window.dataLayer = window.dataLayer || []; window.dataLayer.push({ 'event': 'author_view', 'author': 'Paulino Cardoso', 'page_url': '/blog/reflexoes-sobre-as-mudancas-que-estao-ocorrendo-no-mundo' });
TV 247 logo
      Paulino Cardoso avatar

      Paulino Cardoso

      Historiador, analista geopolítico e Editor do Mundo Multipolar

      29 artigos

      HOME > blog

      Reflexões sobre as mudanças que estão ocorrendo no mundo

      Dizem que as redes sociais são a nova ágora grega, mas falta a esses espaços o sentido da amizade, da empatia, da capacidade de se colocar no lugar do outro

      Lula, Vladimir Putin, Xi Jinping e Donald Trump (Foto: Felipe L. Gonçalves/Brasil247 | Reuters)

      Este pequeno texto é fruto de um diálogo intenso em um dos grupos de WhatsApp que participo. Sim, velhinhos como eu adoram esses grupos. Certamente alguém já escreveu sobre isso, minha caçula adolescente me disse inúmeras vezes que o “Zap” é para seres pré-históricos como eu. 

      De fato,  nossas trocas intensas, mediadas pelo aplicativo tem o inconveniente de intercambiar opiniões sem o tempo necessário para a escolha adequada das palavras. Ele simula a conversa, sem o limite dos olhos e do gestual do outro, então, o mesmo é convertido em adversário e logo a prosa descamba para acusações e outras posturas moralistas, tão característico dos cristãos ocidentais.

      Alguns dizem que as redes sociais são a nova ágora grega, entretanto falta a esses espaços o sentido da amizade, da empatia, da capacidade de se colocar no lugar do outro e compreendê-lo nos seus próprios termos. Em uma palavra: ética.

      Assim, é difícil fazer entender que na contemporaneidade há uma disputa não apenas de narrativa, mas, igualmente, de chaves interpretativas. E piora quando lembramos aos colegas que todo modo de representação é datado historicamente. Assim, @⁨~Marcito 🇲🇽 🏹, um colega mexicano do grupo⁩ , tem razão ao questionar a universalidade do marxismo e dos projetos de sociedade que ele orienta. 

      Por exemplo, vamos levar muito tempo para compreender a experiência chinesa. Recentemente, Elias Jabbour, em entrevista, mesmo sendo um marxista clássico, chamou a atenção para a necessária atualização da ciência política para nos ajudar a ter uma visão da China atual. Filho acadêmico de Armen Mamigonian, ele se baseia no conceito de Ignácio Rangel, de economia de projetamento, para explicar a evolução histórica e as novas formas de produzir e planificar a produção de mercadorias. 

      As pessoas que se interessam por geopolítica, são obrigadas a ler os teóricos anglossaxônicos (John Mackinder e Zbigniew Brzezinski não podem faltar). Mas, igualmente, uma série de autores/atores, como Jeffrey Sachs, Alastair Crooke, MK Bhadrakumar, Dmitry Medvedev, e muitos outros publicados em mídias alternativas como Réseau International, Global Research, Comunidad Saker Latinoamérica,  Misión Verdad, The Unz Review,   Strategic Culture Foundation. Nesta última, o artigo do @⁨Hugo Dionísio, nosso parceiro português do canal de Youtube Multipolar TV⁩ sobre a crise na Europa é espetacular.

      Além disso, é necessário ler as revistas chaves do império como National Interest, Foreign Affairs e Chatham House. Think Tanks russos como Valdai Club, RUSSTRAS. Jornalistas independentes como Pepe Escobar, Elijah Magnier entre outros. Tudo isso nos leva a fazer uma leitura do mundo, que não é única, mas nos permite uma a interpretação e uma expectativa de ação no mundo.

      Não deixa de ser engraçado que fazendo eco ao discurso liberal ocidental, percebemos a prática de traduzir as mudanças tectônicas no mundo atual, com uma linguagem característica da primeira metade do século XX. Como nos lembra Alysson Mascaro, que sofre uma tentativa de cancelamento pelos identitários, muitos deles a soldo do Tio Sam, as noções de Direita e Esquerda se deu pelo fato que os representantes das diferentes forças políticas sentarem à esquerda ou à direita do presidente da Assembléia Nacional sa. Representavam e representam posições em um diálogo, nem sempre fraterno. Há os que justificam a Frente Ampla que governa o Brasil, tendo por referência a ascensão de Adolf Hitler na Alemanha, fruto entre outras, da incapacidade de diálogo entre o SPD e os comunistas.

