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      Brasil forma lideranças indígenas para atuar como negociadoras climáticas na COP30

      Curso Kuntari Katu prepara indígenas de todos os biomas para participar das negociações climáticas internacionais com saber técnico e ancestral

      Convênio entre Ministério dos Povos Indígenas, Itamaraty e CNPq viabiliza bolsas de estudo para indígenas na diplomacia (Foto: Rafa Neddermeyer/COP30 Brasil Amazônia/PR)
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      247 - Em uma ação inédita que marca o protagonismo indígena nas decisões ambientais globais, o Brasil está formando, pela primeira vez, lideranças indígenas para atuar diretamente nas negociações da Conferência do Clima da ONU. A iniciativa, chamada Programa Kuntari Katu, é resultado de uma parceria entre o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) e o Instituto Rio Branco. A reportagem foi publicada originalmente pela COP30 Brasil Amazônia.

      A formação é voltada para preparar 30 representantes indígenas, de todos os biomas brasileiros, para participarem da COP30, que ocorrerá em Belém do Pará em 2025. O objetivo é que esses novos diplomatas possam representar suas comunidades com autoridade técnica e cultural nas mesas de negociação, levando consigo o conhecimento ancestral aliado à linguagem das conferências internacionais.

      "Esta é a primeira vez que temos indígenas brasileiros sendo preparados tecnicamente para participar ativamente de uma COP não apenas como observadores, mas como negociadores", afirmou a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara. O nome do programa, Kuntari Katu, vem das línguas Nheengatu e Tupi, e significa "aquele que fala bem". Para a ministra, o nome é uma metáfora da atuação que se espera desses novos quadros: "Não se trata apenas de falar muito, mas de falar com propriedade, com conhecimento técnico e autoridade".

      Desde agosto de 2024, os participantes vêm sendo preparados em módulos intensivos, com aulas presenciais que abordam desde os mecanismos de financiamento climático até temas como gênero, biodiversidade, mercado de carbono e mitigação. As aulas são conduzidas por diplomatas, especialistas do Itamaraty e do Ministério do Meio Ambiente, garantindo uma base sólida para que os estudantes compreendam tanto a estrutura das negociações quanto suas implicações práticas.

      A ministra Guajajara destaca ainda a importância simbólica de sediar a COP30 na Amazônia. “Esta será a primeira vez que uma Conferência do Clima acontece no coração da floresta. Não podemos deixar que seja apenas mais um evento internacional, mas sim um marco na inclusão efetiva dos povos originários nas decisões globais sobre clima”, afirma.

      Além da formação técnica, o programa também realiza oficinas em comunidades indígenas para explicar o que é a COP e como cada povo pode se envolver. Desde abril, essas oficinas vêm acontecendo em Belém e em outras regiões do país. “Queremos que os povos indígenas de todo o Brasil se sintam parte desse processo, mesmo aqueles que não poderão estar fisicamente em Belém”, completa Guajajara.

      Mais de 200 indígenas se inscreveram no processo seletivo, que escolheu 35 representantes (30 titulares e 5 suplentes) de diversas regiões do país. Entre eles está Maisangela Oliveira, do povo Sateré Mawé, do Amazonas. Para ela, participar do curso é uma oportunidade única de dar voz a quem historicamente foi excluído das decisões globais: "Sempre falam da importância da Amazônia, mas muitas vezes nossas vozes são silenciadas nesse debate. Agora estamos aprendendo a linguagem técnica para mostrar ao mundo como os povos indígenas cuidam dos territórios há milênios", disse.

      Maisangela destaca ainda o impacto transformador da formação. “Antes, nós protestávamos do lado de fora dos espaços de poder. Agora estamos nos preparando para ocupar esses espaços por dentro, com conhecimento e estratégia”, relata. Segundo ela, um dos maiores desafios do programa é justamente traduzir os saberes ancestrais para a linguagem técnica da diplomacia.

      O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, também enalteceu a iniciativa durante evento realizado no Instituto Rio Branco. “A Amazônia é um eixo vital da estabilidade planetária”, declarou, alertando para o risco de “savanização” da floresta diante do avanço do desmatamento e do aquecimento global. Ele também celebrou a criação de bolsas de estudo para candidatos indígenas à carreira diplomática. “Queremos suas vozes no centro do debate internacional”, disse Vieira. “Os povos indígenas são os guardiões desse conhecimento ancestral que pode nos ajudar a evitar essa catástrofe do clima.”

      Mariana Moscardo, ministra-conselheira e diretora-geral adjunta do Instituto Rio Branco, explica que o programa reflete a missão histórica da instituição aliada a uma visão de futuro mais inclusiva. “Preparar indígenas não só para negociar, entendendo ritos e linguagem diplomática, mas também para inspirar novas gerações na carreira, combinando tradição e diversidade na construção da diplomacia brasileira”, afirma.

      Com a COP30 se aproximando, os módulos sobre clima ganharão ainda mais foco nos próximos meses. Os futuros negociadores já demonstram preparo e confiança para representar suas comunidades em um dos espaços mais estratégicos para o futuro do planeta. Como define a ministra Guajajara, “não é apenas uma questão de ocupação política, mas de justiça climática e reconhecimento de que a sabedoria indígena é essencial para salvar a Terra”.

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