Palestina: Da Nakba à atual guerra de extermínio
A Nakba palestina completa 77 anos em meio a uma guerra de extermínio na Faixa de Gaza
A Nakba palestina completa 77 anos em meio a uma guerra de extermínio na Faixa de Gaza, sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial.
É importante ressaltar que o intervalo entre esses dois grandes eventos não foi, senão, uma sucessão de massacres, desenraizamentos, deslocamentos, guerras, invasões, tomada de mais terras e expulsão de mais povos indígenas.
Nem aqueles que mantiveram suas terras escaparam dos massacres, nem aqueles que foram forçados a fugir e buscar refúgio conseguiram viver uma vida normal nos países de asilo e diáspora.
A Nakba destruiu o tecido do povo palestino, mas não o matou nem extinguiu seu senso de pertencimento à terra natal, que foi fragmentada em três partes, distribuídas entre Israel, Egito e Jordânia.
Contudo, esse povo teimoso logo retornou ao campo de batalha após 1965, armado com um espírito de desafio, resistência, firmeza e esperança.
O erro cometido por palestinos e árabes foi acreditar que havia possibilidade de coexistência com o colonialismo racista de assentamento, representado por Israel como uma base funcional avançada para todos os estados coloniais.
As lideranças árabes — e, posteriormente, palestinas — acreditaram na viabilidade de uma solução pacífica honrosa, chamada de “paz dos bravos”, e de recuperar, senão todos, ao menos a maioria de seus direitos por meio de negociações e concessões.
Os fatos dos últimos 77 anos provaram que a mentalidade sionista permanece firme em seus objetivos estratégicos: tomar toda a Palestina e expulsar a esmagadora maioria de sua população — se não de uma só vez, então em etapas.
É por isso que, quando a entidade declarou independência, na noite de 14 de maio de 1948, não definiu as fronteiras do Estado nem redigiu uma constituição — como é axioma em qualquer constituição delimitar a geografia estatal.
Ben-Gurion confirmou isso em sua famosa declaração sobre os motivos para não especificar as fronteiras:
"Suas fronteiras são onde as botas das IDF chegam."
Na busca por seus objetivos, Israel adotou três caminhos principais, integrados e interconectados: guerras, grandes e pequenas; massacres, incluindo liquidações e assassinatos; e a tomada de terras. Tentaremos fornecer exemplos para ilustrar.
Primeiro — Guerras
A máquina de guerra sionista não cessou após 1948, mas continuou a inflamar pólvora por toda a região. Entre essas guerras estão:
- a participação na Agressão Tripartite contra o Egito, em 1956;
- a Guerra de Junho de 1967, iniciada por Israel, que resultou na ocupação da Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, das Colinas de Golã, na Síria, e do Sinai, no Egito;
- a Guerra de Atrito com o Egito, de meados de 1968 a meados de 1970;
- a Guerra do Ramadã, em 1973, nas frentes síria e egípcia, que transformou uma vitória militar israelense em uma grande derrota política, após o Egito retirar-se do conflito e o primeiro tratado de paz com Israel, rompendo a unidade com o maior país árabe.
Em 1982, Israel travou uma guerra no Líbano, chegando a Beirute. No entanto, foi forçado a recuar gradualmente, mantendo apenas uma faixa de fronteira como zona de segurança, até ser compelido a uma retirada humilhante em 2000.
Depois vieram os anos da Primeira Intifada (1987–1993) e da Segunda Intifada (2000–2005), marcados por massacres. Em 2002, Ariel Sharon reocupou diversas cidades palestinas que haviam sido evacuadas após a dos Acordos de Oslo, em 1993.
Na frente libanesa, Israel travou ainda a guerra de 2006 contra as forças do Hezbollah no sul do Líbano, um conflito que durou 33 dias.
Segundo — Guerras em Gaza
Desde 2006 até os dias atuais, a Faixa de Gaza tem sido submetida a uma série quase contínua de guerras, começando com a Operação Nuvens de Outono, em Beit Hanoun, em novembro de 2006, após a captura do soldado Gilad Shalit.
Outras ofensivas incluem:
- Operação Chumbo Fundido (27 de dezembro de 2008 a 18 de janeiro de 2009);
- Operação Pilar de Defesa (14 a 22 de novembro de 2012);
- Operação Borda Protetora (7 de julho a 26 de agosto de 2014);
- os confrontos da Grande Marcha do Retorno (2018–2019);
- a Batalha da Espada de Jerusalém, em maio de 2021;
e, por fim, os acontecimentos que culminaram em 7 de outubro de 2023.
Terceiro — Massacres, assassinatos e ataques
Israel não cessou a prática de massacres — não apenas durante a guerra de 1948, como nos casos de Deir Yassin, Tantura, Ad-Dawayima, Lod e outros —, mas também após a declaração de estabelecimento do Estado. A lista é extensa. Entre os episódios, destacam-se:
- o massacre de Qibya, na Cisjordânia, em 1953;
- o massacre de Kafr Qasim, em 1956;
- o massacre de As-Samu, em 1966;
- o massacre de Bahr al-Baqar, no Egito, em abril de 1970;
- o massacre de Sabra e Shatila, entre 16 e 18 de setembro de 1982;
- o massacre de Hammam al-Shatt, na Tunísia, em outubro de 1985;
- o primeiro massacre de Qana, em 1996, e o segundo, em 2006, ambos no sul do Líbano;
- e o massacre do campo de Jenin, em 2002.
A esses eventos somam-se centenas de ataques, assassinatos e destruição de instalações, como a demolição do complexo nuclear iraquiano em setembro de 1981.
Quarto — Apreensão de terras
Israel também não cessou o confisco de territórios — seja na Cisjordânia e em Jerusalém, após 1967, seja pela tomada de várias aldeias no sul do Líbano desde 1948 e a anexação oficial das Colinas de Golã, em 1981.
Quanto aos assentamentos na Cisjordânia e em Gaza (até 2005), eles continuaram a se expandir até os dias atuais, sendo que Israel controla, de fato, mais da metade das terras da Cisjordânia. Caso venha a anexar a Área C — que constitui 60% da Cisjordânia —, tornará inviável qualquer projeto de criação de um Estado palestino, objetivo que Israel parece buscar de forma deliberada e contínua.
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