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      Alastair Crooke

      Ex-diplomata britânico, fundador e diretor do Conflicts Forum.

      37 artigos

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      Por que o ‘Fazedor de Acordos [i.e. Negócios]’ não fecha o acordo [i.e. negócio]?

      Esta transformação de Trump nos EUA foi concebida para ser reconstruída sob o lema “America First”

      Presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca, em Washington - 28/04/2025 (Foto: REUTERS/Leah Millis)

      Publicado originalmente por Strategic-Culture em 5 de maio de 2025

      A estória, tanto na Ucrânia quanto no Irã, é que o presidente Trump quer um "acordo" [aka negócio] – e ambos os acordos estão disponíveis –, mas mesmo assim ele parece ter se encurralado. Trump apresenta o seu governo como algo mais rude, mais duro e muito menos sentimental. Aparentemente, aspira emergir também como algo mais centralizado, coercitivo e radical.

      Na política interna, pode haver alguma verdade nessa categorização do ethos trumpista. Na política externa, porém, Trump vacila. A razão não é clara, mas o fato ofusca as suas perspectivas nas três áreas vitais para a sua aspiração de ser um "pacificador" – Ucrânia, Irã e Gaza.

      Embora seja verdade que o verdadeiro mandato de Trump derivou do descontentamento econômico e social desenfreado, e não da sua autoproclamada imagem de pacificador, os dois principais objetivos da política externa continuam importantes para manter o impulso adiante.

      Uma possível resposta é que, em negociações externas, o presidente precisa de uma equipe experiente e bem fundamentada para apoiá-lo. E ele não tem isso.

      Antes de enviar o seu enviado Witkoff para conversar com o presidente Putin, o general Kellogg, ao que parece, apresentou a Trump uma proposta de armistício no estilo de Versalhes: uma visão da Rússia encurralada (ou seja, o plano foi moldado em termos mais apropriados para uma capitulação russa). A proposta de Kellogg também implicava que Trump estaria fazendo um "grande favor" a Putin – condescendendo em oferecer-lhe uma escada para descer do galho ucraniano em que estava. E essa foi exatamente a linha que Trump adotou em janeiro:

      Tendo afirmado que a Rússia perdeu um milhão de homens (na guerra), Trump prosseguiu dizendo que "Putin está destruindo a Rússia por não fechar um acordo". Ele ainda afirmou que a economia russa estava em "ruínas" e, mais notavelmente, disse que consideraria impor sanções ou tarifas à Rússia. Em uma postagem posterior no seu website Truth Social, ele escreveu: "Vou fazer à Rússia – cuja economia está falhando – e ao presidente Putin um grande FAVOR".

      O presidente – devidamente instruído por sua equipe – pode ter imaginado que ofereceria a Putin um cessar-fogo unilateral e, voilà, teria um acordo rápido em seu crédito.

      Todas as premissas nas quais o plano Kellogg se baseava (a vulnerabilidade da Rússia a sanções, as enormes perdas humanas e a guerra em ime) eram falsas. Ninguém da equipe de Trump fez a devida diligência sobre a estratégia de Kellogg? Parece que (preguiçosamente) tomaram a Guerra da Coreia como modelo, sem considerar devidamente se era apropriado ou não.

      No caso coreano, o cessar-fogo ao longo de uma Linha de Conflito precedeu as considerações políticas, que vieram apenas depois. E que permanecem em andamento – e não resolvidas – até hoje.

      Ao lançar demandas prematuras por um cessar-fogo imediato durante as conversas com autoridades russas em Riad, Trump conseguiu uma rejeição. Primeiro, porque a Equipe Trump não tinha um plano concreto para implementar um cessar-fogo, presumindo simplesmente que todos os detalhes poderiam ser resolvidos post-hoc. Em suma, foi apresentado a Trump como uma "vitória rápida".

      Só que não foi.

