Val Kilmer resistiu ao tratamento contra câncer devido a crenças religiosas
Ator escondeu doença por anos e recusou ajuda médica até complicação grave
247 - Val Kilmer, astro de Hollywood conhecido por filmes como Top Gun e The Doors, resistiu ao tratamento médico contra um grave câncer na garganta devido às suas crenças religiosas. O ator, que faleceu aos 65 anos na última terça-feira (1º), escondeu os sintomas por anos, utilizando cachecóis e roupas volumosas para disfarçar o inchaço no pescoço. A informação foi divulgada pelo New York Times.
Segundo familiares, Kilmer relutava em buscar ajuda médica, apesar da insistência de seus entes queridos. O ator era adepto da Christian Science, religião que prega a cura por meio da oração em vez de tratamentos convencionais. Somente em 2015, após um sangramento grave, ele foi forçado a buscar atendimento médico.
De acordo com pessoas próximas, o artista evitava qualquer conversa sobre o câncer e afastava aqueles que insistiam no assunto. A Christian Science tem raízes na Nova Inglaterra, nos Estados Unidos, e desde sua fundação, em 1879, incentiva seus fiéis a confiarem exclusivamente na fé para a cura de enfermidades. Durante décadas, membros da religião enfrentaram processos judiciais por negligência ao se recusarem a buscar ajuda médica para familiares doentes.
Nos últimos anos, diante da queda no número de seguidores e da repercussão negativa de sua rígida doutrina, a igreja tem buscado se reformular. Recentemente, líderes religiosos aram a permitir que seus adeptos recorram à medicina convencional quando considerarem necessário. Além disso, a instituição tem promovido campanhas para redefinir suas práticas como uma forma complementar de cuidado, semelhante a terapias alternativas como quiropraxia e homeopatia.
Kilmer demonstrava grande devoção à Christian Science e chegou a escrever um roteiro sobre Mary Baker Eddy, fundadora da religião. No livro Ciência e saúde com a Chave das Escrituras, um dos pilares da doutrina, Eddy afirma que buscar auxílio médico é um ato de "derrota".
Embora a igreja não divulgue dados sobre seus membros, especialistas estimam que, nas últimas décadas, o número de fiéis caiu drasticamente. Em 2010, o New York Times apontou que a comunidade possuía menos de 100 mil seguidores, metade do que já teve no início do século XX. "Somos uma igreja em uma curva lenta de declínio, em grande parte porque as pessoas nos veem como radicais demais", afirmou Philip Davis, porta-voz da Christian Science nos EUA, em entrevista recente ao jornal.
Para tentar reverter essa tendência, a igreja vem buscando uma abordagem mais flexível e se engajando em lobby para que suas práticas sejam reconhecidas como válidas dentro do sistema de saúde norte-americano. "Ao suavizar o lado mais julgador de nossa natureza e abrir as portas para aqueles que buscam a oração como complemento ao tratamento médico, esperamos manter viva nossa prática religiosa", declarou Davis.
Apesar da mudança de postura da instituição, Val Kilmer permaneceu fiel às crenças tradicionais da religião até os últimos anos de vida. Seu caso reacende o debate sobre os limites entre fé e medicina, especialmente quando a decisão pessoal impacta a saúde e o bem-estar do indivíduo.
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