Especialistas defendem controle de carbono na construção civil para evitar custos altos no futuro
Em do ENIC, especialistas alertam que falta de regulação pode gerar prejuízos ao setor, que ainda engatinha na agenda da descarbonização
247 - O controle da emissão de carbono na construção civil deixou de ser uma opção e se tornou uma urgência estratégica para o setor. O tema dominou o debate em um dos painéis do Encontro Internacional da Indústria da Construção (ENIC), realizado na terça-feira (8), em São Paulo. A discussão contou com a presença de especialistas e representantes de empresas que defendem a regulamentação do mercado de carbono no Brasil como forma de garantir competitividade, reduzir riscos e alinhar o setor aos compromissos internacionais de sustentabilidade. A cobertura foi publicada originalmente pelo portal da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
“A sustentabilidade é um caminho sem volta”, afirmou Maria Belén Losada, head de novos negócios do Itaú BBA. Responsável por analisar e avaliar financiamentos sustentáveis, Losada alertou que, embora o mercado de carbono ainda esteja em formação no Brasil, empresas que não se prepararem agora podem enfrentar custos elevados no exterior. “Todos sabemos que a emissão de carbono vai ter custos, mas não se sabe o quanto. Se não nos anteciparmos, vamos pagar taxas lá fora muito maiores do que poderíamos pagar aqui com um mercado estruturado”, declarou.
Segundo dados debatidos no , apenas 25% das emissões globais de carbono já estão incluídas em mercados regulados ou voluntários, que movimentam cerca de US$ 1,2 trilhão. A participação do Brasil ainda é tímida: somente US$ 100 milhões. A construção civil aparece nesse cenário mais como usuária de materiais com alta pegada de carbono, como aço e alumínio, do que como protagonista na redução direta de emissões.
A advogada Gleyse Gulin, especialista em direito ambiental, pontuou que um dos entraves à entrada do setor no mercado de carbono está na indefinição legal sobre onde exatamente a construção se encaixa na cadeia de emissões. “Temos uma cadeia de valor enorme, mas os projetos de redução de carbono na construção praticamente não existem por falta de volume justificável nas obras”, destacou.
Felipe Bottini, diretor-executivo de Sustentabilidade da Accenture na América Latina, reforçou que é essencial iniciar imediatamente o planejamento de ações concretas para controlar emissões. Segundo ele, em pouco tempo os custos adicionais de obras sem planejamento ambiental serão expressivos. “Se eu gasto 30 para reduzir a emissão e encontro créditos a 20, por que não comprar, se estamos na economia de mercado?”, questionou.
Nilson Sarti, vice-presidente de Sustentabilidade e presidente da Comissão de Meio Ambiente da CBIC, lembrou que o cenário internacional ainda apresenta incertezas, como a resistência do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, em apoiar compromissos sustentáveis. Maria Belén, no entanto, minimizou o impacto da possível saída norte-americana desses pactos: “Os Estados Unidos nunca lideraram esse tema, com exceção do governo de Joe Biden. Se saírem agora, os outros países continuarão com seus compromissos. O problema não vai embora, é um desafio geracional.”
A discussão se conecta diretamente ao projeto “Descarbonização e Integração aos Compromissos da COP 30”, desenvolvido pela Comissão de Meio Ambiente e Sustentabilidade (CMA) da CBIC em parceria com o Senai. O objetivo é preparar o setor da construção para cumprir metas climáticas e integrar-se à nova economia verde que se consolida no mundo.
O ENIC ocorre em conjunto com a 29ª edição da Feicon, no São Paulo Expo, até o dia 11 de abril. O evento é promovido pela CBIC, em parceria com a RX | Feicon, com apoio do Sistema Indústria e correalização de SESI e SENAI, além de contar com diversos patrocinadores do setor.
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