      O resultado estava pré-determinado – o cessar-fogo foi recusado. Isso não deveria ter sido permitido acontecer, com um trabalho competente da equipe. Nenhum membro da equipe de Trump estava ouvindo desde 14 de junho do ano ado, quando Putin deixou muito clara a posição russa sobre um cessar-fogo? E que tem sido repetida regularmente desde então. Aparentemente, não.

      Mesmo assim, quando o enviado de Trump, Witkoff, retornou de uma longa reunião com o presidente Putin para relatar a explicação pessoal e detalhada deste sobre por que um quadro político deve preceder qualquer cessar-fogo (diferentemente da Coreia), o relato de Witkoff supostamente foi recebido com a resposta seca de Kellogg: "os ucranianos nunca concordariam".

      Fim da discussão, aparentemente. Nenhuma decisão foi tomada.

      Vários outros voos para Moscou não alteraram a situação básica. Moscou aguarda evidências de que Trump seja capaz de consolidar a sua posição e assuma o controle da situação. Mas até lá, Moscou está pronta para facilitar uma "aproximação de posições" – mas não aprovará um cessar-fogo unilateral. (E nem Zelensky).

      O enigma aqui é por que Trump não corta o fluxo de armas e inteligência dos EUA para Kiev e diz aos europeus para saírem do seu caminho? Kiev tem algum tipo de poder de veto? A equipe de Trump não entende que os europeus simplesmente esperam perturbar o objetivo de Trump de normalizar as relações com a Rússia? Eles devem entender.

      Parece que o "debate" (se é que se pode chamar assim) na Equipe Trump em grande parte excluiu fatores da vida real. Ocorreu em algum nível normativo elevado, onde certos fatos e verdades são simplesmente presumidos.

      Talvez o fenômeno dos Sunk Costs (custos irrecuperáveis) tenha pesado muito – quanto mais você continua com um curso de ação (por mais estúpido que seja), menos disposto você está a mudá-lo. Mudar seria interpretado como itir um erro – e itir erros é o primeiro estágio para perder o poder.

      E há um paralelo com as conversas com o Irã.

      Trump tem uma visão de um acordo negociado com o Irã que alcançaria seu objetivo de "nenhuma arma nuclear iraniana" – embora o objetivo em si seja uma tautologia, dado que a comunidade de inteligência dos EUA já determinou que o Irã NÃO tem uma arma nuclear.

      Como você impede algo que não está ocorrendo? Bem, "intenção" é um conceito extremamente difícil de delimitar. Então, a equipe volta ao básico: à doutrina firme da Rand Corporation de que não há diferença qualitativa entre o enriquecimento de urânio para fins pacíficos e para fins bélicos. Portanto, nenhum enriquecimento deve ser permitido.

      Só que o Irã tem enriquecimento – graças à concessão de Obama como parte do JOA, que permitiu isso, sujeito a limitações.

      Muitas ideias estão circulando sobre como resolver esse ime – entre a recusa do Irã em abandonar o enriquecimento e o ditame de Trump de "nenhuma capacidade" de militarização. Nenhuma das ideias é nova: importar material já enriquecido para o Irã; exportar o urânio altamente enriquecido do Irã para a Rússia (algo já feito como parte do JOA); e ter a Rússia construindo a capacidade de energia nuclear do Irã para abastecer a sua indústria. O problema é que a Rússia já está fazendo isso também. Tem uma usina em operação e outra em construção.

      Israel, naturalmente, também tem as suas próprias propostas: erradicar toda a infraestrutura de enriquecimento iraniana e sua capacidade de produção de mísseis.

      Só que o Irã jamais concordará com isso.

      Então, a escolha é entre um sistema de inspeção e vigilância técnica reforçado em um acordo semelhante ao JOA (o que não deixará Israel nem a liderança institucional pró-Israel felizes) ou uma ação militar.

      O que nos leva de volta à Equipe Trump e às divisões internas no Pentágono.