      No pós 1945, os EUA lideraram a construção de um sistema internacional por meio do qual  realizavam sua hegemonia. É nesse quadro que nasceram instituições como o Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, a ONU, OMS, Conselho de Direitos Humanos, Tribunal Penal Internacional,  Organização Mundial de Comércio, entre outras. Para mim, a ONU nasce ancorada em um crime: a partição da Palestina e sua entrega aos sionistas para construção de um Estado etnico, colonial e racista.  

      O problema foi que após o fim da Guerra Fria, os EUA se viram como única superpotência, e ou a desmontar paulatinamente todas as instituições multilaterais, para fazer o que quisessem. Ou seja, o Direito Internacional, baseado na Carta da ONU foi substituído pela tal “ordem internacional baseada em regras". Donald Trump não começou isso, mas Bill Clinton, Bush filho, Obama e Joe Sleep Biden. Trump é apenas a expressão de um imperialismo estadunidense sem máscaras que busca deter o declínio da hegemonia dos EUA. Conseguirá? Não sabemos. 

      Todo esse debate produz uma série de termos que por meio dos quais os atores agem no mundo. É inegável, que a globalização econômica se construiu articulada a uma dimensão ideológica, o multiculturalismo e o império dos direitos humanos. Nele, o elogio à diferença, publicizada por toda mídia ocidental, é uma atualização de movimentos legítimos em defesa der direitos, por natureza anti-sistema, transformados em política de representação, de istração da diferença. É isso que chamou-se em "Woke Culture", cujo objetivo prático é a pasteurização das culturas nacionais. O próprio direito internacional abandona as grandes questões que dizem respeito ao diálogo e o respeito à soberania das nações para focar-se em temas individualistas como gênero e discriminações. O Ocidente Coletivo durante os últimos trinta anos arroga o direito de apontar seu dedo sujo para os outros como agressores, violadores de direitos humanos e autocratas.

      Essas elites corporativas, tão bem representadas pelo Partido Democrata, pelo Partido Único Europeu (seja ele popular, socialista, liberal ou verde) projetavam um governo global, por meio de ONGs, super empresas e entidades multilaterais, nos últimos anos, têm sido questionadas por governos soberanistas, como Rússia, China, Sérvia, Hungria, Eslováquia, Turquia, Irã, Burkina Faso, Níger e Mali, entre outros. Na defesa de seus  interesses nacionais, rapidamente identificam como fundamental o enfrentamento dessa cultura identitária, na qual se misturam ambientalistas, antirracistas, feministas, particularismos e grupos LGBT. 

      O Banco Mundial recentemente recusou-se a financiar projetos do governo sul-africano, porque, finalmente, Cyril Ramaphosa fez aprovar uma lei moderada voltada para expropriação de parte dos 87% das terras férteis controladas por brancos que correspondem a apenas 7,7% da população . Ou a ameaça do FMI de negar empréstimos no valor de 3 bilhões de dólares ao Governo de Gana, por sancionar uma lei contra as pautas LGBT.

      Transformados em item do menu das relações internacionais, as elites europeias cada vez mais distantes dos anseios de suas populações, tomam os partidos que tendem a agregar esse cansaço de seus povos como agrupações de extrema-direita ou neofascistas. Contra as quais toda a sorte de manipulações são efetivadas. O partido da guerra ocidental nos convida a cerrar fileiras contra as agremiações que são anti-guerra, anti-woke e  favor da soberania dos seus Estados.  

      Do ponto de vista geopolítico, nos termos anglossaxônicos, a vitória da AfD na Alemanha pode significar a ruptura de uma estratégia de dominação ocidental, na medida que teríamos uma nova elite dispostas a tirar a Alemanha da OTAN, a formular a normatização com a Federação Russa,  promovendo (porque não?), o renascimento da Eurásia e a libertação da Europa da City de Londres e Nova York e seu eterno desejo de controlar o coração da terra. 

      Na contramão, vemos a burocracia de Bruxelas liderar a quarta tentativa de revolução colorida na Geórgia, o cancelamento do primeiro turno das eleições na Romênia, o golpe  na Moldávia,  bem como a invisibilização dos movimentos anti-UE na Bulgária e a revolta popular na Grécia. 

      Para além de um discurso que nos faz confrontar democracia a autoritarismo, avanços civilizatório/woke culture versus culturas nacionais/conservadoras, deveríamos focar na luta sem tréguas contra o imperialismo e em defesa dos direitos da classe trabalhadora. É fundamental, arrancar da pauta da esquerda todos os temas herdados do imperialismo dos direitos humanos do Partido Democrata, combater o sequestro da sociedade civil brasileira pelas ONGs, financiadas com recursos estrangeiros, principalmente, pelas fundações estadunidenses e fundos privados como a Open Society.  Mas fundamentalmente, envolver-se sem medo no debate cultural, na educação e na mobilização popular.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].

      ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

      Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

      Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

      Cortes 247

      Carregando anúncios...
      Carregando anúncios...