Após tarifaço de Trump, JPMorgan vê 60% de chances de recessão global em 2025 e prevê "sangue"
Relatório do banco norte-americano alerta que as novas tarifas impostas pelos Estados Unidos ameaçam cadeias globais de suprimento
247 – O banco norte-americano JPMorgan elevou de 40% para 60% a probabilidade de uma recessão global já em 2025, em reação ao forte pacote tarifário anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na última quarta-feira. As informações são de um relatório publicado pelo banco e reveladas por veículos internacionais nesta sexta-feira.
Segundo os analistas Bruce Kasman, Jahangir Aziz, Joseph Lupton e Nora Szentivanyi, autores do relatório intitulado There will be blood (“Haverá sangue”, em tradução literal), as novas tarifas aplicadas a importações de mais de 60 países representam o maior risco às projeções de crescimento econômico global neste ano. O título do documento faz referência a uma agem bíblica do Êxodo, em que Deus diz a Moisés que transformará as águas do Nilo em sangue para convencer o faraó a libertar os hebreus: “Haverá sangue por toda a terra do Egito, até nas vasilhas de madeira e nas vasilhas de pedra.”
De acordo com o JPMorgan, as políticas comerciais “decisivamente menos favoráveis aos negócios” adotadas pelos EUA ameaçam diretamente as cadeias globais de suprimento e colocam em risco o atual ciclo de expansão econômica. “As políticas disruptivas dos EUA foram consideradas o maior risco para as projeções globais em todo o ano”, diz o texto.
Impacto econômico global
O banco adverte que os efeitos da escalada tarifária poderão ser agravados por três fatores principais: a retaliação dos países afetados, como a já anunciada pela China; a piora na confiança dos empresários nos Estados Unidos; e o impacto direto na cadeia produtiva mundial. Ainda que o Federal Reserve (banco central norte-americano) possa reagir com cortes nas taxas de juros — o mercado já precifica até quatro reduções, segundo a ferramenta FedWatch do CME Group —, o JPMorgan considera que tais medidas teriam apenas um efeito “modestamente amenizador”.
Apesar da projeção mais pessimista, os analistas ressaltam que ainda é cedo para revisar completamente as estimativas macroeconômicas. O banco avalia que os fundamentos atuais da economia global permanecem relativamente sólidos, o que poderia indicar uma desaceleração moderada. “Mas as recessões são inerentemente imprevisíveis”, alerta o relatório.
Outro ponto de atenção é o impacto de longo prazo que políticas comerciais permanentemente restritivas e a redução dos fluxos de imigração podem trazer à economia americana. Segundo o JPMorgan, tais mudanças “podem impor custos de oferta duradouros que reduzirão o crescimento dos EUA no longo prazo”.
Reações globais: retaliações e recuos
A resposta internacional às medidas de Trump tem variado. A China foi a primeira potência a retaliar. O governo de Pequim anunciou uma tarifa de 34% sobre todas as importações norte-americanas, com início em 10 de abril. A medida foi divulgada pela agência estatal de notícias Xinhua e marca uma intensificação da guerra comercial entre as duas maiores economias do planeta.
O impacto foi imediato nos mercados: as bolsas globais despencaram e o dólar disparou frente às principais moedas. No Brasil, o Ibovespa recuava 3,08% às 14h43, aos 127.107 pontos, enquanto o dólar subia 3,52%, cotado a R$ 5,827.
Outros países afetados optaram por aguardar antes de agir. O Vietnã, fortemente atingido com uma tarifa de 46% sobre seus produtos, já iniciou negociações com Washington. Em postagem na rede Truth Social, Donald Trump afirmou que o presidente vietnamita To Lam está disposto a reduzir suas tarifas a zero em troca da suspensão das sanções. “Lam me disse que o Vietnã quer reduzir suas tarifas para ZERO se conseguir chegar a um acordo com os EUA”, escreveu Trump.
O governo vietnamita havia solicitado anteriormente a suspensão temporária das tarifas por até três meses, com o objetivo de viabilizar um diálogo que evitasse prejuízos ainda maiores ao comércio bilateral.
O novo capítulo da política comercial adotada por Donald Trump em seu segundo mandato na presidência dos Estados Unidos aprofunda a instabilidade econômica global, com efeitos já perceptíveis nos mercados financeiros e nas previsões de crescimento. O alerta do JPMorgan sinaliza que, caso o cenário se confirme, o mundo poderá enfrentar sua mais nova recessão menos de cinco anos após a crise gerada pela pandemia. A capacidade dos governos e instituições multilaterais de promover diálogo e evitar uma fragmentação mais grave do comércio internacional será posta à prova.
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