Vietnã celebra cinquenta anos do fim de seu período colonial
O novo Vietnã socialista deu enorme ênfase à reconstrução da vida dos camponeses, que haviam ado o peso da guerra
Publicado originalmente por Globetrotter e No Cold War em 12 de maio de 2025
Cinquenta anos atrás, em 30 de abril de 1975, as forças revolucionárias do Exército Popular do Vietnã e da Frente de Libertação Nacional entraram em Saigon, então capital do Vietnã do Sul. Dois dias antes, em uma tentativa desesperada de evitar mais guerra, os EUA trouxeram um "candidato da paz" – o ex-general Duong Văn Minh – para assumir a presidência. Foi "Big Minh", como era conhecido, quem ordenou que suas forças se rendessem às tropas comunistas, o que significou a retirada das forças estadunidenses naquele dia. Finalmente, em 2 de julho de 1976, o Vietnã do Norte e do Sul foram formalmente reunificados sob a presidência de Tôn Duc Thắng, um líder comunista de longa data, que assumira como presidente da República Democrática do Vietnã (o norte) após a morte de Ho Chi Minh em 1969. "Tio Tôn", como era chamado, trabalhou em estreita colaboração com o general Le Duan para unificar o país e reconstruir uma economia devastada por 67 anos de colonialismo francês (de 1887 a 1954) e, depois, por 21 anos de guerra brutal (1954 a 1975).
É difícil compreender a situação após 1975 sem uma avaliação completa da destruição causada por essas duas décadas de guerra. Os comunistas vietnamitas organizaram um exército massivo de patriotas que se recusaram a se render, apesar da violência horrível infligida pelos Estados Unidos, a maior potência industrial da época. Entre 1954 e 1975, as forças armadas dos EUA lançaram 7,5 milhões de toneladas de bombas sobre o Vietnã, Laos e Camboja – mais do que os 2 milhões de toneladas lançados durante a Segunda Guerra Mundial em todos os teatros de conflito. No Vietnã, os EUA despejaram 4,6 milhões de toneladas de bombas, incluindo em campanhas brutais e indiscriminadas de bombardeios como a Operação Rolling Thunder (1965–1968) e a Operação Linebacker (1972). Esses ataques incluíram o uso do herbicida químico Agent Orange [Agente Laranja], bombas de fragmentação e a bomba incendiária de gel combustível chamada Napalm (feita de ácidos naftênico e palmítico).
O uso do Agent Orange teve um impacto duradouro na agricultura vietnamita. Entre 1961 e 1971, os EUA pulverizaram mais de 20 milhões de galões de herbicidas no solo vietnamita (mais da metade disso foi Agent Orange). Os herbicidas atingiram pelo menos 5 milhões de acres de terra, incluindo florestas (que sofreram desmatamento extensivo e redução de um terço dos manguezais) e terras agrícolas (meio milhão de acres quase permanentemente inutilizáveis). Milhões de vietnamitas, especialmente nas áreas rurais, enfrentaram problemas de saúde terríveis por gerações devido ao Agent Orange (incluindo defeitos congênitos graves). Uma história colonial tão cruel quanto a dos ses, seguida por uma guerra horrenda, esgotou a economia de sua vitalidade (milhões de pessoas, principalmente camponeses, morreram no conflito), e, após a reunificação, mais de dois milhões de pessoas deixaram o país (incluindo muitos intelectuais, profissionais de saúde, cientistas e engenheiros). Isso representou um desafio enorme para o novo país.
O novo Vietnã socialista deu enorme ênfase à reconstrução da vida dos camponeses, que haviam ado o peso da guerra. Dois projetos de imensa importância raramente são mencionados: os programas nacionais de alimentação para aliviar a fome (aumentando a produção de arroz e distribuindo alimentos emergenciais) e o programa de desenvolvimento rural para reconstruir escolas, clínicas médicas e sistemas de irrigação, além de enviar brigadas de saúde e alfabetização para formar o "novo homem/mulher vietnamita" (con người mới xã hội chủ nghĩa – construir uma nova pessoa). Contra todas as probabilidades, o Partido Comunista do Vietnã conseguiu iniciar a transformação da sociedade rural, ando de uma situação de devastação total para um certo nível de normalidade. O estagnamento das cooperativas agrícolas, devido à má qualidade do solo e equipamentos ultraados, levou a uma séria reconsideração do caminho a seguir. Foi a partir da percepção de que as forças produtivas precisavam avançar que o Partido lançou a política Đổi Mới (Renovação) em 1986, para atrair novas tecnologias e investimentos.
O período Đổi Mới foi mal compreendido fora do Vietnã. O Estado vietnamita manteve o controle do sistema financeiro e monetário por meio do Banco Estatal do Vietnã (política monetária) e do Ministério das Finanças (política fiscal e supervisão das empresas estatais). Paralelamente, o Estado regula rigidamente bancos privados e investidores, restringe e monitora fluxos de moeda estrangeira com controles de capital rígidos e direciona crédito para setores estratégicos ou empresas estatais. Ligado ao dinamismo da economia chinesa e à importação de novas tecnologias de empresas estrangeiras, o Vietnã registrou altas taxas de crescimento (mais de 7% em 2024), impulsionadas pela manufatura e construção, com contribuições modestas da agricultura, silvicultura e pesca. Como consequência, a expectativa de vida melhorou, assim como os indicadores sociais gerais.
No entanto, a economia é vulnerável a choques externos, pois 87% do seu PIB vêm de exportações. Mas a crescente demanda dentro do Acordo de Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP) de 2020, que formou o maior bloco comercial do mundo, proporcionou ao Vietnã um conjunto diversificado de clientes, protegendo-o de crises. Dentro do país, há uma forte demanda política para ampliar o mercado interno e erradicar a pobreza absoluta, especialmente nas zonas rurais. Isso está em pauta junto à campanha do Partido Comunista para acabar com a corrupção entre funcionários e empresas privadas. Um indicador dessa abordagem é que, embora o Vietnã seja o maior exportador mundial de arroz, nenhum grão sai do país sem que as necessidades domésticas sejam atendidas primeiro.
Na comemoração da reunificação do Vietnã, o secretário-geral do Partido Comunista, Tô Lâm, citou um ditado de Ho Chi Minh: "O Vietnã é um só, o povo vietnamita é um só. Os rios podem secar, as montanhas podem se erodir, mas essa verdade nunca mudará". Na realidade, o Estado e o povo vietnamita estão em uma luta para garantir que os rios não sequem, que as montanhas não desapareçam, que permaneçam unidos e que seu país comece a abolir os velhos problemas (fome, pobreza, analfabetismo) que os assolam há séculos. O ex-secretário-geral do Partido, Nguyễn Phú Trọng, disse nesse contexto: "Nenhum vietnamita deve ar fome na terra que a sua revolução libertou". Este é um compromisso do Partido para acabar com esses legados rígidos do ado. O fato de muitos desses problemas estarem perto de serem erradicados dá ao povo fé em seu sistema.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: