Brasil foi golpeado em 1964 para frear as reformas de base de Jango e também a política externa independente
João Goulart buscava uma agenda de desenvolvimento soberano, promovendo reformas estruturais e uma política externa autônoma
247 – O golpe militar de 1964, pano de fundo do filme Ainda Estou Aqui, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, foi uma ruptura institucional que atendeu a interesses internos e externos. Enquanto setores conservadores brasileiros temiam as reformas estruturais propostas pelo presidente João Goulart, os Estados Unidos viam sua política externa independente como uma ameaça à hegemonia norte-americana na América Latina.
Com uma agenda voltada à soberania nacional, Jango defendia a necessidade de um Brasil autônomo tanto no campo econômico quanto na geopolítica. Seu governo aprofundou relações com países do bloco socialista e propôs uma série de mudanças estruturais que ameaçavam as elites econômicas, incluindo uma reforma agrária que redistribuiria terras improdutivas. O golpe de 1964 não apenas interrompeu esse projeto, mas alinhou o país a uma nova ordem de submissão a Washington.
A política externa independente e a visita à China
Desde que assumiu a Presidência em 1961, Jango, sob a influência de seu chanceler San Tiago Dantas, estabeleceu uma política externa independente (PEI), afastando-se da subordinação automática aos interesses norte-americanos. O governo brasileiro buscou diversificar suas relações diplomáticas e comerciais, estreitando laços com países do bloco socialista, como União Soviética, China e Cuba.
Um marco dessa política foi a visita de uma delegação brasileira à China em 1961, liderada pelo vice-presidente João Goulart. A viagem causou forte reação dos setores conservadores e de Washington, que aram a associar Jango ao comunismo – uma estratégia utilizada para desestabilizar seu governo. A aproximação com Pequim foi vista como um desafio direto à Doutrina Monroe, que pregava a influência exclusiva dos EUA sobre a América Latina.
A política externa independente também incluía o fortalecimento do comércio com países do Leste Europeu e a defesa de um Brasil não alinhado na Guerra Fria. O governo Goulart manteve relações tanto com Washington quanto com Moscou, recusando-se a aceitar a imposição de blocos ideológicos.
As reformas de base e a reação das elites
No plano interno, Jango defendia mudanças estruturais para reduzir desigualdades e fortalecer a economia nacional. As reformas de base, apresentadas em seu governo, incluíam:
- Reforma agrária: distribuição de terras improdutivas para trabalhadores rurais, reduzindo a concentração fundiária e impulsionando a produção agrícola.
- Reforma urbana: regulação de aluguéis e garantia de moradia ível para a população mais pobre.
- Reforma bancária: ampliação do crédito para pequenos produtores e controle sobre o sistema financeiro.
- Reforma educacional: ampliação do o à educação pública e combate ao analfabetismo.
- Reforma tributária: criação de impostos progressivos sobre grandes fortunas e propriedades.
Essas medidas enfrentaram forte resistência das elites agrárias, industriais e financeiras, que viam nelas uma ameaça a seus privilégios. Apoiada pelos militares e pela grande imprensa, a oposição conservadora intensificou a retórica anticomunista e ou a conspirar abertamente contra Jango.
O golpe e o papel dos Estados Unidos
O governo norte-americano, preocupado com a ascensão de políticas nacionalistas na América Latina, decidiu intervir. Documentos desclassificados mostram que os Estados Unidos financiaram grupos opositores e prepararam a Operação Brother Sam, um plano militar para apoiar os golpistas com armas, navios e fuzileiros navais, caso houvesse resistência.
Em 31 de março de 1964, tropas militares iniciaram a derrubada de Goulart. No dia seguinte, ele partiu para o exílio, sem resistência armada. O golpe inaugurou um regime que duraria 21 anos, marcado pela repressão, censura e pela submissão total aos interesses norte-americanos.
O golpe de 1964 não foi apenas um ataque à democracia, mas um movimento estratégico para frear a soberania do Brasil. A interrupção das reformas de base e a reversão da política externa independente consolidaram um modelo de dependência econômica e alinhamento automático com os Estados Unidos, cujas consequências se estenderam por décadas.
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