Brics defendem uso de moedas locais e manifestam preocupação com unilateralismo, diz presidência brasileira
Presidência brasileira divulgou um comunicado, em vez de uma declaração conjunta, uma vez que o grupo não teria chegado a um consenso para um texto único
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Os ministros das Relações Exteriores dos países que formam o Brics defenderam nesta terça-feira a importância do uso de moedas locais em transações comerciais entre as nações do bloco e seus parceiros comerciais, e manifestaram preocupação com medidas comerciais unilaterais, segundo comunicado da presidência brasileira do grupo.
Após reunião entre os chanceleres do Brics -- grupo formado por África do Sul, Arábia Saudita, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Índia, Irã e Rússia --, no Rio de Janeiro, a presidência brasileira divulgou seu comunicado, em vez de uma declaração conjunta, pois, segundo o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, não se chegou a um consenso para um texto único.
O documento da presidência brasileira afirma que os ministros se comprometeram com o fortalecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC), apontada como "única instituição multilateral com o mandato necessário para estabelecer as regras do sistema multilateral de comércio".
"Os ministros destacaram a importância do uso ampliado de moedas locais nas compensações comerciais e financeiras entre os países do Brics e seus parceiros comerciais", acrescenta o comunicado.
"Os ministros expressaram sérias preocupações com o aumento de medidas protecionistas unilaterais injustificadas, inconsistentes com as regras da OMC, incluindo o aumento indiscriminado de medidas tarifárias e não tarifárias e o uso abusivo de políticas verdes para fins protecionistas. Eles alertaram que essas medidas causam perturbações na cadeia de suprimentos global e trazem mais incerteza para a economia global."
O documento não menciona diretamente os Estados Unidos ou o presidente norte-americano, Donald Trump, que tem imposto tarifas de importação sobre vários países, em especial para a China, que recebeu uma tarifa de 145% sobre seus produtos.
Trump também tem ameaçado os países do Brics com tarifas comerciais punitivas caso eles avancem nos planos de uma moeda única para substituir o dólar nas relações comerciais -- uma proposta que, na verdade, não está no horizonte, especialmente depois da expansão do grupo.
Como mostrou a Reuters em fevereiro, o bloco busca maneiras de ampliar o comércio entre os países e diminuir a dependência do dólar, usando moedas locais e outras formas de reduzir os custos das transações.
Em entrevista coletiva após a reunião no Rio, Vieira disse que, diante da falta de um consenso para uma declaração conjunta, foi feita a opção pela declaração da presidência brasileira para deixar o "caminho aberto" para a negociação de uma declaração conjunta e final na cúpula de líderes dos países do Brics, em julho, também na capital fluminense.
Esta foi a primeira reunião do Brics após a ampliação do bloco e já sinalizou divergências mais significativas entre alguns de seus membros.
Além de criticar medidas comerciais unilaterais, em referência velada aos EUA e a Trump, o comunicado da presidência brasileira também expressou preocupação com "o uso abusivo de políticas verdes para fins protecionistas".
De acordo com uma fonte diplomática ouvida pela Reuters, este trecho se refere a medidas ambientais da União Europeia que impactam particularmente o Brasil sem, no entanto, mencionar diretamente o bloco europeu.
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