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      Ricardo Nêggo Tom

      Músico, graduando em jornalismo, locutor, roteirista, produtor e apresentador dos programas "Um Tom de resistência", "30 Minutos" e "22 Horas", na TV 247, e colunista do Brasil 247

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      Virgínia Fonseca e a Acadêmicos do Tigrinho

      A nova rainha de bateria da Grande Rio já está acostumada a sambar na cara da sociedade brasileira

      Virgínia Fonseca (Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)

      Depois de desfilar na arela do Senado Federal erguendo o pavilhão da impunidade, e de ser cortejada por senadores e demais súditos da sua realeza no mundo digital, a influencer e empresária Virgínia Fonseca acaba de ser anunciada como a nova rainha de bateria da Acadêmicos do Grande Rio, escola de samba do grupo especial do Rio de Janeiro, conhecida como a escola dos artistas. Em postagem no seu perfil do Instagram, ela fez o anúncio a seus seguidores com as seguintes palavras: “Alô, Comunidade de Caxias! Muita honra de chegar aqui e estar junto com vocês na GRANDE RIO. Que seja o início de uma história linda. O nosso Carnaval já começou! Toda honra e glória a Deus, 2025 É NOSSO e 2026 também.”

      Mesmo chegando em território considerado mundano, a influenciadora de seres humanos idiotizados fez questão de dar honra e glória ao deus que a tornou milionária e que apoia o seu trabalho de promover apostas online na internet e lucrar grandes rios de dinheiro com as famigeradas Bets. O deus capital. Ele, que é tão bom para Virgínia Fonseca, que lhe transferiu sua onipotência, a colocando acima da lei diante de Senadores da República, que, ao invés de inquiri-la respeitando a liturgia do cargo que ocupam e a sociedade que lhes paga para representá-la, se prestaram ao ridículo papel de tietá-la enquanto ela interpretava o personagem de uma boa moça de família, que tomava água de canudinho num copo Stanley e trajava um moletom com o rosto da filha estampado no peito.

      Nossa “Betty, a feia”, que foi depor na I das Bets feito uma “jeca” caipira, mas que, nas redes sociais, costuma exibir uma imagem bem mais glamourosa e um sexy appeal muito mais latente, chega à Grande Rio para patrocinar o velório do samba. Não adiantou o apelo feito por Alcione para que não deixássemos o samba morrer. Ele morreu, sobretudo, dentro das agremiações carnavalescas. E foi assassinado com requintes de crueldade e muita grana envolvida. Precisamos falar sobre o protagonismo branco no mundo das escolas de samba, como reflexo do protagonismo branco na nossa sociedade. Dois mundos colonizados, nos quais os títulos de nobreza, como o de rainha de bateria, não devem ser concedidos a pessoas racializadas. Nem Jesus Cristo escapou de ser pintado de branco pela igreja, para que o seu reinado divino fosse mais crível e aceitável.

      O samba, que outrora foi sinônimo de resistência, ativismo social e denúncia contra as injustiças sociais, hoje não apenas rende-se à branquitude opressora, como rende homenagens a ela. A influencer bolsonarista não entende nada de samba, mas entende muito bem de relação de poder. E essa é a única afinidade possível entre ela e a escola de samba de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Graças ao poder da grana que ergue e destrói coisas belas, ela poderá sambar na cara de toda uma sociedade como rainha de bateria e reinar como a majestade da comunidade no carnaval carioca do próximo ano. Aliás, as agremiações cariocas estão cada vez mais importando rainhas de outros estados.

      Em 2024, a Império Serrano concedeu a coroa para a modelo Poliana Roberta, que, de tão empolgada com a reverência, mandou um beijo para a já falecida dona Ivone Lara, um dos baluartes da escola de Madureira, desejando que ela curtisse o desfile. Parafraseando o mestre Paulinho da Viola, eu diria que tá legal, eu aceito o argumento do dinheiro como a origem da realeza carnavalesca dos dias de hoje, mas não me altere a essência do samba tanto assim, porque a rapaziada está sentindo falta de identificação com musas e rainhas que nada têm a ver com as comunidades e com a cultura do samba. Pelo contrário, uma gente que odeia a cultura preta, demoniza sua religiosidade e trata o seu povo com inferioridade. Um reinado que segue após a Quarta-feira de Cinzas e se estende por todas as avenidas do país sem samba no pé, mas com o chicote da branquitude nas mãos, perpetuando um sistema opressor, desigual e de privilégios para os seus iguais.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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