Haddad critica tarifas dos EUA e pede “olhar mais generoso” para América Latina
Ministro da Fazenda defende neutralidade do Brasil na guerra comercial e afirma que país precisa de acordos com China, Europa e Estados Unidos
247 - Durante entrevista ao UOL, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), criticou a postura do governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, em relação à América Latina e defendeu a neutralidade do Brasil diante da guerra comercial entre norte-americanos e chineses. Para o ministro, Washington deveria “olhar com mais generosidade” para os países latino-americanos, entre eles o Brasil, que classificou como líder regional.
Haddad lamentou o aumento de tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos sul-americanos, medida adotada por Trump em meio às tensões comerciais com a China. Segundo o ministro, o governo Lula tem adotado “a política certa” ao manter uma posição de equilíbrio, sem se alinhar automaticamente a nenhum dos dois lados.
“Eu penso que eles estão tentando encontrar um caminho de reequilibrar algumas variáveis macroeconômicas importantes. O déficit externo americano é muito elevado, o déficit interno é muito elevado, a taxa de juros está alta há muito tempo. Isso tudo vai complicando um pouco a vida dos americanos. Eles estão procurando, à maneira deles, um pouco errática eu diria, um caminho para reequilibrar as contas”, afirmou Haddad.
De acordo com o ministro, embora os Estados Unidos tenham se beneficiado amplamente com a globalização, o avanço econômico da China gerou desconforto em Washington. “Se você pegar a renda per capita, o crescimento, eles se beneficiaram da globalização, mas a China talvez tenha se beneficiado mais que os EUA. Isso gera um incômodo [nos norte-americanos]”, afirmou.
Haddad também ressaltou o papel estratégico da China no cenário global: “A China é uma potência militar, uma potência econômica, está na fronteira da tecnologia… É uma questão que está também colocada”.
Ao comentar o andamento das negociações entre os EUA e a China, que suspenderam temporariamente a escalada da guerra comercial por um período de 90 dias, Haddad destacou que o Brasil tem sido cauteloso e atuado de forma responsável. Ele mencionou a atuação do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que lidera os esforços junto ao setor produtivo brasileiro nas conversas com autoridades norte-americanas.
“Quem está capitaneando o processo de negociação é o vice-presidente Geraldo Alckmin. Mas é um assunto caro à Fazenda. Causou uma certa estranheza o fato de a América do Sul ser deficitária em suas relações comerciais com os EUA. Como você taxa uma região que é deficitária? Não faz o menor sentido isso”, criticou.
Para Haddad, os Estados Unidos deveriam adotar uma postura mais colaborativa com seus vizinhos continentais. “Na minha opinião, os EUA têm de ar a olhar para o continente de uma forma mais estratégica no longo prazo. Os EUA têm muito a ganhar com o maior equilíbrio regional, o maior desenvolvimento industrial de todo o continente. Quanto mais um país é vulnerável, mais ele se torna presa fácil de interesses comerciais do mundo inteiro. Os EUA deveriam olhar com mais generosidade para a América Latina e para a América do Sul”, afirmou.
Haddad reiterou que o Brasil busca acordos comerciais equilibrados com todos os grandes blocos econômicos. “O Brasil está fazendo a política certa. Não está escolhendo bloco econômico. Para se desenvolver, o Brasil precisa de um bom acordo com a Ásia, um bom acordo com a Europa e um bom acordo com os EUA.”
Ao ser questionado sobre qual lado o Brasil escolheria em caso de aprofundamento do conflito entre EUA e China, o ministro foi direto: “O presidente Lula não vai fazer essa escolha porque não acredita nesse tipo de coisa”.
Para ele, o Brasil depende tanto da parceria comercial com a China quanto da tecnologia dos Estados Unidos. “A China é o maior parceiro comercial do Brasil hoje. Como você vai prescindir disso? Os EUA têm uma tecnologia de ponta que ninguém domina no nível que eles dominam. O Vale do Silício está na frente, nós dependemos de tecnologia, como o mundo inteiro depende. Essas parcerias são fundamentais para o Brasil se desenvolver.”
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