      Pete Hegseth enviou a seguinte mensagem ao Irã, postada em sua conta nas redes sociais:

      "Vemos o seu apoio LETAL aos Houthis. Sabemos exatamente o que vocês estão fazendo. Vocês sabem muito bem do que o Exército dos EUA é capaz – e foram avisados. Vocês pagarão as CONSEQUÊNCIAS no momento e local de nossa escolha".

      Claramente, Hegseth está frustrado. Como Larry Johnson observou:

      "A equipe de Trump tem trabalhado sob [outra] falsa suposição de que o pessoal de Biden não fez um esforço sério para destruir o arsenal de mísseis e drones dos Houthis. Os trumpistas acreditavam que poderiam bombardear os Houthis até a submissão. Em vez disso, os EUA estão demonstrando a todos os países da região os limites do seu poder naval e aéreo... Apesar de mais de 600 missões de bombardeio, os Houthis continuam lançando mísseis e drones contra navios dos EUA no Mar Vermelho e alvos dentro de Israel".

      Assim, a Equipe Trump mergulhou primeiro em um conflito (Iêmen) e, em segundo lugar, em uma negociação complexa com o Irã, novamente sem fazer a sua lição de casa sobre o Iêmen. Isso se deve novamente ao groupthink?

      "Em uma situação de incerteza como a atual, a solidariedade a a ser vista como um fim em si mesmo, e ninguém quer ser acusado de 'enfraquecer o Ocidente' ou 'fortalecer o Irã'. Se você tem que estar errado, melhor estar errado na companhia de tantos outros quanto possível".

      Israel deixará isso ar? Está trabalhando arduamente com o general Kurilla (o general dos EUA no comando do CENTCOM) no bunker sob o Departamento de Defesa de Israel – preparando planos para um ataque conjunto ao Irã. Israel parece muito interessado no seu trabalho.

      No entanto, o obstáculo fundamental para alcançar um acordo com o Irã é mais crucial – pois, como atualmente concebido, a abordagem dos EUA às negociações quebra todas as regras sobre como iniciar um tratado de limitação de armas.

      Por um lado, há Israel com uma tríade de sistemas de armas nucleares e capacidades de entrega: submarinos, aeronaves e mísseis. Israel também ameaçou o uso de armas nucleares – recentemente em Gaza e antes, durante a primeira guerra do Iraque, em resposta à capacidade de mísseis Scud de Saddam Hussein.

      O princípio ausente aqui é qualquer mínimo de reciprocidade. Diz-se que o Irã ameaça Israel – e Israel regularmente ameaça o Irã. E Israel, é claro, quer o Irã neutralizado e desarmado, enquanto insiste em permanecer intocado (sem TNP, sem inspeções da AIEA, sem reconhecimento).

      Os tratados de limitação de armas iniciados por JFK com Khrushchev surgiram de uma negociação recíproca bem-sucedida, na qual os EUA retiraram os seus mísseis da Turquia antes que a Rússia removesse os seus de Cuba.

      Deve estar claro para Trump e Witkoff que uma proposta tão desequilibrada como a deles para o Irã não tem relação com as realidades geopolíticas – e, portanto, provavelmente fracassará (cedo ou tarde). Assim, a Equipe Trump está se encurralando em uma ação militar contra o Irã – que eles então terão de assumir.

      Trump não quer isso; o Irã não quer isso. Então, isso foi pensado adequadamente? A experiência no Iêmen foi totalmente considerada? A Equipe Trump considerou alguma saída alternativa?

      Uma saída criativa para o dilema – e que poderia restaurar pelo menos alguma aparência de um exercício clássico de tratado de limitação de armas – seria Trump sugerir a ideia de que agora é a hora de Israel aderir ao TNP e ter as suas armas inspecionadas pela AIEA.

      Trump fará isso? Não.

      Então, torna-se óbvio o porquê.

      Esta transformação de Trump nos EUA foi concebida para ser reconstruída sob o lema “America First”.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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