 marcado por problemas climáticos, que afetaram as lavouras, 2025 deve registrar safra recorde de soja, principal commodity do país. Como boa parte da produção já foi colhida, isso impactou a alta do setor e, consequentemente, do PIB no 1º trimestre. Além de condições climáticas mais favoráveis, a alta pode ser atribuída à base fraca de comparação.
Os investimentos cresceram 3,1% nos três primeiros meses do ano. Com isso, a taxa de investimento saltou para 17,8%, acima da média de 2024, que foi de 17%. A CNI ressalta que essa alta deve ser vista com atenção, pois parte significativa dela se deve ao impacto pontual da importação de uma plataforma de petróleo.
Após ter caído 0,9% no último trimestre de 2024, o consumo das famílias subiu 1%. Esse resultado se explica pelo crescimento das concessões de crédito ao consumidor e da massa real de rendimentos. Os impulsos fiscais, como a liberação de recursos do FGTS para quem optou pelo saque-aniversário, a antecipação do INSS para aposentados e pensionistas e o reajuste do salário mínimo também contribuíram para a alta.
Economia deve desacelerar até o fim do ano
Para o restante de 2025, a expectativa é de menor ritmo de crescimento da atividade econômica. A expectativa da CNI é de alta de 2,3% do PIB em 2025.
A manutenção das taxas de juros no elevado patamar atual, em 14,75%, seguirá penalizando a atividade industrial e o investimento e deve levar a taxa de juros real, que desconta a inflação, a dois dígitos. Além disso, o bom resultado da agropecuária também é concentrado no primeiro trimestre e não deve se sustentar nos próximos trimestres.
Pelo lado da demanda, o investimento tende a desacelerar. Além da característica pontual do crescimento do 1º trimestre, os juros elevados deverão inibir novos investimentos. O cenário externo também tem se caracterizado pelo aumento da incerteza, sujeito a mudanças, sobretudo a partir da política comercial americana.
O crescimento do consumo deverá ser contido e há a expectativa de menor concessão de crédito e menor crescimento do mercado de trabalho. O espaço para crescimento do número de pessoas ocupadas está baixo, devido à taxa de desemprego em patamar baixo.
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