Trump “chickens out”
O “chickens out” se tornou modelo de governança. A indecisão virou estratégia. O caos, política oficial
1.
Antes mesmo do início do segundo mandato de Donald Trump as brincadeiras começaram em torno de sua figura, nada usual. À época ainda era o candidato Republicano predileto à reeleição como presidente dos Estados Unidos (EUA). Preparem o estômago, o presidente Donald vai voltar e vai nos entregar mais uma de suas especialidades econômicas -- o plano TACO, diziam muitos em tom de brincadeira. E não se tratava de comida mexicana, mas uma mistureba indigesta de populismo econômico com aparente ignorância estratégica, servida com molho extra de autossuficiência delirante. E Donald Trump voltou, em 2025.
Segundo o poderoso chefe da desglobalização, os EUA resolveriam a totalidade de seus problemas econômicos se simplesmente impusessem uma tarifa de 10% sobre todas as suas importações. E, como sobremesa, uma tarifa de até 60% sobre os produtos vindos da China. Essa era a versão MAGA (Make America Great Again) da “dieta do protecionismo”: engorda a inflação, seca a diplomacia e ainda te deixa com azia geopolítica.
Trump e seus asseclas defendiam que seria ótimo para a “indústria americana” (termo que ele costuma usar como se ainda estivéssemos no final dos anos 1950). Economistas, CEOs e até membros do próprio Partido Republicano alertaram: o plano além de inflacionar preços, reduz a competitividade e joga gasolina num barril de pólvora geopolítico já instável. Em outras palavras, um clássico da era Trump: muita fumaça, fogo em lugares errados e um extintor para apagar os incêndios. Isso era o que se vislumbrava a partir do que já se conhecia do primeiro mandato de Donald Trump (2017-2020).
Mas ele retornou com uma ânsia enorme por fazer aquilo que sabe melhor: ameaçar o planeta com tarifas, alienar bilionários aliados e, claro, mudar de ideia no minuto seguinte — tudo isso antes de cada café da manhã. O presidente eleito parecia determinado a transformar os Estados Unidos em uma fortaleza tarifária, com seu recém-requentado plano “universal” de tarifas, apelidado com razão e ironia de TACO — Trump’s Automatic Chaos Ordinance (Portaria do Caos Automático de Trump, em tradução livre) -- nome que ainda estava em disputa.
2.
O acrônimo TACO finalmente se popularizou e encontrou um significado mais primoroso: “Trump Always Chickens Out” (Trump Sempre Amarela, em tradução livre). Nasceu em 2 de maio de 2025 decorridos um mês do ‘Dia da Libertação’ ou ‘Dia do Tarifaço’. Foi cunhado pelo jornalista Robert Armstrong, do Financial Times, em sua coluna “Unhedged”, para descrever o padrão recorrente do presidente Donald Trump de anunciar tarifas comerciais agressivas e, posteriormente, recuar diante de pressões econômicas e políticas, criando um ambiente de incerteza que desorganiza o comercio internacional e as economias das nações parceiras.Desde então, a sigla TACO virou galhofa ganhando popularidade entre investidores, analistas, críticos, jornalistas, artistas caricaturistas e o público em geral. Tornou-se um símbolo das políticas comerciais voláteis de seu segundo mandato. Gerou uma onda de memes e sátiras nas redes sociais, refletindo a percepção pública sobre a inconsistência das decisões tarifárias do presidente. De “raposa vermelha” ou a “galinha assustada” que bate as asas e foge. Triste sina do presidente dos EUA que achava que conseguiria ser o dono do mundo. O autointitulado "mestre negociador" agora parece mais o “aprendiz que chickens out”.
O TACO de Trump, que não é comida mexicana, tem sido indigesto para a economia americana e global, deixando um gosto amargo de incertezas e instabilidades.
Terça-feira (3 de junho), Trump anunciou um aumento de tarifas sobre importações de aço, alumínio e derivados, elevando-as de 25% para 50%, com aviso de que entrarão em vigor a partir de quarta-feira. Estas medidas, somadas a outras que estão na quarentena dos noventa dias, prometem impactar o ambiente econômico de forma expressiva. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC) alertam para uma possível retração de até 7% no PIB global em caso de uma guerra comercial prolongada. Apontam, também, uma deflação no médio prazo.
Elon Musk, aliado desde o primeiro momento do presidente norte-americano, já bateu em retirada, semana ada, encerrando sua breve e tumultuada agem pelo governo, onde liderou o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês). Prometeu cortes de US$ 2 trilhões, mas os resultados ficaram aquém, com economistas questionando a eficácia das medidas implementadas. Demitiu mais de dois milhões de funcionários públicos com uma indenização equivalente a oito meses de salário. Os servidores interpretam a medida, de acordo com depoimento de fontes seguras, como férias remuneradas, na certeza de que o padrão “chickens out” vai vigorar e, em breve, serão reconvocados a ocupar seus antigos postos. Musk, agora de volta ao setor privado, expressou decepção com as políticas econômicas do governo, especialmente aquelas que afetaram negativamente empresas como a Tesla (de sua propriedade). Na terça-feira (03/06), poucos dias após deixar o governo dos Estados Unidos, Elon Musk definiu o projeto de lei de corte de impostos e gastos anunciado pelo presidente Donald Trump como “abominável e repugnante”. Quem diria!!!
