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      Sara Goes

      Sara Goes é âncora da TV247, comunicadora e nordestina antes de brasileira

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      Pepe Mujica e o direito ateu de chorar

      "A morte de Mujica autoriza o choro dos que não rezam", escreve Sara Goes

      05.12.2024 - Presidente Luiz Inácio Lula da Silva concede a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul ao ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica, em Montevidéu, Uruguai. (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

      Pepe Mujica morreu no dia 13 de maio de 2025, aos 89 anos. Sabíamos da doença, sabíamos que ele havia recusado seguir com os tratamentos, sabíamos que o tempo era curto e ainda assim doeu. Porque há pessoas que mesmo quando não creem em nada continuam sendo faróis. Faróis humanos. Dos que não prometem o céu, mas acendem o chão.

      Pepe foi guerrilheiro, preso político, presidente, ministro, agricultor, filósofo de botina. Morava numa chácara simples, dirigia um Fusca 87 e doava a maior parte do salário. Defendeu o aborto legal, o casamento igualitário, legalizou a maconha, e tudo isso sem levantar a voz. Um homem laico, coerente, radicalmente comprometido com a dignidade humana. Um homem bom.

      É justamente nessas horas que ressurge o velho recurso, tão desgastado quanto desleal, de elogiar ateus por contraste. Como se fosse necessário medir virtudes na régua dos fiéis, como se a bondade precisasse ser legitimada por equivalência religiosa. Mujica jamais precisou desse tipo de chancela. E nós, tampouco.

      Lembrei do meu pai que, quando adoeceu, me pediu para avisar os amigos, organizar os horários da despedida, preparar as últimas visitas. Eu dedicava a tardes a ligar, responder mensagens, explicar o diagnóstico, combinando com gentileza a chance de se despedirem. Não houve milagres, mas houve lucidez. E houve amor. Um amor ateu, desses que não precisam de promessa alguma para continuar existindo.

      A morte de Mujica autoriza o choro dos que não rezam. Não por contradição, mas por coerência. A gente chora o que é grande. E ele foi. Com leveza, com doçura, com a grandeza de quem viveu como pensava, sem ostentação, sem espetáculo, sem idolatria. E até nisso deixou um ensinamento: há beleza na saída quando a vida foi inteira.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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