China conclui este ano aplicação do 14º Plano Quinquenal: um novo tempo começa planejado para andar com fé

Por J.Renato Peneluppi Jr.(*) - O 14º Plano Quinquenal marca uma nova fase no desenvolvimento econômico da China, sendo o primeiro grande o após a erradicação da pobreza, alcançada com o 13º Plano Quinquenal e o cumprimento da primeira meta centenária (1921-2021). Também é o primeiro plano elaborado sob forte escrutínio internacional sobre sua governança. 

Durante a crise da COVID-19, este plano demonstrou a superioridade do modelo de planejamento econômico chinês, ao proteger a vida da população e garantir estabilidade e crescimento, mesmo diante do colapso das cadeias globais de suprimentos e da desaceleração econômica mundial.

Enquanto a maioria das economias entrou em recessão, a China foi a única grande economia a registrar crescimento positivo no período, consolidando as bases tecnológicas rumo à segunda meta centenária e ao rejuvenescimento da nação chinesa na Nova Era.  

Made in China 2025

É preciso destacar três componentes importantes do 14º Plano Quinquenal. O primeiro, ele se sobrepõe à segunda metade do “plano decenal” chamado de "Made in China 2025", desempenhando um papel importante na conclusão deste plano. Esse tem dado vazão a novas tecnologias como carros elétricos, novas baterias, novas energias, e a inovação como Deepseek e foguetes reutilizáveis.

Made in China 2025 é uma estratégia nacional voltada para o fortalecimento das capacidades industriais da China, gerando novas forças produtivas, com base em quatro principais vantagens: um vasto mercado interno, um sólido conjunto de empresas inovadoras, apoio estratégico do governo e uma crescente força de trabalho qualificada.

Esse plano foca no desenvolvimento de dez setores-chave, incluindo tecnologia da informação de nova geração, ferramentas de controle numérico avançadas e robótica, equipamentos aeroespaciais e marítimos de alta tecnologia, sistemas ferroviários modernos, veículos de energia nova e eficientes, novos materiais, dispositivos médicos, máquinas agrícolas e equipamentos de geração de energia.

Plano de longo prazo

O segundo componente é “Objetivo de Desenvolvimento de Longo Prazo até 2035" um plano de quinze anos que visa transformar o país em uma nação socialista moderna e próspera. Nele, a sustentabilidade orienta a busca por autossuficiência, segurança e novas tecnologias, trocando o crescimento rápido por um de qualidade, com foco na “Nova filosofia” voltada à inovação, coordenação, proteção ambiental, abertura e compartilhamento.

Para isso, o plano busca promover avanços tecnológicos e inovação independente, fortalecer indústrias estratégicas e construir uma economia mais aberta, eficiente e sustentável. Além disso, o plano tem como meta melhorar a qualidade de vida da população, ampliando o o a serviços públicos essenciais como saúde e educação. 

A proteção ambiental também é prioridade, com ações para reduzir emissões de carbono e preservar os recursos naturais. Por fim, o plano pretende consolidar a posição da China como uma potência global, aumentando sua influência econômica, tecnológica e política no mundo.

Nessa nova estratégia de desenvolvimento, a “Dupla circulação” combinada com o ICR (Iniciativa Cinturão e Rota) é peça central e traz o mercado doméstico como pilar da economia, com o mercado interno e externo se estimulando mutuamente, e servindo de base para a distribuição da riqueza gerada pelo PIB, fortalecendo assim a Prosperidade Comum.

Civilização ecológica

O terceiro componente vem da busca por transformar o país em uma nação socialista moderna, inovadora e sustentável. Esse caminho a diretamente pela meta 3060, que estabelece o compromisso de atingir o pico de emissões de carbono até 2030 e alcançar a neutralidade de carbono até 2060. Para isso, a China aposta na construção de uma civilização ecológica, que alia crescimento econômico à proteção ambiental.

Nesse processo, o desenvolvimento das megacidades tem papel central, funcionando como plataformas para aplicar soluções tecnológicas verdes, promover eficiência energética e garantir qualidade de vida. Essas áreas urbanas são laboratórios vivos da modernização ecológica, adotando inovações desenvolvidas no programa Made in China 2025, que estimula avanços em setores estratégicos como energia limpa, transporte inteligente, novos materiais e tecnologia da informação.

Todo esse esforço é sustentado pela dinâmica da Dupla Circulação, que fortalece o mercado interno como base do crescimento, ao mesmo tempo em que mantém a integração com os mercados globais. Essa estratégia permite que a China reduza dependências externas, estimule o consumo e a inovação doméstica e, ao mesmo tempo, fortaleça sua posição econômica internacional.

Assim, o plano de longo prazo até 2035 integra metas ambientais, urbanização inteligente, inovação tecnológica e reestruturação econômica, formando os pilares da construção de uma China mais verde, resiliente e globalmente competitiva.

A grande meta

Como destaca Kishore Mahbubani, na sua obra Has China Won?, afirma que "A notável transformação da China é resultado de uma governança pragmática, planejamento de longo prazo e um profundo compromisso com a modernização à sua própria maneira."

O Plano Quinquenal chinês é um instrumento estratégico fundamentado no marxismo-leninismo adaptado à realidade chinesa, incorporando o conceito de socialismo de mercado. Ele orienta o desenvolvimento econômico e social, permitindo ao Estado planejar, coordenar e mobilizar recursos para construir o socialismo moderno. 

Embora mantenha o controle estatal, o plano reconhece o papel do mercado para promover inovação e eficiência. Assim, o Plano Quinquenal é a ferramenta central do Partido Comunista Chinês para alcançar crescimento sustentável, equilíbrio regional e modernização socialista, alinhando objetivos econômicos à ideologia do partido e à dinâmica do socialismo de mercado.

O grande objetivo da segunda meta centenária da China, a ser alcançada até 2049 — no centenário da fundação da República Popular da China — é transformar o país em uma nação socialista moderna, próspera, forte, democrática, civilizada e harmoniosa, com forte capacidade tecnológica e inovação, alcançando um nível elevado de desenvolvimento econômico, social e cultural, consolidando a posição da China como uma grande potência global em todos os aspectos.

Por isso, a “Comunidade de Futuro Compartilhado Brasil–China por um mundo mais justo e um planeta mais sustentável” ganha cada vez mais relevância e sinergia. Apesar das diferenças em natureza política e econômica, os dois países compartilham objetivos sociais e ambientais convergentes. 

A busca por justiça social, desenvolvimento sustentável e soluções para os desafios globais aproxima suas estratégias, criando espaço para cooperação em áreas como transição energética, inovação tecnológica, combate à pobreza e proteção ambiental.

(*) Advogado, Doutorado em istração Pública na China, Pesquisador do Beijing Club for Internacional Dialogue