Fontes próximas ao círculo trumpista dizem que o bilionário “está evitando até atender o celular”. Talvez porque não queira ser associado a um governo que, entre um delírio protecionista e outro, flerta com a censura e despreza qualquer coisa remotamente parecida com ciência, inovação ou estabilidade — pilares que, ao menos no papel, ainda movem a Tesla, a SpaceX e o império de Musk.
O padrão de acovardamento de Trump — anunciar medidas drásticas e recuar diante da pressão — tem sido uma constante, comprometendo a credibilidade dos Estados Unidos no cenário internacional e gerando volatilidade nos mercados, agora debaixo de muito mau humor e incertezas.
Mas Trump continua jurando que o TACO vai “proteger empregos americanos”. Ele só esquece de dizer que esses empregos provavelmente custarão o dobro, e que os trabalhadores terão que pagar alguns dólares a mais num micro-ondas de quinta categoria porque agora é “made in USA”. É o tipo de patriotismo que só funciona quando se ignora a realidade — algo em que Trump porta um PhD, mas que não é da Universidade de Harvard. Por isso sua raiva da mais prestigiosa Universidade do planeta, que ele obstinadamente tenta destruir. Xi Jinping, o líder da China, mandou sua própria filha estudar em Harvard. Por lá também aram muitos líderes políticos americanos; entre os quais dois se tornaram presidentes dos Estados Unidos: Rutherford B. Hayes (1877-1881) e Barack Obama (2009 -2017).
3.
Se você é estadunidense e achava que o TACO era um plano estratégico para salvar a indústria americana e lhe dar emprego, pense de novo. O nome não é oficial, mas se tornou viral exatamente porque resume bem a natureza da proposta: superficial, “nacionalista de araque” e com potencial explosivo para a economia global e para seu bolso de americano classe média.
Economistas do mundo inteiro já apontaram para o risco de:
- Aumentar a inflação nos EUA;
- Provocar retaliações comerciais em cadeia (países não gostam de serem extorquidos) com apoio dos nacionais em cada país;
- Desorganizar cadeias globais de suprimento (algo que claramente aconteceu durante a pandemia...).
Mas, para Trump e seus aliados, isso é só “mainstream fake news economics”. A nova moda MAGA é fazer economia com base em tweets e instintos. Afinal, por que confiar no consenso de centenas de economistas quando se pode ouvir Steve Bannon num podcast, ou pessoas como o todo poderoso ricaço Elon Musk - cujo filho sensacional X, diz ao vivo, frente a frente, que Trump não manda nos Estados Unidos, e deixa o pai com um olho roxo, aos cinco anos ? Bom menino, percebe as palhaçadas e sabe punir: um questionando a autoridade, e o outro a vaidade.
O TACO, no fundo, não é apenas uma política tarifária. É uma declaração de guerra contra o mundo moderno. É Trump dizendo: “Se não podemos ganhar no jogo, vamos mudar as regras. E se isso der errado, a culpa é da China, da imprensa, dos imigrantes ou de alguma conspiração envolvendo o vento”. O pequeno X faria melhor que ambos. É o novo poderoso chefão.
Fontes próximas ao presidente disseram que ele “não queria legitimar o circo”. Traduzindo do trumpês: o palhaço decidiu que não queria brincar no picadeiro. Claro, é mais fácil gritar ‘caça às bruxas!’ do que sentar e responder perguntas com mais de três letras. Especialmente quando uma delas precisa ser “sim” ou “não”.
A base, como sempre, aplaude. Afinal, quem precisa de prestação de contas quando se tem memes no Truth Social e vídeos em caps lock? Para eles, o “chickens out” é só mais uma jogada de mestre. Talvez estejam certos. Afinal, manter a pose de raposa vermelha enquanto age como galinha é uma manobra engenhosa.Lembram do grande debate com Joe Biden que Trump exigiu, marcou, e... ops, sumiu? Ou do banimento total da TikTok que virou um vago “vamos ver”? Ou mesmo da proposta de desmantelar a OTAN que depois virou “era só brincadeira”? É o trumpismo em seu estado puro: ameaçar, recuar, culpar alguém e repetir. Trump não enganou. Está sendo ele mesmo. Mas, preside um país hegemônico em um mundo que flerta com uma guerra mundial para a qual estão em estado de alerta as atuais maiores potências nucleares: EUA, Rússia e China e as em ascensão. Outros países com armas nucleares incluem: Reino Unido, França, Índia, Paquistão, Israel, Coreia do Norte e brevemente o Irã. O momento é delicado, e se desencadeado qualquer conflito será muito difícil de estancar para que não se transforme em uma guerra nuclear mundial. O mercado, vive em estado de alerta com a percepção de que o segundo governo Trump pode ser um parque temático de improvisações ideológicas — cada semana traz um novo susto e nenhum plano dura mais que um ciclo de notícias. O “chickens out” se tornou modelo de governança. A indecisão virou estratégia. O caos, política oficial.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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