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      Reynaldo José Aragon Gonçalves

      Reynaldo Aragon Gonçalves é jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos em Comunicação, Cognição e Computação (NEECCC) e do INCT em Disputas e Soberania Informacional.

      32 artigos

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      Soberania ou submissão: a hora de criar uma doutrina nacional para defender o Brasil na guerra da informação

      "O Brasil está sendo invadido. Não por exércitos, mas por plataformas, dados e narrativas que moldam nosso destino sem que percebamos"

      Por Reynaldo Aragon e Sara Goes - O Brasil está sendo invadido. Não por exércitos ou mísseis, mas por plataformas digitais estrangeiras, algoritmos que não obedecem às nossas leis e narrativas que moldam silenciosamente os rumos da nossa sociedade. Essa invasão não usa armas visíveis, mas compromete, todos os dias, nossa democracia, nossa liberdade e o nosso futuro. Estamos perdendo o controle sobre o que somos e o que podemos ser.

      Sem uma doutrina nacional de soberania informacional, corremos o risco de nos tornarmos colônia de interesses invisíveis, onde nossas decisões, nossos dados e nossa cultura são moldados de fora para dentro. No século XXI, a guerra híbrida não precisa mais de tanques. Ela se dá por meio do controle das infraestruturas digitais, da manipulação de dados, da dominação algorítmica. A soberania de um país hoje se mede pela sua capacidade de controlar seus próprios sistemas, suas redes, suas tecnologias. E o Brasil segue indefeso.

      Soberania informacional é soberania nacional. Ela articula três dimensões: a soberania digital, que garante o controle sobre plataformas e redes essenciais; a soberania de dados, que protege juridicamente as informações da nossa população; e a soberania tecnológica, que assegura o domínio sobre as inovações que definirão o amanhã. Estamos falhando em todas as frentes.

      Essa vulnerabilidade é fruto de uma série de negligências históricas que atravessam governos, instituições e elites brasileiras. A sociedade civil e o meio acadêmico, com algumas exceções, limitaram-se a análises fragmentadas sobre desinformação eleitoral e crimes cibernéticos, sem integrar esses fenômenos em uma visão estratégica mais ampla sobre soberania informacional. O debate ficou a questões pontuais, sem impulsionar uma mobilização nacional capaz de articular pesquisa, diagnóstico e formulação de políticas públicas robustas.

      O Estado brasileiro foi omisso. Governos, ministérios, legisladores: todos falharam ao não colocar a soberania informacional no centro da agenda. Perdemos tempo e oportunidades enquanto a China, a Rússia e até a União Europeia erguiam barreiras de proteção e desenvolviam alternativas soberanas.

      As Forças Armadas, ainda presas a paradigmas da Guerra Fria, ignoraram que a guerra contemporânea se trava no ciberespaço. O Legislativo cedeu a lobbies. As elites econômicas e midiáticas mantiveram-se confortavelmente submissas à lógica colonial da dependência tecnológica. As universidades e a sociedade civil, com raras exceções, ficaram limitadas a diagnósticos pontuais, sem construir uma visão estratégica integrada. Chegou a hora de romper esse ciclo.

      A soberania informacional não pode mais ser periférica. Ela deve estar no centro da polícia, da educação, da cultura e da defesa nacional. É urgente garantir que toda infraestrutura crítica do Estado opere co tecnologias seguras, auditáveis e sempre que possível, com código aberto. Precisamos desenvolver nossas plataformas e investir na formação massiva em letramento digital e pensamento crítico. 

      Mais o que uma questão técnica, essa é uma batalha cultural. Estamos disputando afetos, valores e sentidos. A desvalorização do Brasil, a ridicularização da nossa capacidade de inovação, a internalização de um complexo de vira-lata são armas do inimigo. Precisamos forjar uma noa narrativa, que já conhecemos: de orgulho, de dignidade informacional e de autonomia. 

      A soberania informacional é a nova fronteira da independência nacional. Cada dado, cada rede, cada algoritmo é hoje um território em disputa. Continuar de braços cruzados é entregar o país à manipulação e à servidão digital.

      Ainda há tempo para agir. Mas o relógio corre — e o atraso cobra caro. Cabe a nós, sociedade brasileira, atravessar essa fronteira com coragem, com inteligência e com o compromisso coletivo de quem não aceita viver ajoelhado diante das plataformas. A soberania informacional é uma urgência histórica. E o Brasil só será livre quando for, de fato, soberano.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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